A Padroeira – Nossa Senhora da Conceição

UM POUCO DE HISTÓRIA

A Paróquia de Tabuaço tem como Padroeira a Virgem Imaculada, Nossa Senhora da Conceição.

É também a Madrinha dos Bombeiros Voluntários de Tabuaço.

Nas cortes de 1646, D. João IV decidiu coroar Nossa Senhora da Conceição (de Vila Viçosa) como Rainha de Portugal, assinalando a forte devoção dos portugueses. Os acontecimentos que conduziram o país a recuperar a soberania, com a coroação de D. João IV, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço, estão fortemente ligados à devoção de Nossa Senhora. O Santo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira (agora São Nuno de Santa Maria), artífice da vitória de Portugal sobre os nossos vizinhos espanhóis, fundou a Igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, oferecendo também a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

No dia 25 de março do ano de 1646, D. João IV, numa cerimónia solene, em Vila Viçosa, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, depunha a coroa a favor de Nossa Senhora.

A partir de então o Rei não mais colocaria a coroa. Em contrapartida, a coroa era colocada num trono, ao lado do trono real, relembrando que Nossa Senhora da Conceição era a Padroeira e Rainha de Portugal.

A DEVOÇÃO À IMACULADA CONCEIÇÃO

Nesta como em outras devoções, neste como em outros dogmas (= verdades de fé), ao senso popular antecipou-se à declaração oficial da Igreja que ocorreu em 8 de dezembro de 1854, pelo Papa Pio IX, através da bula “Ineffabilis Deus”, e depois de consultar os bispos do mundo.

A Igreja do Oriente foi a primeira a celebrar a Imaculada Conceição da Virgem Maria. Nos séculos XI e XII, a festividade estende-se pela Europa ocidental e pelo continente, fruto das cruzadas inglesas.

Os franciscanos tinham forte devoção à Imaculada Conceição e celebram-na a partir de 1263. O Papa franciscano, Sixto IV, inscreve-a no calendário litúrgico em 1477.

Em Portugal, a Universidade Católica defendeu e impulsionou a devoção à Imaculada Conceição. Os docentes da Universidade assumiam um compromisso prévio de defesa e divulgação da Imaculada Conceição da Virgem Maria.

Foi então em 8 de dezembro de 1954, que o Papa Pio IX, rodeado por 92 bispos, 54 arcebispos, 43 cardeais e uma imensa multidão, definiu como dogma de fé o grande privilégio da Virgem:

“A doutrina que ensina que a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada imune de toda mancha de pecado original no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus todo-poderoso, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, é revelada por Deus e por isso deve-se crer firme e constantemente por todos os fiéis”.

PROPOSTA DE REFLEXÃO

(publicada pelo Pároco na página da Paróquia de Tabuaço)

Textos litúrgicos da Solenidade da Imaculada Conceição: Gen 3,9-15.20; Sl 97 (98); Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38.

1 – Aproxima-se a celebração festiva da Imaculada Conceição, Padroeira de Tabuaço, Madrinha dos Bombeiros Voluntários de Tabuaço, Padroeira e Rainha de Portugal.

Como em muitas paróquias, a festa da Padroeira é a mais significativa e mobilizadora, pelo menos religiosamente. E tem que ser. Quando uma paróquia, uma comunidade, um movimento, escolhe um patrono, fá-lo por reconhecer nele um testemunho, um exemplo a seguir e, no campo religioso, Alguém que interceda junto de Deus.

Quando o Rei português coroou Nossa Senhora da Conceição, em 1646, como Rainha de Portugal, fê-lo por acreditar que Nossa Senhora tinha protegido o país, fê-lo para que Ela fosse venerada, honrada, como Rainha, para que os portugueses a Ela pudessem recorrer e pudessem imitá-la na prossecução do bem.

O centro da vida cristã é Jesus Cristo, no Seu mistério pascal, morte e ressurreição. Consequentemente a festividade mais importante dos cristãos e da Igreja é a Páscoa. À luz da ressurreição, os acontecimentos que dizem respeito a Jesus, nomeadamente a Encarnação/Nascimento. A envolvência de Nossa Senhora na Liturgia católica sempre teve grande relevância e maior acolhimento por parte dos fiéis.

