Domingo I da Quaresma – ano C – 2025

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Domingo I da Quaresma – ano C – 2025

1 – O primeiro domingo da QUARESMA apresenta-nos a tentação, a provação e a maturidade da fé que, alimentada pela oração e pela palavra de Deus, supera os limites da nossa fragilidade humana.

Jesus mostra que em todo o tempo sobrevém a intimidade com Deus, a força do Espírito Santo. Nos momentos cruciais, Ele retira-Se para rezar, para Se encontrar conSigo, no encontro e comunhão íntima com o Pai, deixando-se inspirar pelo Espírito Santo.

O Espírito presente à hora do Batismo, guia-O ao deserto e do deserto para a cidade dos homens. “Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo”. A vida de Jesus assenta no cumprimento da vontade de Deus. Nas situações mais delicadas afasta-Se para que a intensidade do AMOR do Pai firme as Suas escolhas e torne luminosa a Sua missão.

No deserto, onde o clima é desfavorável, onde se manifesta em demasia o calor e o frio e sobretudo a solidão, Jesus não está só. Nós não estamos sós nos desertos da nossa vida que nos fragilizam. O Espírito de Deus está com Ele. E está connosco. Quando mais precisarmos, mais intensa terá de ser a nossa oração, para sentirmos mais visível o amor e a força de Deus.

2 – As tentações de Jesus resumem e assumem as nossas tentações do egoísmo, do poder, do milagre em benefício próprio.

Tendo assumido a nossa fragilidade e finitude, Jesus experimenta momentos de desencanto, de solidão, de deserto, de cansaço. Nem tudo corre como esperado. Humanamente quando as expectativas são defraudas poderá advir a revolta e o querer alterar rapidamente as coisas, usando de outro poder.

Às tentações – «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão… Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu… Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’» –, Jesus responde com a Palavra de Deus, animado com a força do Espírito, para cumprir a vontade de Deus e não a própria, ou a vontade das vozes que O rodeiam.

O caminho nem sempre é fácil, mas é verdadeiramente importante procurar assumir as dificuldades como provações que sustentam as escolhas e fortalecem a fé. A opção de Jesus leva-O a usar o Seu poder como serviço aos outros. Por ora não transforma as pedras em pão, mas há de transformar a água em vinho. Por ora não se atira do alto do Templo, mas logo será o Templo de Deus para nós, n’Ele encontrar-nos-emos com Deus. Por ora não se curvará diante do poder, mas logo usará o poder do AMOR para nos redimir, dando-nos todo o Reino de Deus, de uma vez para sempre.

3 – Na sua mensagem para esta Quaresma, o santo Padre, o Papa Francisco, desafia-nos a caminhar juntos na esperança de uma promessa, no contexto do Jubileu 2025. “Com o sinal penitencial das cinzas sobre as nossas cabeças, iniciamos na fé e na esperança a peregrinação anual da Santa Quaresma. A Igreja, mãe e mestra, convida-nos a preparar os nossos corações e a abrir-nos à graça de Deus para podermos celebrar com grande alegria o triunfo pascal de Cristo, o Senhor, sobre o pecado e a morte, como exclamava São Paulo: «A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» (1Cor 15, 54-55). Realmente, Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é o centro da nossa fé e a garantia da nossa esperança na grande promessa do Pai, já realizada n’Ele, Seu Filho amado: a vida eterna (cf. Jo 10, 28; 17, 3).

Partindo da mensagem papal, o nosso Bispo, D. António, guia-nos do caminhar juntos na esperança ao compromisso da conversão e da caridade. “E então facilmente veremos que há tanta coisa para mudar no nosso dia-a-dia. Em vez de murmurar, podemos dialogar; em vez de tons ameaçadores, podemos articular palavras e gestos amáveis; em vez de olharmos só para nós e para os nossos interesses, podemos ver também as necessidades dos nossos irmãos. E, sobretudo, podemos perdoar, partilhar, rezar. Assim, ao sabor de uma esperança nova, podemos juntos ensaiar uma nova fraternidade”. E, prossegue, dizendo que “A Quaresma é, como todos sabemos, um tempo importante para mantermos limpo o nosso olhar, sem traves ou muros, e limpo também o nosso coração, sem raivas ou invejas. É tempo de graça, de oração e conversão. É tempo de reforçar os laços da nossa caridade, que é um exercício que a Igreja nos propõe fazer em cada Quaresma

Viver a fé sem a caridade e sem o compromisso com os irmãos, seria como uma árvore de frutos sem frutos. A Palavra de Deus, acolhida, partilhada e testemunhada, é a primeira e principal obra de caridade. Jesus orienta as Suas respostas pela Palavra de Deus. O Apóstolo da Palavra, são Paulo, incentiva a darmos testemunho da nossa fé, comunicando o Evangelho:

“Que diz a Escritura? «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração». Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação… Não há diferença entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que O invocam”.

Pela fé em Jesus todos somos filhos e herdeiros, todos somos irmãos. E todos temos a mesma missão de viver ao jeito de Jesus Cristo, dando-O a todos aqueles que se cruzam connosco.

4 – Inseridos neste tempo que corre, e num mundo onde fervilham dificuldades, tentações, conflitos, guerra de interesses, egoísmos vários, a Quaresma é uma oportunidade renovada de pensarmos a nossa fé, enraizada na comunidade crente, tornando-a expressiva pela prática do bem.

Oração, penitência, jejum, esmola, instrumentos que recentram a nossa pertença a Deus e a nossa ligação aos outros. A oração faz-nos reconhecer os outros como irmãos.

Na primeira leitura, Moisés testemunha o favor de Deus manifesto na oração e palpável na história do povo: «Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro até se tornar uma nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos e sujeitaram-nos a dura escravidão. Então invocámos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel. E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra que me destes, Senhor».

É na intimidade com Deus que Jesus lida com as tentações. A oração é o alimento primeiro e essencial para a fé. Por conseguinte, em tempo de Quaresma, preparação para o maior mistério cristão, a oração deverá ser mais diligente. Quando rezamos fortalecemos a nossa fé e, consequentemente, os laços que nos unem aos irmãos.

O jejum vale enquanto nos sensibiliza para a caridade, que nasce da oração, da fé, da vivência da Palavra de Deus.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano C): Deut 26, 4-10; Rom 10, 8-13; Lc 4, 1-13.