Domingo V do Tempo Comum – ano A – 9 de fevereiro de 2020

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Domingo V do Tempo Comum – ano A – 9 de fevereiro de 2020

1 – «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».

Jesus desafia os seus discípulos, desafia-nos, a mim e a ti, a sermos sal, a sermos luz. Nas duas imagens utilizadas percebe-se bem o desafio de Jesus. O sal tempera e acentua o sabor dos alimentos. A luz faz-nos apreciar a vida, ajuda-nos a encontrar os outros. Fazemos a experiência da importância da luz quando ficamos sem eletricidade um ou dois dias! Antes disso, sem luz e sem sol não é possível a vida tal como a conhecemos.

Uma pessoa insossa chega a ser desprezível, se é que temos o direito de apelidar alguém assim, nem carne nem peixe, não lá vou nem faço míngua. No livro do Apocalipse, o anjo do Senhor diz à Igreja de Laodiceia: “Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno – e não és frio nem quente – vou vomitar-te da minha boca” (3, 15-16).

Encontramos pessoas quentes ou frias, em relação a nós, diferentes! Não estamos a falar de pessoas que são sempre contra, estão sempre em guerra, com tudo e com todos, só se sentem bem quando estão a atazanar a vida dos outros: isso é patologia que precisa de tratamento psiquiátrico. Estamos a falar de pessoas que têm opinião própria e procuram refletir sobre as coisas, não fazem apenas por fazer… Dentro das nossas limitações humanas, podemos estar em desacordo, mas sabemos o que esperar daquela pessoa e ela sabe o que pode esperar de nós. Alguém que não se envolve, não fala, não intervém, não se pronuncia, espera que os outros resolvam, que os outros escolham o governo, que os outros tomem a iniciativa, apresentando-se sobretudo como espetador, não acrescenta nada, não soma!

Se a luz que nos enche o coração for apenas para nós, se os talentos, os dons que Deus nos dá forem para guardar, então não servem para nada, mais valia estarmos às escuras, talvez nos deixássemos surpreender pela luz que vem através dos outros.

2 – Há dias, num jantar informal, um colega padre estava a explicar os benefícios do sal e alguns dos mitos a respeito do mesmo. Como em tudo, também o sal deve ser consumido com conta, peso e medida. Alguns insistem na diminuição do sal ou mesmo na sua substituição por outros condimentos. Contudo, parece que o sal tem muitos benefícios para o corpo humano. Talvez a dieta mediterrânea não esteja tão fora de validade.

O que é o sal? Uma estrutura cristalina composta por moléculas de sódio e cloro e de outros minerais. É-lhe adicionado iodo. Pode ser extraído de rochas em minas subterrâneas ou em regiões litorais ensolaradas, através da evaporação da água salgada de lagoas e do mar. O sal marinho é mais saudável que o sal refinado, porque não passa pelo processo químico do refinamento e contém menos sódio.

São reconhecidos bastantes benefícios! A adição de iodo torna este disponível para todos os cidadãos em quantidades suficientes. O sal é um aliado do coração, pois sendo uma fonte de sódio, um mineral que combinado com o potássio, é essencial para as contrações musculares, ajuda a manter o ritmo cardíaco normal. Evita ao cansaço, já que o sódio fornece energia ao organismo. Equilibra a quantidade de água: o sódio ajuda a reter os líquidos no organismo, o potássio provoca a excreção da água. O equilíbrio entre o sódio e o potássio equilibra a quantidade de água no corpo. Ajuda no tratamento de diabetes, mantendo os níveis de açúcar regulares no corpo humano. O sal marinho (através do banho) abre os poros e melhora a circulação dos vasos sanguíneos sob a pele, aliviando a psoríase e eczemas. Como produz sucos digestivos, é recomendável para quem deseja perder peso, pois colabora para uma digestão mais rápida; é eficaz também na luta e na prevenção de gripes, fortalece o sistema imunológico do nosso corpo. Sal marinho, com moderação e grandes quantidades de água, ajuda a combater a osteoporose. É também indicado para tratamento de asma, pois facilita os processos respiratórios.

