Domingo I do Advento – ano C – 2021

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Domingo I do Advento – ano C – 2021

1 – No final do ano litúrgico, como vimos, a Palavra de Deus fez-nos vislumbrar o futuro, o final dos tempos, ou melhor, a plenitude dos tempos, a história grávida de eternidade, pois o mundo atual está sob o Céu, sob a bênção e proteção de Deus. Jesus encurta a distância entre o Céu e a Terra, entre a eternidade e o tempo, entre Deus e o Homem, afinal n’Ele coexistem, coabitam, divindade e humanidade. O futuro não é meu nem teu, não é nosso! É de Deus. Essa á a garantia que Deus nos revela em Jesus Cristo.

Em espiral, no início deste novo ano litúrgico, com o primeiro Domingo do Advento, que nos coloca na preparação e celebração do nascimento de Jesus, a Palavra de Deus serve-nos, novamente, um discurso apocalíptico, sobre o fim, como termo, mas sobretudo como sentido.

Depois dos alertas que faz aos seus discípulos, Jesus conclui: «Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem». Sem equívocos! Os tempos podem ser conturbados, mas Jesus dá-nos a receita para perseverarmos, confiantes, Ele caminha connosco, estende-nos a mão, espera por nós quando cumprirmos o nosso tempo sobre a terra!

2 – No Evangelho, Jesus desperta os seus discípulos para os sinais e para os acontecimentos que advirão em catadupa! Quando temos tempo de respirar e encaixar o que nos sucede e o que sucede à nossa volta, é possível que as adversidades fortaleçam a nossa luta, o nosso empenho e nos despertem para os imponderáveis da vida. Quando as adversidades se multiplicam e nos tocam a alma, poderemos entorpecer e deixar-nos afundar em trevas. Daí que Jesus, antecipando as tempestades que surgirão, garante aos Seus discípulos a Sua presença, convocando-os a viver na ambiência da oração. A oração faz com que sintamos a proximidade de Deus e o nosso coração seja inundado pela luz da esperança, apesar e além do mal que se infiltra.

«Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória».

A incerteza do futuro, habitualmente, gera medo, angústia, sobretudo no meio dos dramas. Vivendo em situações de calmaria e paz, olhamos para o futuro com confiança, ao invés, se o mar está revolto, tememos pelo que possa acontecer, antecipando, muitos vezes, cenários catastróficos. Jesus conhece-nos, conhece os Seus discípulos e sabe que, quando Ele não estiver fisicamente presente no meio deles, e a perseguição surgir, ou os conflitos entre povos for manifesto, eles correm o risco de soçobrar.

Diz-lhes Jesus, e a nós também, «Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra».

3 – Na primeira leitura, Jeremias comunica a promessa de Deus: «Eis o que diz o Senhor: Naqueles dias, naquele tempo, farei germinar para David um rebento de justiça que exercerá o direito e a justiça na terra. Naqueles dias, o reino de Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome que chamarão à cidade: ‘O Senhor é a nossa justiça’».

Jeremias é o profeta que em pleno inverno vê florir a amendoeira! Na invernia, é possível acreditar na primavera a florir, antecipando a certeza dos frutos que vão chegar. O inverno é assim uma etapa que nos robustece na esperança, convidando-nos a focar o olhar, o coração, a vida, para vermos mais longe. E veremos mais longe, quando e sempre que nos deixamos inundar e iluminar pelo olhar de Deus.

4 – Inscrita na condição humana, a nossa liberdade, a possibilidade de fazermos escolhas, ainda que nem tudo dependa de nós, pois as circunstâncias e os outros também influem na nossa vida, a nossa fragilidade biológica e a nossa finitude. Não estamos cá para sempre!

Esta certeza incontornável, em alguns pode provocar o desânimo e a desistência. A nossa ânsia em sermos felizes, em amarmos e sentir-nos amados, a vontade em querermos ser vistos e reconhecidos pelos outros, levar-nos-á a viver bem o tempo e a deixar marcas duradouras na história, para que, mesmo já não estando fisicamente presentes, sejamos recordados pelo que fizemos de bem e alguém se sinta grato pelo que construímos. A gratidão é outro nome para o amor, para o bem que fazemos ou nos é feito.

Como crentes, filhos de Deus, como discípulos de Jesus, esta responsabilidade e compromisso é ainda maior. Acolhemos a vida e o amor de Deus para Lhe respondermos no amor aos irmãos. Não estamos sós. Pertencemo-nos uns aos outros. Somos carne da mesma carne. Temos o mesmo chão e estamos sob o mesmo Céu. Deus é teu Pai e meu Pai, é Pai nosso. E qual o pai que deseja o conflito e a divisão entre os filhos? Qual o pai que fica feliz por ter filhos felizes e filhos amargurados? Qualquer pai ou mãe quer os filhos bem, que se deem entre si e se ajudem mutuamente, auxiliando especialmente os que estão em situação mais pobre, frágil ou desfavorecida.

5 – A oração predispõe-nos a acolher a vontade de Deus, a discernir os Seus desígnios de amor, a concretizarmos o que pedimos. “Despertai, Senhor, nos vossos fiéis a vontade firme de se prepararem, pela prática das boas obras, para ir ao encontro de Cristo, de modo que, chamados um dia à sua direita, mereçam alcançar o reino dos Céus”.

O tempo que está para vir, contará connosco, mas, antes de mais, conta com a ação amorosa de Deus, Senhor do tempo e da história, que preserva o passado, que faz da vida um presente que nos dá, e que nos espera no futuro, aqui e agora, e na passagem à eternidade.

Com o salmista, supliquemos, “mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador. / O Senhor é bom e reto, ensina o caminho aos pecadores. Orienta os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer os seus caminhos. / Os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos. O Senhor trata com familiaridade os que O temem e dá-lhes a conhecer a sua aliança”.

A bondade de Deus, inscrita no nosso coração, como Seus filhos, criados à Sua imagem e semelhança, levar-nos-á a sermos-Lhe fiéis, procurando concretizar a Sua misericórdia no mundo, também (ou sobretudo) no tempo da adversidade e desolação.

6 – A oração alimenta a fé, fortalece-a, amadurece-a. A fé liga-nos a Deus, o Pai das Misericórdias, cuja a ligação é aberta, pois exige que estejamos unidos aos irmãos, estejamos ligados entre nós e nos entreajudemos para formamos uma verdadeira fraternidade.

O Apóstolo São Paulo reza connosco, invocando a graça de Deus: “O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos, tal como nós a temos tido para convosco. O Senhor confirme os vossos corações numa santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor, com todos os santos”.

A santidade que opera em nós, pela graça do Espírito Santo, faz-nos abundar na caridade para com todos. Na caridade verifica-se a verdade da nossa fé.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia (ano B): Jer 33, 14, 16; Sl 24 (25); 1 Tes 3, 12 – 4, 2; Lc 21, 25-28. 34-36.