Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo – 2022

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Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo – 2022

1 – Finalizamos e coroamos o ano litúrgico com a solenidade de Nosso Senhor Jesus Rei do Universo. O Evangelho deste ano coloca-nos junto à Cruz de Jesus, com a zombaria dos chefes dos judeus, dos soldados e de um dos malfeitores crucificado na mesma ocasião. As expressões são bastante elucidativas: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito»; «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». O próprio letreiro colocado por cima da cabeça de Jesus, no alto da Cruz, sublinha também a realeza de Jesus: «Este é o Rei dos judeus».

Um dos malfeitores, que designamos como “mau ladrão”, mesmo estando em situação idêntica, vocifera: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». O outro, que designamos como “bom ladrão” repreende-o, reconhecendo a própria culpa, bem como do parceiro de malvadez, no contraste com a inocência de Jesus Cristo: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más ações. Mas Ele nada praticou de condenável».

O bom ladrão volta-se então para Jesus e suplica: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Enquanto vivemos, todos os momentos contam, todas as circunstâncias são favoráveis para acolher a misericórdia do Senhor: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».

2 – A realeza preconizada por Jesus é uma realeza de amor, de serviço e de perdão. A Sua coroa é de espinhos, pejada dos nossos pecados, dos nossos sofrimentos, dos nossos desencontros e desentendimentos. É uma soberania para harmonizar a humanidade, para humanizar o mundo, para salvar e redimir os corações feridos pelas trevas e pelas tempestades.

Na Cruz está Jesus, estás tu e estou eu, pois foi por nós que Ele foi até ao fim. Estamos na Cruz com Jesus. Estamos na Cruz com os malfeitores! Mau ladrão seremos sempre que fecharmos o nosso coração e a nossa vida às necessidades dos irmãos, quando o nosso olhar e os nossos gestos não expressam ternura e bondade. Bom ladrão seremos sempre que nos deixarmos transformar pela misericórdia do Senhor, sempre que abrimos a nossa vida para que Deus traga vida à nossa vida e nos envolva com o Seu amor infindo.

Qual a nossa opção? De que lado queremos ficar? Quantas vezes encarnamos o mau ladrão, zombando dos outros ou sendo indiferentes aos seus sofrimentos? Em que situações fomos o bom ladrão, reconhecendo a nossa fragilidade, a nossa indiferença, a nossa arrogância?

Prontos para crucificarmos o nosso egoísmo, a nossa soberba e autossuficiência? Prontos a seguir Jesus até à Cruz?

3 – A nossa identidade, o nosso caminho é seguir Jesus, não tanto para a Cruz, mas na peugada do serviço, da ternura e do amor. A Cruz remete-nos para o amor que nos precede, o amor de Deus. Não é a cruz que procuramos, mas o amor, ou, dito de outra forma, procuramos Aquele que por amor Se deixou crucificar.

A cruz de Cristo é salvação, é a soberania do amor, da humildade, da compaixão. O reino de Deus chegou até nós, em plenitude, em Jesus Cristo, e continua a aprofundar-se por ação do Espírito Santo. Para sermos partícipes deste reino, cabe-nos, como o bom ladrão, olhar para Jesus e para a Sua oferenda por nós. O Bom Ladrão, no último momento, pôde escolher Jesus, pôde segui-l’O para a eternidade, para o Paraíso. Também nós estamos a tempo. Não sabendo a hora, pode ser este o instante derradeiro para voltarmos o nosso olhar para Jesus e nos deixarmos salvar por Ele.

Hoje estarás Comigo no Paraíso! Este é um convite para cada um de nós. Deus não Se impõe, não nos obriga. Está nas tuas e nas minhas mãos acolher a Sua vontade, procurando agir de igual modo. Ele guia-nos, Ele ilumina-nos com a Sua palavra, com a Sua vida. Jesus é o caminho que nos conduz ao Paraíso experimentável no bem e na paz que contruímos já neste mundo. O reino de Deus é dos pequeninos e dos pobres, dos humildes e puros do coração, dos que buscam a paz e usam como armas a misericórdia e o perdão, a benevolência e o serviço.

A oração, sincera, coloca-nos em sintonia com os desígnios divinos. Procuremos agir em conformidade com o que pedimos: “Deus todo-poderoso e eterno, que no vosso amado Filho, Rei do universo, quisestes instaurar todas as coisas, concedei propício que todas as criaturas, libertas da escravidão, sirvam a vossa majestade e Vos glorifiquem eternamente”.

4 – A realeza de David, pela durabilidade, pela paz e harmonia entre as diversas tribos, com uma organização inteligente e forte, defendendo o povo dos ataques das nações vizinhas, ficará para sempre como nostalgia, na expectativa que novamente seja restaurada.

A primeira leitura apresenta-nos o pedido que as tribos de Israel fazem a David: «Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel’».

É desta forma que é selada uma aliança, entre todos os anciãos de Israel e David, que é ungido como rei de Israel (reino do Norte), depois de já o ser de Judá (reino do Sul).

O rei David unifica os dois reinos. Um pastor que se torna rei, um rei que procura apascentar o povo do Senhor. Deus revela-lhe, através do profeta, que dele nascerá o Messias e um reino justo que não terá fim. David é a promessa que se cumpre em Jesus, seu descendente, com um reino de amor, de pobreza, de serviço, pois Ele vem como quem serve, gastando-Se inteiramente a favor de todos.

5 – O rei David une dois reinos, cria laços entre as doze tribos, para uma unidade nacional, política, cultural e religiosa. Jesus reúne todas as tribos, povos e nações, ao reino de Deus. Jesus morre por todos, por mim e por ti e por cada pessoa.

O apóstolo, na segunda leitura, sublinha que Deus «nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar»

As categorias “reino” e “todos” está em clara evidência. N’Ele foram criadas todas as coisas. E acentua Paulo: «Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus».

A soberania de Jesus alicerça-se no amor, na humildade, no dar a vida por todos, sem reservas nem condições nem condicionantes. Em contraponto, não é um reino construído com violência e sustentado pela riqueza nem pela força, a segurança não vem de um exército bem armado. O reino é preenchido de pobreza, despojamento, altruísmo, solidariedade, é feito de ternura e de bondade. Nada se impõe, tudo é desafio e proposta.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): 2 Sam 5, 1-3; Sl 121 (122); Col 1, 12-20; Lc 23, 35-43.