Domingo XVIII do Tempo Comum – ano B – 2024

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Domingo XVIII do Tempo Comum – ano B – 2024

1 – Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, a multidão quer aclamar Jesus como Rei, que se retira sozinho para o monte. A multidão procura-O e encontra-O na outra margem do lago. A resposta de Jesus volta a ser desafiadora: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará».

Vale a pena meditar nas palavras do Papa Francisco: «Jesus não elimina a preocupação nem a busca do alimento diário, não, não elimina a preocupação de tudo o que pode tornar a vida mais progredida. Mas Jesus recorda-nos que o verdadeiro significado da nossa existência terrena consiste no fim, na eternidade, consiste no encontro com Ele, que é dom e doador, e recorda-nos também que a história humana com os seus sofrimentos e as suas alegrias deve ser considerada num horizonte de eternidade, ou seja, no horizonte do encontro definitivo com Ele. E este encontro ilumina todos os dias da nossa vida».

2 – Somos muito mais do que aquilo que comemos, que vestimos, muito mais do que as coisas que temos, por mais valiosas que sejam numa perspetiva de mercado. Na verdade, todos nós conhecemos pessoas que tendo tudo são verdadeiramente miseráveis. Interrogamo-nos: como é possível que esta pessoa tenha tudo e ande sempre com uma cara de sexta-feira santa? E quando vemos, em situações extremas, uma pessoa do mundo da música ou do cinema, da moda ou das revistas cor-de-rosa porem termo à própria vida ou envolvidas em rixas, em droga, em prostituição?! Claro que não é o muito que têm que as faz assim, mas a perda de sentido e, talvez, nalguns casos, também o facto de não sentirem a alegria do esforço, da dedicação, do trabalho e como compensa ver os respetivos resultados. Por outro lado, a dificuldade em perceber se as amizades são autênticas ou interesseiras.

Mas não enveredamos pela cultura da miséria! Como se aqueles que vivem na pobreza material tivessem todas as condições para serem felizes! De modo nenhum, a não ser que seja por opção. Nem só de pão vive o homem, mas também vive de pão. A multiplicação dos pães é um desafio a sermos dádiva para os outros, com o que temos e com o que somos. Jesus não faz um discurso bonito e depois despede a multidão para que esta se governe, conforme desejo dos discípulos. Não. Alimenta aquela gente, juntando o que há disponível, 5 pães e 2 peixes, contando com o contributo do rapazinho e dos apóstolos, invocando a poder de Deus, e mandando distribuir para que todos fiquem saciados.

Pessoas e famílias com parcos recursos económicos também passam por momentos de dúvida, de luta, por vezes, de discussão, caindo na depressão pelas dificuldades extremas e pelo medo do futuro ou por quererem dar um futuro melhor aos filhos e não estarem a conseguir. Em muitos casos, todavia, a luta fortalece a vontade de viver! A vida de mão-beijada não costuma dar bons resultados. Conseguimos ouvir os pais a dizerem aos filhos: quando ganhares para ti, vais saber o que custa a vida e vais dar valor ao que tens!

3 – Os discípulos, como a multidão, veem o pão que se multiplica na partilha e que não se esgota, mas não veem Aquele que é o verdadeiro Pão da Vida, veem os dons da vida mas não o Dom que é Jesus Cristo.

Recorramos novamente às sábias palavras do Papa Francisco: «Se pensarmos neste encontro, neste grande dom, os pequenos dons da vida, também os sofrimentos, as preocupações serão iluminadas pela esperança deste encontro. ‘Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede’. E esta é uma referência à Eucaristia, o maior dom que sacia a alma e o corpo. Encontrar e acolher Jesus, ‘pão de vida’, em nós, confere significado e dá esperança ao caminho muitas vezes sinuoso da vida. Mas este ‘pão de vida’ é-nos dado com uma tarefa, ou seja, para que possamos por nossa vez saciar a fome espiritual e material dos irmãos, anunciando o Evangelho por toda a parte. Com o testemunho da nossa atitude fraterna e solidária para com o próximo, tornamos Cristo e o seu amor presentes no meio dos homens».

