Domingo IV do Advento – ano B – 2023
1 – ACOLHER. Deixarmo-nos surpreender pelo mistério, pela presença de Deus nas nossas vidas, é o desafio para este domingo. Maria não estava à espera. Embora conhecedora das profecias, da Sagrada Escritura, nada lhe indicava que algum dia pudesse ser a escolhida, daí a surpresa: “Como será isso se eu não conheço homem”.
Mas vejamos o desenrolar dos acontecimentos, na Anunciação, pelas palavras do Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres… Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; e o seu reinado não terá fim… O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice porque a Deus nada é impossível».
A reação de Maria interpela-nos. Pergunta porquê, como é possível que se realize tal “milagre”, mas não contesta, encontra-se em atitude de escuta, de acolhimento do mensageiro e da mensagem que chega até ela. Não lhe encontramos desculpas ou falsa modéstia. Mesmo que não entenda tudo, no momento presente, entrega-Se a Deus, abre-Se à Sua graça. É a cheia de graça. Não apenas naquele momento, mas cada dia em que responderá do mesmo jeito: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».
2 – Ao acolher a vocação específica para ser a Mãe do filho de Deus, Ela cumpre, para nós e para a humanidade inteira, os desígnios de Deus, que nos criou por amor, para sermos felizes, termos vida e vida em abundância.
Pelos profetas, Deus vai revelando o Seu projeto de amor e salvação. Somos convidados a fazer em nossa vida a morada de Deus, a acolhê-l´O, na certeza que é Ele que quer fazer a Sua casa em nós, tornar-nos Sua habitação. Quando David intenta construir um Templo para acolher a Arca da Aliança, sinal do pacto entre Deus e o povo, Deus faz saber através do profeta Natã: “O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. Quando chegares ao termo dos teus dias e fores repousar com teus pais estabelecerei em teu lugar um descendente que há de nascer de ti e consolidarei a tua realeza. Ele construirá um palácio ao meu nome e Eu consolidarei para sempre o teu trono real. Serei para ele um pai e ele será para Mim um filho. A tua casa e o teu reino permanecerão diante de Mim eternamente e o teu trono será firme para sempre”.
Nestas palavras se confirma que Deus nunca abandonará o Seu povo, mas reforçará a ALIANÇA e tornará eterno o reino que está para chegar.
Com a anunciação do Anjo a Maria, torna-se mais próximo o cumprimento das promessas feitas por Deus ao Seu povo, a favor da humanidade inteira. Com a vinda de Deus, encarnando no seio da Virgem Mãe, o mistério adensa-se e desvenda-se, ao mesmo tempo.
Diz-nos o Apóstolo São Paulo: “a revelação do mistério encoberto desde os tempos eternos mas agora manifestado e dado a conhecer a todos os povos pelas escrituras dos Profetas segundo a ordem do Deus eterno, dado a conhecer a todos os gentios para que eles obedeçam à fé – a Deus, o único sábio, por Jesus Cristo”.
3 – Maria mostra-nos a proximidade de Deus mas também a possibilidade da nossa vida ser morada de Deus. Ela foi escolhida de antemão por Deus para ser a Mãe do Messias. Foi preservada de toda a mancha, Virgem Imaculada, salva por privilégio divino, antecipando os méritos da CRUZ redentora de Cristo Jesus. Mas n’Ela descobrimos que também poderemos ser morada de Deus, templo do Espírito Santo. Com efeito, Maria é Mãe biológica de Jesus, mas também discípula, cumpridora dos ideais do Evangelho, gerando vida em abundância pela caridade, pela intercessão, tornando-se Mãe espiritual, Mãe da Igreja.
“Minha mãe e meus irmãos são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática”. O mistério e o milagre na vida de Nossa Senhora poderão repetir-se na nossa vida, desde e quando cumprirmos o mesmo sim a Deus, faça-se em mim segundo a Tua Palavra. Quando aceitamos os desígnios do Senhor, quando acolhemos a Sua vida na nossa vida, quando nos tornamos a Sua casa, pela verdade, pelo bem e pela partilha solidária, cumprimos a nossa vocação, como filhos amados de Deus, no caminho da santidade, tornando-nos verdadeiramente família de Jesus.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (ano B): 2 Sam 7,1-5.8b-12.14a.16; Rom 16,25-27; Lc 1,26-38.