Como Mãe de Jesus e Mãe da Igreja sentimo-la mais perto de nós, das nossas preocupações e projetos. E, por outro lado, evocando o episódio das Bodas de Canaã, o Filho não recusa a intercessão da Mãe. Ela sabe que é Deus Quem tudo realiza e através de Quem tudo acontece. O próprio Jesus, na Cruz, no-la dá como Mãe, para que Ela permaneça sempre próxima de nós. E, por sua vez, Maria não cessa de dizer-nos: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

A nossa comunidade vive intensamente os dias dedicados a Nossa Senhora da Conceição, tanto a novena como o dia da festa. Mais do que o tempo pascal ou o tempo de Natal. Porém, ao voltarmo-nos para Maria, voltamos também, com Ela, o nosso olhar e o nosso coração para o Seu Filho Jesus.

2 – «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

Não é preciso dizer muito mais. O Evangelho é Jesus Cristo. A Boa Notícia da Salvação. Nossa alegria e nossa esperança. Nossa Páscoa. É Ele que definitivamente rasga os céus. Enviado pelo Pai, entra na história e no tempo. Vivendo como verdadeiro homem, assume-nos por inteiro, no tempo e na finitude, na fragilidade e no sofrimento. Vive entre nós. Levado a um julgamento iníquo, carrega-nos até ao Calvário, obriga-nos a olhar para o alto, para além de nós, acima deste chão que nos irmana e nos faz mais iguais. Morre, mas volta, ressuscita, regressa para nós. Pelo Espírito Santo permanece connosco até ao fim dos tempos.

Mas antes, antes de tudo, antes da criação e do mundo, desde sempre no pensamento de Deus, uma Mulher sonhada e criada para amar, para “facilitar” um caminho de liberdade e de respeito pela dignidade humana. Deus criou-nos com inteligência e vontade. Livres para amar ou para odiar. Livres para Lhe respondermos, ou para nos afastarmos d’Ele. Como os pais que querem o melhor para os filhos e, muitas vezes, têm ganas de os obrigar porque é para o bem deles… mas a vida é deles. Deus dá-nos a vida como dom e como tarefa. Cabe-nos viver.

A história que deveria ser harmoniosa instala a discórdia, e às tantas, vem ao de cima o que nos separa e não o que nos liga e nos identifica como irmãos. Esquecemo-nos dos outros. Ou temos os outros como inimigos cuja vida parece estorvar a nossa. Deus não desiste nunca. Ainda que nos cansemos de O acolher. É nesta história de amor que Deus escolhe um povo. Envia mensageiros. Vem Ele próprio, como Deus e Senhor, não por cima impondo-se, mas debaixo, nascendo, vindo do mesmo pó da terra. Terra que se mistura com o sopro do Seu Espírito. Assim connosco, assim com Jesus. Respeitando a Sua obra criadora, Deus, para nascer como Homem precisa, melhor, quer precisar, de uma mulher. E a aí está Maria, a cheia de graça.

3 – «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

Deus espera por nós, sempre espera, aguarda, pacientemente, como o Pai da parábola, cujo filho se prodigaliza. Criou-nos sem nós, diz Santo Agostinho, mas não nos salva contra a nossa vontade. Espera o nosso SIM mas não força. Quando o Anjo anuncia Aquele que está para vir há uma espera infinita: o Todo-poderoso fica a depender da vontade de uma Mulher, cujo coração desde sempre preparou, virginal e fiel, cheio de graça e de amor. O projeto inicial, que em Eva encontrou resistência, encontra agora um coração singelo. Deus não se enganou antes. Mas só a Nova Eva – Maria – é plena de graça.

Deus não abandou o Homem à sua sorte mesmo quando este se quis independente e longe do Criador. O rumor dos passos de Deus fazem-se ouvir no jardim. Diante d’Ele não podemos estar vestidos, disfarçados, pois Ele contempla o nosso interior. Vem ao nosso encontro, ainda que nos escondamos. O mal maior não é o pecado mas aquilo que provoca em nós, a vergonha, o medo, a falta de confiança em Deus. Também a nós nos pergunta onde nos encontramos, em que situação vivemos, o que fazemos do tempo e dos dons que nos dá. Refira-se que o conhecimento não é, a priori, um bem ou mal em si mesmo, mas o que fazemos com o nosso saber e com a nossa vontade, com os caminhos que escolhemos seguir. Se o utilizamos com sabedoria, orientando-nos para o bem e para os outros, então o conhecimento é facilitador. Se o utilizamos para benefício próprio, por egoísmo, e contra os outros, então o conhecimento é nefasto.

