Domingo V da Páscoa – B – 2021

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Domingo V da Páscoa – B – 2021

1 – Se derdes muito fruto, tornar-vos-eis meus discípulos. O discípulo não é maior que o Mestre…

“Um discípulo não está acima do mestre, mas todo o que ficou bem preparado será como o seu mestre” (Lc 6, 40). Em diferentes áreas do saber, é expectável que os alunos superem os professores, mas neste caso, o discípulo deve procurar em tudo imitar o Mestre e não O ofuscar. O discípulo, sendo missionário, não se anuncia a si próprio, não faz nada para se engrandecer, mas para que a Palavra de Deus resplandeça. “A minha alma engrandece o Senhor” (Lc 1, 47). A vida de Maria visualiza e transparece a grandeza e a misericórdia de Deus.

Cabe-nos, como discípulos missionários, alcançar o Mestre e Senhor, agindo do Seu modo, gastando as energias e a vida a favor dos nossos irmãos. “Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo: um servo não é maior do que o seu senhor, nem um apóstolo maior que aquele que o enviou. Ora, se compreendeis isto, felizes sereis se o fizerdes” (Jo 13,15-17).

Seguindo Jesus, procurando viver imbuídos das mesmas causas, da verdade, do amor sem limites, da partilha solidária, é possível que nos deparemos com as mesmas adversidade, invejas e perseguições, mas importa mantermo-nos fiéis à Palavra, fiéis a Jesus. “Recordai a palavra que Eu vos disse: ‘Um servo não é maior que seu senhor: Se me perseguiram a Mim, também vos perseguirão; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (Jo 15, 20).

A fidelidade, contudo, a Jesus levar-nos-á, noutra perspetiva, é Ele quem no-lo diz, a fazer as obras que Ele faz e ainda obras maiores (cf. Jo 14, 12).

2 – Há oito dias, Jesus dizia-nos que é o Bom Pastor que dá vida pelas ovelhas. A correlação é óbvia, o Bom Pastor conhece as suas ovelhas pelo nome e elas reconhecem-n’O e O seguem. Porque ama as ovelhas, preocupa-se com elas, protege-as, leva-as para as melhores pastagens. Não foge perante o perigo.

Neste Domingo, Jesus autodenomina-Se como a verdadeira vide, que produz frutos em abundâncias nos seus ramos, se estes, como se deduz, permanecerem ligados à Si, ligados à cepa. É mais uma belíssima alegoria de Quem sabe a Sua origem e a Sua missão. «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto. Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei».

Jesus, a vide; o Pai, o agricultor; nós, os ramos. Do Pai espera-se o cuidado e o zelo; do Filho, o alimento que chega aos ramos; de nós se espera que demos fruto já que estamos nutridos em abundância do alimento que nos vem de Jesus.

«Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer».

Como se deduz e como se espera, o ramo dará fruto se estiver ligado à cepa e beneficiar da sua seiva. Como os ramos que permanecem na videira, assim nós daremos fruto se permanecermos em Jesus. Se nos desligarmos da verdadeira vide, que é Jesus Cristo, perder-nos-emos, secaremos como os ramos, deixaremos de produzir fruto, renunciamos à nossa missão no mundo.

3 – A permanência em Jesus está garantida por parte do Próprio, por parte de Deus. Cabe-nos responder-Lhe, mantendo-nos unidos a Ele e, consequentemente, uns aos outros. Nesta permanência, a oração há de revelar-se essencial para alimentar as nossas buscas e as nossas ações, os nossos propósitos e o nosso compromisso num mundo que seja humano, fraterno, solidário.

«Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos». Tornar-nos-emos discípulos se nos mantivermos ligados a Ele. E assim daremos muito fruto. Pelos frutos se vê a fé que professamos e a intimidade que nos envolve com o Senhor nosso Deus.

4 – “A Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e vivendo no temor do Senhor e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo”. Os frutos testemunham a vitalidade da Igreja nascente; a oração, a pregação, a fração fraterna, a caridade, a atenção a todos, sobretudo aos mais desfavorecidos, ilustram a postura de Cristo agora através dos Seus discípulos.

São João, na sua primeira carta à Igreja, relembra que a fé é consequente, não se isola numa espiritualidade fechada, numa intimidade egoística com Deus. A fé que nos une a Jesus, que nos une a Deus, faz-nos tomar consciência que não vivemos numa ilha, somos irmãos, temos um mesmo Pai, teremos, então, que agir em conformidade. Se estou ligado à verdadeira vide, estou ligado aos outros ramos.

“Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade. Deste modo saberemos que somos da verdade e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus”.

