DOMINGO II DO ADVENTO – ano B – 6 de dezembro de 2020
1 – Promessa, preparação e consolação.
Nestas três palavras podemos conjugar a vivência deste Domingo, o segundo do Advento, numa espera que nos prepara para acolher um Promessa que é consolação porque sabemos que Deus a vai cumprir, ou, visto à distância de 2000 anos, que se cumpriu em Jesus Cristo. Vivemos entre a promessa realizada, a Encarnação de Deus, e uma promessa de vida eterna no encontro definitivo com o Senhor do tempo e da história.
A abrir, São Marcos diz-nos que nos vai anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
O ponto de partida é o anúncio desta notícia nova e feliz. O Filho de Deus está entre nós. O evangelista empresta a sua pena, inteligência e tempo para colocar por escrito, e fazer chegar mais longe, no tempo e na geografia, o Evangelho de Jesus. A evangelização é a condição primeira para a fé, para gerar cristãos e comunidades. Há um acontecimento: Deus faz-Se homem, em Jesus, vive entre nós, caminha por aldeias e cidades, é morto e ressuscita ao terceiro dia. Após a ressurreição, aparece aos Seus discípulos e envia-os a anunciar o Evangelho a toda a criatura. Aqueles que acolhem a Boa Nova e aderem a Jesus são batizados e formam comunidades. Somos cristãos porque alguém nos falou de Jesus, alguém nos comunicou a Sua Palavra e nos serviu os Sacramentos.
Se ninguém nos tivesse anunciado o Evangelho, não estaríamos aqui como cristãos nem como comunidade. A nossa missão é comunicar a outros, pelas palavras e sobretudo pela vida, a nossa pertença à Igreja, Corpo de Cristo. O anúncio do Evangelho é a primeira expressão da caridade, pois dessa forma se abrem as possibilidades da graça e da salvação. É como a educação, e como a cultura, que permitem, por sua vez, potenciar nas pessoas maior autonomia na busca de melhores condições de vida ou até mesmo na busca de descobertas que facilitem a vida à humanidade. O anúncio do Evangelho compromete-nos com a verdade e com a caridade. Podemos incentivar a caridade, mas se estivermos convertidos, se nos deixamos interpelar pela Palavra de Deus, então a caridade tornar-se-á um modo de ser e não uma exigência.
2 – A Boa Notícia é a vinda de Jesus ao mundo, a encarnação de Deus e a Sua vida comprometida no meio de nós, Deus connosco. São Marcos prossegue com a narração da Boa Nova, situando-nos nas vésperas da vida pública de Jesus. Servindo-se das palavras de Isaías, Marcos fala-nos sobre o caminho a preparar para a chegada do Messias, com a figura do Precursor, que O precede, e que entusiasma as pessoas, preparando-as, levando-as à conversão, a um batismo de penitência. «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’».
João Batista atrai muitas pessoas, que se sentem tocados pelas suas palavras e se fazem batizar, confessando os seus pecados.
O evangelista faz uma pequena descrição de João, mostrando os trajes do Profeta. “João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre”. Mas não são as vestes que o definem nem o tipo de alimentação, o que o define é uma vida dedicada a escutar a voz de Deus para se fazer eco da Sua mensagem: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
O tempo está próximo. O tempo é sempre demasiado breve para quem se propõe aproveitar/gastar o tempo em lógica de conversão, de amor e de serviço. Quem gasta assim o tempo, tem o tempo preenchido de vida. Há que arrepiar caminho. Conversão, mudança de vida, vida ao serviço dos irmãos.
3 – João Batista anuncia e a prepara a chegada do Messias. Ele é a voz que clama no deserto. Muito tempo antes, outro Profeta, Isaías, anuncia a vinda do Emanuel, Deus connosco, mas também do mensageiro que virá a preparar o caminho.
A promessa aproxima-se de nós. Isaías traz-nos a consolação de Deus, o tempo estreita-se, já começa a despontar a aurora, já há sinais de que vai amanhecer não tarda. Já se ouve a voz: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou».
A imagem usada por Isaías fala-nos do caminho a percorrer e da necessidade de tornar mais seguro e mais visível este caminho, para que todos possam passar por ele, para que todos possam ver a glória de Deus. Nesse sentido, o Arauto de Sião, tem que elevar a voz para se fazer ouvir. Se há uma Boa Nova então deve ressoar por toda a terra: «Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará. Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».
4 – O salmo também afina pelo mesmo diapasão. Respondemos à Palavra de Deus com a certeza que Ele nos salva e nos conduz por caminhos de retidão e de justiça.
“Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis. A sua salvação está perto dos que O temem e a sua glória habitará na nossa terra. Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade, abraçaram-se a paz e a justiça. A fidelidade vai germinar da terra e a justiça descerá do Céu. O Senhor dará ainda o que é bom e a nossa terra produzirá os seus frutos. A justiça caminhará à sua frente e a paz seguirá os seus passos”.
A promessa de Deus aponta para o futuro, mas compromete-nos com o presente, pois Deus não cessa de nos abençoar com os Seus dons, de nos proteger com o Seu amor, de nos guiar pela verdade e pela paz.
Não ponhamos obstáculos à misericórdia de Deus para que se manifeste em nós e através de nós em todos aqueles e aquelas que encontrarmos no nosso peregrinar. Peçamos ao Senhor a sabedoria para O descobrimos nos irmãos e para O amarmos nos mais pequeninos. “Concedei, Deus omnipotente e misericordioso, que os cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo, mas que a sabedoria do alto nos leve a participar no esplendor da sua glória”. O caminho que nos conduz a Ele liga-nos aos irmãos. Não estamos sozinhos, não seguimos isolados, mas como família.
Quem se isola, por egoísmo, atraiçoa a sua vocação primordial, chamado à vida em comunidade, construindo a fraternidade, perde-se, desligando-se dos outros, renunciando à identidade social, cultural e religiosa.
5 – São Pedro, na segunda leitura, fala-nos da promessa cumprida com a vinda de Jesus, com o mistério da Sua morte e da Sua ressurreição, salvação para todos os povos, mas aponta também para a segunda vinda do Senhor, como um tempo de alegria e de festa.
Por um lado, a certeza de que “um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia”. Por outro, a convicção de que o Senhor não tardará a cumprir a Sua promessa, sublinhando a paciência amorosa de Deus que nos dá tempo para nos convertermos a Ele de todo o coração e a agirmos em conformidade.
O Apóstolo aponta para o dia do Senhor, sem deixar de sublinhar e garantir a misericórdia do Senhor. O Dia do Senhor virá como um ladrão, não sabemos o dia nem a hora. Não temos que nos afligir, cabe-nos viver agora, o tempo presente, como dom e tarefa. “Uma vez que todas as coisas serão assim dissolvidas, como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus… Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça”.
O tempo que Deus nos dá é para vivermos na alegria, na paz e na justiça, assumindo-nos, como Ele nos assume em Cristo, como irmãos, como família. A espera antecipa a alegria do encontro definitivo com o Senhor Deus, mas, ao mesmo tempo, a espera ativa por tornar este mundo mais saudável. “Enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz”.
Se esperamos comprometidos com os outros, em atitude de verdade e de serviço, estaremos em paz e confiantes em sermos levados, em definitivo, à presença do Senhor.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (ano B): Is 40, 1-5. 9-11; Sl 84 (85); 2 Pedro 3, 8-14; Mc 1, 1-8