Simples, além do pão que partilhamos, devemos tornar-nos pão e vida uns com os outros. Jesus multiplicou o pão e a partilha, mas a grande novidade e a verdadeira revolução é que Ele próprio Se torna pão, levedado pelo amor, pelo serviço, pela docilidade, pela compaixão, dando-Se por inteiro.

4 – “Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas” (Irmã Judith Vilela Junqueira). As mãos que dão são mais importantes do que as rosas que são dadas. Não ficamos agradecidos às rosas, ou ao pão, mas ao doador. Mas se é dado é dom, não nos dá o direito de o exigir, mas, com certeza, move-nos a fazê-lo render, talvez multiplicá-lo e, quem sabe, fazendo-o chegar a outros. Dessa forma corresponderíamos, em relação aos outros, em conformidade com o que foi feito connosco. Essa será uma excelente forma de gratidão pois estaremos a fazer render o que nos foi oferecido, valorizando-o.

Contudo, o risco é grande, tanto para a multidão que se aproxima de Jesus, como para os discípulos, mais preocupados com os “cargos” que podem vir a desempenhar, como para nós, sobretudo quando a vida não corre como desejávamos e nos atarefamos em muitas coisas que nos fazem esquecer de nós, dos outros e de Deus. Foi também a tentação e o risco do Povo de Deus. Deus liberta-os do Egito, abrindo-os a um mundo novo. E logo se voltam contra Deus, contra os líderes que Deus escolheu. Deus dá-lhes a vida e a liberdade para procurarem alimento, para alcançarem o sonho que há muito procuravam. E o povo reclama, murmura e lamenta-se!

Ainda assim, Deus ouve o clamor e o ruído do Povo: «Vou fazer que chova para vós pão do céu. O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia. Vou assim pô-lo à prova, para ver se segue ou não a minha lei. Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel».

5 – No Evangelho, quando os judeus pedem a Jesus um sinal, um milagre, lembrando o que sucedeu no deserto, Ele relembra que foi Deus Pai quem lhes deu o alimento, assumindo-Se então como o Pão que desce do Céu para dar a vida ao mundo.

O salmo coloca em evidência a obra de Deus a favor do Seu povo, hoje como no passado. «Nós ouvimos e aprendemos, os nossos pais nos contaram os louvores do Senhor e o seu poder e as maravilhas que Ele realizou. Deu suas ordens às nuvens do alto e abriu as portas do céu; para alimento fez chover o maná, deu-lhes o pão do céu. O homem comeu o pão dos fortes! Mandou-lhes comida com abundância e introduziu-os na sua terra santa, na montanha que a sua direita conquistou».

É esta confiança em Deus que nos anima, mas simultaneamente nos torna solidários com todos os que caminham connosco. Com fé, suplicámos: «Mostrai, Senhor, a vossa imensa bondade aos filhos que Vos imploram e dignai-Vos renovar e conservar os dons da vossa graça naqueles que se gloriam de Vos ter por seu criador e sua providência». Uma vez que reconhecemos Deus como Pai providente não cessemos de nos reconhecermos irmãos compartilhando a vida.

6 – Não somos cristãos às prestações, quando dá jeito ou quando temos tempo. Não somos cristãos quando fazemos coisas boas e ajudamos os outros. O que somos e o que fazemos deriva da nossa pertença a Jesus Cristo que, no mistério da Sua morte e ressurreição, nos resgatou, proporcionando-nos uma vida nova. Uma vez ressuscitados com Cristo, pelo Batismo, cabe-nos agir como Ele, procurando viver segundo os Seus ensinamentos, apreendidos a partir da Sua pregação e da Sua vida.

Prestemos atenção às recomendações do Apóstolo feitas aos efésios e que hoje nos são dirigidas: «Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Não foi assim que aprendestes a conhecer a Cristo, se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras».

Quer vivamos quer morramos, façamos tudo em nome do Senhor, procurando transparecer a Sua misericórdia infinita, em todo o tempo e em toda a parte.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Ex 16, 2-4. 12-15; Sl 77 (78); Ef 4, 17. 20-24; Jo 6, 24-35.