Domingo II do Advento – ano A – 2022

Watch Now

Download

Domingo II do Advento – ano A – 2022

1 – Um tronco! Uma vida. Uma raiz! Um começo. Um rebento! Vida nova a germinar! Anúncio de primavera! Tempo de esperança! Espera confiante! Aurora de um novo dia, claridade a despontar! E com o dia, mais tempo para viver, para aproveitar, recriando-se. Um tronco! Uma raiz! Uma árvore! Um rebento! O deserto! O vazio ou um espaço a preencher? João Batista a pregar, a anunciar, a provocar! Um Messias para vir! Um profeta novo a chegar!

De uma raiz, um rebento, que se tornará raiz nova, de onde florescerá uma nova criação, um mundo novo. João Batista, sem peias nem teias: «Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus». No dizer do profeta Isaías é a VOZ que clama no deserto, que nos interpela a prepararmo-nos para recebermos e reconhecermos a PALAVRA que vem do alto, que vem de Deus. Uma raiz, um rebento, de onde germinará a vida e a salvação! Aprontemo-nos para perceber a Sua chegada. Vontade. Disponibilidade. Fazer pela vida. “Praticai ações que se conformem ao arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: ‘Abraão é o nosso pai’, porque eu vos digo: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão”.

A salvação está aí, a árvore tem de dar fruto. De contrário, apenas servirá para fazer sombra, produzir oxigénio, para deitar ao lume… já é bastante útil e até necessário, mas não se compreende que árvores de fruto não deem fruto, se foram plantadas para esse efeito!

2 – João e Jesus. Advento. A vinda de um prepara a vinda do outro. João vem primeiro, como Precursor, dulcificar os corações para se deixaram cativar por Jesus. Jesus está antes. Junto do Pai, desde sempre. Vem para salvar, para ajuntar, para redimir. Ele batizará no Espírito Santo e no fogo. Vem depois, mas é perante Ele que João Batista (e cada um nós) se prostrará para O adorar.

Do tronco de Jessé brotará um rebento. Um enxerto. Do tronco de Jessé, o novo David, o novo Adão, o novo Moisés. O rebento florescerá, dando frutos de misericórdia e de perdão, de justiça e de paz. O enxerto de uma árvore pretende potenciar a qualidade dos frutos que se desejam. Jesus enxerta-se na humanidade, assumindo-nos, Ele mesmo se torna em raiz, em árvore, na qual, doravante somos enxertados. Uma vez enxertados em Cristo, se o enxerto vingar, só podemos produzir bons frutos.

O profeta Isaías convida-nos a olhar para o Messias que virá, sobre Quem “repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Deus… não julgará segundo as aparências, nem decidirá pelo que ouvir dizer. Julgará os infelizes com justiça e com sentenças retas os humildes do povo”.

Com Ele, um tempo de paz. em que “o lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir… A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora. Não mais praticarão o mal…” A partir dos frutos saberemos se estamos no caminho certo!

3 – Um rebento. Uma árvore nova. Uma enxertia divina. Deus que vem, que chega, que irrompe na história. E se Deus desce à história dos homens, a história há de elevar-se para Deus. Hão de olhar para Aquele que trespassaram! Pelo menos, não podemos desculpar-nos com a ignorância.

Serão dias de alegria e confiança. “Florescerá a justiça… uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará até aos confins da terra. Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos. O seu nome será eternamente bendito e durará tanto como a luz do sol; nele serão abençoadas todas as nações, todos os povos da terra o hão de bendizer”.

Seguindo-O faremos as mesmas opções, vivendo ao Seu jeito. Dóceis para todos. Prestáveis para cada pessoa que encontrarmos, dando prioridade àqueles que sofrem: os que vivem na pobreza e na solidão, que são vítimas da perseguição e das intempéries da vida, da incompreensão ou da própria fragilidade. Como relembra o Papa Francisco, na carta apostólica Misericordia et Misera, “não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21)”.

O caminho aberto por Jesus – iluminando-nos com a benevolência do Pai, vivendo e dispensando ternura, misericórdia, compaixão, proximidade, serviço, perdão – será o caminho que temos de percorrer, ajustando o nosso ao de Jesus. Será o nosso compromisso com os irmãos, sobretudo com os mais frágeis, terá que ser a nossa profissão de fé entranhada na transformação do mundo, para que este seja casa de todos. Se não ouvirmos os pobres, os famintos, os nus, se não virmos os necessitados de pão e de atenção, estamos a ser infiéis à nossa identidade batismal.

4 – A vinda de Deus ao mundo, em Pessoa, Ele mesmo, encarnando, tem o propósito de nos reconciliar como família, reconstruindo a fraternidade perdida pelo pecado. Por conseguinte, num tronco já ressequido pela indiferença, pelos ódios e vinganças, pela guerra, pelos laços quebrados, Deus dá-nos o Seu Filho, faz que do tronco surja um rebento que, por sua vez, dará vigor a toda a árvore.

Veio para permanecer no meio de nós. Tornou-Se homem, sujeitando-se às leis espácio-temporais. A Sua morte foi entrega; a Sua vida um testemunho de fidelidade a Deus Pai e à humanidade; a crucifixão transpareceu o gastar-Se até ao fim por nós; a Sua ressurreição faz-nos comungar da Sua vida para sempre.

O Apóstolo lembra as Sagradas Escrituras como esperança, como promessa. A vinda de Jesus é a promessa realizada no tempo, na história, na nossa vida. Com a Sua vida mostra-nos o caminho de fidelidade ao Pai, servindo os seus compatriotas. Agora é a nossa vez, é a hora de O imitarmos para que Ele continue a vir, a nascer, a ressuscitar, a dar-nos vida abundante. Ele VIVE quando deixamos que Ele reine. “Acolhei-vos, portanto, uns aos outros, como Cristo vos acolheu, para glória de Deus”.

Amparados pela misericórdia de Deus, esbanjada por Jesus, deixemo-nos, envolver pela oração, pela escuta da Palavra de Deus, pelo acolhimento de Jesus, na Eucaristia e na caridade para com todos.

5 – A primeira tarefa do crente é o louvor. O louvor faz-nos reconhecer a grandeza de Deus e o Seu mandato de amor. “O Deus da paciência e da consolação vos conceda que alimenteis os mesmos sentimentos uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que, numa só alma e com uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

A Glória de Deus é o homem vivente (Santo Ireneu). O melhor louvor é um coração contrito, uma coração que vê. Vemos bem quando a distância do nosso coração ao coração dos outros não nos impede de os reconhecermos e os tratarmos como irmãos.

“Concedei, Deus omnipotente e misericordioso, que os cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo, mas que a sabedoria do alto nos leve a participar no esplendor da sua glória”. Com efeito, “os cuidados do mundo” são tudo o que nos distrai da vida: o conjunto de desculpas e justificações para não ajudarmos os outros e não nos comprometermos com a justiça, com a paz, com a partilha solidária, com a comunhão fraterna. Que Deus reze em nós a Sua sabedoria e o Seu amor, para que dóceis à Sua vontade, sejamos construtores de fraternidade.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (A): Is 11, 1-10; Sl 71 (72); Rom 15, 4-9; Mt 3, 1-12.