Domingo I do Advento – ano A – 2022

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Domingo I do Advento – ano A – 2022

1 – «Despertai, Senhor, nos vossos fiéis a vontade firme de se prepararem, pela prática das boas obras, para irem ao encontro de Cristo, de modo que, chamados um dia à sua direita, mereçam alcançar o reino dos céus».

Desta forma iniciamos a Eucaristia e o tempo santo do Advento, novo ano litúrgico, ocasião para avivarmos a nossa fé, deixando-nos envolver pelo mistério da encarnação. Deus faz-Se do nosso tamanho, apesar da Sua grandeza, faz-Se homem, sem deixar a Sua divindade, vem morar connosco, para nos desafiar a viver e a alimentar-nos da Sua vida. A vinda de Cristo convoca-nos a deixar-nos visitar pelo amor de Deus.

Na vivência da nossa fé, a espera não é passiva, não ficamos a aguardar pelo que estará para a acontecer, pois na verdade já aconteceu, Deus encarnou, Jesus viveu entre nós, morreu e ressuscitou e está presente na Igreja e no mundo, pela força e vitalidade do Espírito Santo. Todavia, o ano litúrgico, e particularmente, o ciclo do Advento, faz-nos renovar a nossa fé, a nossa alegria, a nossa esperança por sabermos que Deus vem, e vem, não às prestações, não por intermediários, mas Ele próprio, numa identidade concreta, real, humana. A celebração desta vinda compromete-nos, uma vez mais e sempre, a preparar-nos para O receber no nosso coração, em nossa casa, na nossa vida.

A preparação é também vivência. O caminho faz-nos experimentar a presença amorosa de Deus. Preparamo-nos para acolhermos o Natal de Jesus, preparamo-nos, vivendo, para o nosso encontro definitivo ao Senhor, na eternidade.

2 – Podemos passar pela vida como um vendaval ou uma brisa, sem chama nem fogo, sem deixarmos marcas que durem aqui e para a eternidade. Podemos distrair-nos e perder-nos, e gastar-nos por nada, sem verdadeiramente nos comprometermos com ninguém.

Jesus revisita a vida no tempo de Noé, nos dias que precederam o dilúvio, como parábola ou exemplo do que sucederá na vinda do Filho do homem: «comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou».

Numa linguagem muito concreta, Jesus fala desse DIA que está para vir: «de dois que estiverem no campo, um será tomado e outro deixado; de duas mulheres que estiverem a moer com a mó, uma será tomada e outra deixada».

Atenção, nesta como em outras passagens, Jesus não anuncia um desfecho catastrófico, mas sobretudo um dia, um tempo, uma oportunidade que pode ser aguardava, esperada e preparada, ou mesmo antecipada. Não sabendo o dia, não precisamos de ter medo, tão somente precisamos de viver, de gastar as fichas todas, dando o melhor de nós mesmos, em prol dos outros e na construção de um mundo justo, fraterno e pacífico, solidário e saudável. «Vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso, estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem».

O alerta de Jesus serve para todos nós, para não nos distrairmos da vida, nem dos outros, nem perdermos tempo que não seja a fazer render os dons e os talentos que Ele nos dá, em prol de todos.

3 – A visão de Isaías fala-nos desses dias vindouros. Aqui podemos vislumbrar a primeira vinda de Jesus Cristo, na encarnação e mistério pascal, na vinda sacramental, especialmente na Eucaristia, ou na vinda final, quando instaurar todas as coisas, consumando toda a realidade. Para uma ou outra vinda, cabe-nos viver, amar e servir. Só tem medo (doentio) quem não vive, quem não procurar dar o melhor de si, procurando concretizar os desígnios do Senhor.

Eis o convite para todos: «Vinde, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos e nós andaremos pelas suas veredas. De Sião há de vir a lei e de Jerusalém a palavra do Senhor». Isaías antecipa e visualiza esses tempos abençoados. Ao monte do Senhor, «afluirão todas as nações e muitos povos acorrerão, dizendo: Ele será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão de preparar para a guerra. Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor».

Não é a desgraça que se anuncia, nem o fim como termo e destruição, mas o encontro com o Senhor e a descoberta da paz e da harmonia, da justiça e fraternidade.

4 – São Paulo, por sua vez, desafia-nos a viver o presente como dádiva e como compromisso, acolhendo o reino de Deus e procurando viver, transparecer e testemunhar Jesus Cristo.

São horas, diz-nos o apóstolo, de nos levantarmos do sono, «porque a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé. A noite vai adiantada e o dia está próximo». Aquela pressa com que Maria leva Jesus a casa e à família de sua parenta Isabel. Maria envolve-nos nesta pressa, nesta decisão de ir, de se levantar e partir, com firmeza e leveza, com alegria.

A vida e a missão de Maria, são também a vida e a missão do cristão. Apressemo-nos. Nas palavras do apóstolo, «abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, evitando comezainas e excessos de bebida, as devassidões e libertinagens, as discórdias e ciúmes; não vos preocupeis com a natureza carnal para satisfazer os seus apetites, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo». Paulo concretiza situações que nos fazem distrair do amor e do serviço, do compromisso e caminho para Jesus.

5 – A cidade santa, Jerusalém, não é um sonho a alcançar, como uma cidade a reconstruir, mas uma bela imagem para o caminho que nos cabe fazer, no compromisso permanente pela verdade e pela justiça, pela reconciliação e pela paz, pelo amor e pelo serviço. Em Jerusalém está o templo do Senhor, a casa do nosso Deus, onde todos seremos bem acolhidos, porque todos filhos, todos irmãos em Jesus.

Com efeito, a cidade física continua a existir, local difícil, onde convivem, mal, três religiões, região de contendas, lutas e mortes. Na linguagem bíblica, a cidade de Sião, a Jerusalém celeste, é promessa de Deus que nos salva. Cidade cheia de luz, de amor e de paz. Lugar de encontro e de reencontro de todos com todos, para, em plenitude sermos família de Deus.

«Alegrei-me quando me disseram: ‘Vamos para a casa do Senhor’. Detiveram-se os nossos passos às tuas portas, Jerusalém. / Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor, segundo o costume de Israel, para celebrar o nome do Senhor; ali estão os tribunais da justiça, os tribunais da casa de David. / Pedi a paz para Jerusalém: ‘Vivam seguros quantos te amam. Haja paz dentro dos teus muros, tranquilidade em teus palácios’. / Por amor de meus irmãos e amigos, pedirei a paz para ti. Por amor da casa do Senhor, pedirei para ti todos os bens».

Enquanto não chegamos à cidade santa, caminhemos, com a certeza que Deus caminha connosco, pois é este o mistério da nossa fé, Deus encarnado, em Jesus Cristo, Deus connosco, Deus entre nós. Veio para viver como um de nós, identificando-Se connosco, com as nossas alegrias e tristezas, com as nossas lutas e esperanças, caminhando connosco, para nos ensinar o caminho de “regresso” a esta cidade santa. Porquanto, semeemos o bem, cuidemos uns dos outros e do mundo, deixando-nos guiar pela luz que vem da Jerusalém celeste, a luz do Espírito Santo que nos preenche a partir de dentro, para fazermos as obras do dia, as obras de Deus.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Is 2, 1-5; Sl 121 (122); Rom 13, 11-14; Mt 24, 37-44.