Nunca esquecer a moderação, as recomendações dos médicos, lembrando que cada corpo é diferente e o que é válido para uma pessoa não o é necessariamente para outra.

Lá teremos que ser SAL a temperar, a dar sabor, a fazer bem ao coração e à pele, e à vida, a ajudar os outros a respirarem melhor… e como o sal também é extraído através da evaporizarão, sejamos sol e calor, e LUZ, fazendo sobressair o melhor, em nós e nos outros!

3 – A primeira leitura, do Profeta de Isaías, é uma torrente, um caudal de água límpida, uma tempestade, uma enxurrada de vida, de compromisso, de sal, de sol e luz. É um caminho, uma escolha. Um desafio, uma provocação. A palavra de Deus como sinfonia, para nos agrafar à verdade, à justiça, em dinâmica de amizade e de amor, e ao serviço aos mais frágeis.

«Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá, se O invocares, dir-te-á: ‘Aqui estou’. Se tirares do meio de ti a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia».

A LUZ nasce do amor, da prática do bem, da vivência das obras de misericórdia. Assim se ilumina o coração, assim nos tornamos luz para os outros, assim deixamos que a Luz de Deus nos guie a nós e aos outros.

4 – A caminho de Damasco, São Paulo, perseguidor acérrimo dos cristãos, foi surpreendido por uma grande luz, foi surpreendido por Jesus. A verdade em nome da qual pregava é inundada por outra luz, vinda de fora, vinda do alto, mas com lugar no coração.

Um jovem, chegado à idade adulta e ao momento de ter mais autonomia, comprou uma cave. Arranjou-a a seu gosto, a sala, o quarto, a casa de banho, a cozinha, a despensa, um quarto que tanto dava para arrumações como para receber visitas. Com a ajuda dos amigos, limpou tudo e ficou satisfeito. Tinha um espaço seu e acolhedor, onde poderia receber visitas, com um senão, tinha pouca luz, por ser uma cave, e a EDP ainda não tinha feito a ligação à rede pública. Alguns dias depois, vieram os funcionários da empresa de eletricidade, fizeram a ligação, e a casa ficou iluminada. Qual não foi o seu espanto ao verificar que afinal a casa não estava assim tão limpa, havendo manchas nas paredes e bastante pó em algumas zonas da casa.

A eletricidade não sujou a casa, mas tornou evidente a sujidade que lá havia antes. É assim a Luz que vem de Jesus. Paulo pensava que a sua casa estava limpa, arejada, cheia de vida. O encontro com Jesus permite-lhe ver que vivia nas trevas sem se aperceber.

A partir de então, Paulo deixa a vida de perseguidor e torna-se discípulo missionária, anunciando o Evangelho em toda a parte, procurando que a Palavra de Deus possa chegar a outros corações, a outras vidas e encher de vida e de cor, e de amor, outras casas.

A preocupação de Paulo, como bem se vê na Carta aos Coríntios, não é anunciar-se, fazer um brilharete, mas tornar acessível a Palavra de Deus, para que através dela outros possam acolher Jesus e deixar-se tocar por aquela luz. “Não me apresentei com sublimidade de linguagem ou de sabedoria a anunciar-vos o mistério de Deus. Pensei que, entre vós, não devia saber nada senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado”.

Jesus Cristo é a nossa Páscoa, a luz que nos enche de ternura, o sal que dá sabor e sentido à nossa vida e nos faz participantes do Seu reino de verdade e de paz, de justiça e de amor, de bondade e compaixão, comprometendo-nos como discípulos missionários a multiplicar, partilhando, o tempero e a luz que ressoam da caridade.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 58, 7-10; Sl 111 (112); 1 Cor 2, 1-5; Mt 5, 13-16.