Tal como Jesus nos diz que se permanecermos fiéis a Deus e à Sua palavra, Ele atenderá as nossas súplicas, assim também São João sublinha como Deus vem em nosso auxílio se nos predispomos a viver os Seus mandamentos. O primeiro mandamento e raiz dos demais: “Acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu”.

Dúvidas? Nenhumas! Quem ama a Deus, sendo honesto, ama também os irmãos. Não somos ramos despegados da única cepa que é Cristo. A seiva que nos alimenta liga-nos uns aos outros.

5 – O anúncio do Evangelho tem como propósito a conversão a Jesus Cristo. Aquele que se converte a Jesus procurará identificar-se com Ele. É um acontecimento, um relacionamento de amor. Ser cristão não é, em primeiro lugar, cumprir um conjunto de normas, mas é, antes de mais, identificar-se com Jesus. Quando amamos tendemos a querer o bem do outro/a e a querer o que ele/a quer. Na alegoria da vide e dos ramos, a perspetiva é permanecermos n’Ele, sintonizados com a Sua bondade, em sincronia com o Seu jeito de amar e de servir.

São Paulo, na primeira leitura, faz esta aproximação a Jesus, o que fará com que entre em contacto com os outros que seguem Jesus e com as comunidades que se constituíram em nome d’Ele. Por parte da comunidade alguns receios e precaução pelo seu passado persecutório. “Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo. Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado, e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus. A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém e falava com firmeza no nome do Senhor”.

Barnabé assume o papel de padrinho, toma Paulo e apresenta-o à comunidade, garantindo que está de boa fé, testemunhando a sua conversão, a sua adesão sincera a Jesus e ao Seu Evangelho. Precisamos de ser como Barnabé, padrinhos daqueles que se abrem à fé, ao Evangelho, e se predispõem a enriquecer a comunidade com a sua presença. Sejamos pontífices, abramos as portas, vivamos a alegria de sermos cristãos, deixemos que em nós e através de nós possam ver a beleza do amor de Deus.

6 – Ser de Cristo obriga-nos a ser como Cristo, a agir como Ele, levando Deus a todos os recantos, mesmo que isso implique sacrifícios, contrariedades, a perseguição e a própria morte. Mas, se permanecermos n’Ele e com Ele, Ele permanecerá connosco e não nos abandonará à nossa sorte, não nos deixará morrer (em definitivo).

Paulo discute e debate o Evangelho com todos os que encontra no caminho. Como se refere na primeira leitura, também com os helenistas, que, entretanto, querem dar-lhe a morte. A comunidade usa de bom senso e remete-o para outras comunidades.

7 – Nossa Senhora serve-nos de estímulo e referência. Logo na anunciação dá o tom: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1, 38). Em todo o tempo, Maria procura esta fidelidade ao Senhor, perscrutando o Seu chamamento, mantendo-se ligada a Jesus. Ela permanece! A caminho do Calvário, junto à Cruz, não arreda pé, como Mãe de Jesus. E, por vontade de Deus, por vontade de Jesus, Ela permanecerá junto de nós: eis o teu filho. A partir daquela hora recebemo-la em nossa casa, na nossa vida como nossa Mãe.

Na visitação (cf Lc 1, 39-56), Maria corre pelas montanhas e leva a alegria à Sua prima Isabel, unindo o cuidado a esse louvor. Depois do nascimento, Maria confia o Menino aos pastores e depois aos Magos. Nas bodas de Caná, impele os serventes a seguir Jesus, a fazer a Sua vontade. Depois da morte de Jesus, Maria assume o Seu papel de Mãe e mantém os discípulos em espera e confiantes de que Deus não soçobrará.

No mundo em que vivemos, com tantas dificuldades e contradições, as mães continuam a assumir uma missão prestimosa. Geram e protegem os filhos, dando-lhes as ferramentas para que sejam homens e mulheres com futuro. Na família, como na sociedade, as Mães têm a sensibilidade para unir, congregar, apaziguar, ensinar os filhos a falar, a caminhar, a lidar com os mais velhos. Tudo pelos filhos que saem das suas entranhas, mas essa sensibilidade materna alarga-se a outros filhos que não os próprios. As mães, que o são convictamente, tornam o mundo mais justo e mais humano, são fator de conciliação entre filhos e pais, e entre os outros irmãos. Só uma mãe pode compreender o sofrimento de outro e, em geral, compreender o sofrimento do mundo.

Nunca falte às nossas mães, a gratidão e amor por tornarem o mundo mais belo.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia: Atos 9, 26-31; Sl 21 (22); 1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8.