Por outro lado, neste texto é visível o respeito de Deus pela nossa autonomia e liberdade. Quer e procura o nosso convívio, mas permite que nos escondamos. Ao mesmo tempo mostra como é Pai, não tem vergonha de nós, não Se cansa de perdoar, nós é que nos cansamos de lhe abrir o coração e a vida, para que nos encontre e de novo nos transforme.

4 – «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

Inesperadamente, um Anjo entra na vida de Maria, saudando-A: Ave, ó cheia de graça, o Senhor está contigo. Irás ser Mãe do Filho de Deus. Maria, como pessoa inteligente e livre, com vontade própria, não se deixa iludir nem manipular. Logo questiona: como será isso se Eu não conheço homem? A resposta do Anjo encontra eco em toda a Palavra de Deus, no Antigo e Novo Testamento: não temas, Maria, «o Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra». Curioso, quantas vezes perscrutamos a voz de Deus a transmitir-nos confiança. Para tornar mais fácil a perceção do que está para a acontecer, o Anjo Gabriel informa Maria que a Sua prima Isabel, estéril, se encontra grávida. Os mistérios de Deus são insondáveis. Não queiramos escrutinar tudo. O mistério, por mais que se desvele, permanece mistério. Por conseguinte, não nos impõe nada que não acolhamos de livre vontade.

Maria fica extasiada. Como é possível? Mas não faz perguntas indefinidamente, pergunta o essencial: como é que Deus pode nascer de uma mulher, de uma Virgem? Com a resposta do Anjo, Maria não hesita: realize-Se em Mim a Tua santa vontade.

O sim de Maria altera para sempre a história da salvação e a relação de Deus com o ser humano, que não mais se fará por intermediários, do exterior para o interior, mas pelo próprio Filho, dentro da história e do tempo, dentro da humanidade, o único Mediador entre Deus e os homens. O sim de Maria é anterior à expressão dos lábios, é um Sim que Ela trazia no peito, no coração, um sim sempre pronto a dar-se, a perder a própria vida para que outros pudessem ter vida própria. Quando as palavras do Anjo se fazem ouvir no Seu coração, Ela exalta de alegria, não apenas por si, mas por se tornar morada do Deus Altíssimo, dando à humanidade a mesma possibilidade. Também agora podemos ser morada de Deus, templos do Espírito Santo. Mas atenção, o sim de Maria não é estático, mas dinâmico, logo que o Anjo ascende, Maria corre para a montanha para ajudar a Sua prima Isabel.

5 – «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

O projeto de Deus é concretizável pela resposta humana, por esta primeira resposta de Maria. Concebida sem mancha, sem pecado, cheia de graça, salva, por antecipação e privilégio, em atenção à redenção que para todos vem da Cruz e da Ressurreição de Jesus, Maria acolhe a Palavra de Deus e fá-la crescer no seu ventre e na sua vida.

Com Ela também nós podemos cantar um cântico novo, «pelas maravilhas que Ele operou. O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel. Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai».

O Evangelho, a Boa Notícia que nos chega ao ouvido e ao coração, suscita Alegria e confiança. Alegra-Te Senhora, vais ser Mãe de Deus. Alegra-Te Maria que nos hás de dar o Salvador. Alegremo-nos nós também, ouvindo a Sua voz, exultemos de alegria, em altos brados. Façamos frutificar em nós, na nossa vida, Jesus. N’Ele «fomos constituídos herdeiros, para sermos um hino de louvor da sua glória, nós que desde o começo esperámos em Cristo… Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, a fim de sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo, para louvor da sua glória e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho».

A condição para sermos morada do Deus altíssimo, para que em nós se realizem as maravilhas do amor e da paz, da justiça e do bem, é imitar Maria, em humildade e prontidão para servir: realize-se em mim a Tua vontade. Vem, nasce em mim, ilumina-me com a Tua bondade, dá-me o Teu perdão, guia-me para Ti, faz-nos reconhecer-te e a amar-te em cada irmão.

Pe. Manuel Gonçalves