Domingo III do Advento – ano B – 13 de dezembro de 2020

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Domingo III do Advento – ano B – 13 de dezembro de 2020

1 – “Deus de infinita bondade, que vedes o vosso povo esperar fielmente o Natal do Senhor, fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria”.

A oração é o primeiro passo para uma alegria que vai muito para além do contentamento, uma alegria que é promessa, fidelidade e confiança. Se queremos alguma coisa, pedimos aos amigos e à família. Quando rezamos dirigimo-nos a Alguém em quem confiamos e, sobretudo, a Alguém que confia em nós. Se temos Alguém em Quem confiar, então isso é motivo de alegria e de descanso, mesmo se pelo caminho encontrarmos contratempos, pois sabemos que Alguém nos protege, nos estende a mão, nos conforta e nos encoraja a levantar-nos, a caminhar, a prosseguir.

No terceiro Domingo de Advento, celebramos a alegria, aquela alegria de sabermos que somos amados e que somos filhos de um Deus que é Pai. Na proximidade do Natal, a garantia de que Deus chega até nós, não como um estranho, um desconhecido, não como uma “autoridade” ou um juiz, chega como um de nós, Deus connosco, nascendo na mesma carne e no mesmo sangue, nos mesmos condicionamentos espácio-temporais e com as fragilidades que nos caracterizam como seres humanos, finitos e limitados, mas com o sonho do Infinito ao qual somos chamados e para o qual fomos criados.

2 – A alegria não é filosofia ou reflexão, a alegria comunica-se com o corpo todo, com a postura, com o olhar, com a dança, com o sorriso, com as palavras e som, com o brilho do rosto, com a posição corporal. Não se esconde a tristeza, muito menos se esconde a alegria que brota das nossas entranhas. É esta alegria que João Batista anuncia. Já no seio de sua mãe, João exultava de alegria. É para essa Alegria maior que veio ao mundo, com a missão de apontar o caminho, de preparar os corações, para limpar o olhar de cada um de nós, a fim de vermos e reconhecermos a Alegria que nos traz Deus, nos traz a eternidade.

“Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”.

A alegria de João Batista é mostrar Aquele que vai chegar, Aquele que já se vislumbra no horizonte. «Eu não sou o Messias… Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías… Eu batizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».

O Precursor tem consciência da sua missão. Chegou a ter um grupo considerável de discípulos, mas não perdeu o foco nem a humildade. Perguntam-lhe se era o Messias, se era Elias, se era o Profeta! A resposta é a mesma: não, não Sou. Poderá ter-se sentido tentado a enveredar por outra narrativa? Tudo indica que nunca perdeu a humildade nem a fé, nem a consciência da sua missão.

3 – A proximidade dos acontecimentos, o regresso e o reencontro da família e dos amigos, a vinda de alguém que muito estimamos provoca satisfação e alegria, com um pouco de ansiedade à mistura. É sobejamente conhecida a afirmação da Raposa ao Principezinho, e que já trouxemos aqui algumas vezes: “Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, eu, a partir das três, já começo a ser feliz. Quanto mais se aproximar a hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já estarei agitada e inquieta; descobrirei o preço da felicidade! Mas se vieres a qualquer hora, ficarei sem saber a que horas hei de vestir o meu coração…”.

Nós sabemos que o Senhor vem em cada homem e em cada tempo. Isaías, num tempo bem longínquo, entrevê a chegada do Emanuel e, com Ele, um tempo de graça e de salvação, de justiça e de paz. “O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor”.

Um mundo de justiça solidária, de reabilitação dos excluídos, de inclusão dos pobres, refazendo a integridade de pessoas e de povos. É esta certeza, esta promessa, que se antecipa nas palavras de Isaías, que dão forma e cor à alegria: “Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas joias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações”.

4 – Alegria e louvor por todas as maravilhas que Deus opera no Seu povo. Oração e serviço. Coração que se fixa no Senhor, é coração que presta atenção aos outros e cuida para que tenham vida e vida em abundância.

Como salmo, neste Domingo, temos o Magnificat, oração com que Nossa Senhora reconhece as maravilhas do Senhor, realizadas no Povo eleito, e visíveis n’Ela, mas também a favor de todos.

“A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu-os de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia”.

O que líamos e meditávamos em Isaías, está aqui expresso em forma de oração e ação de graças, de louvor e desafio. Toda a oração, que é autêntica, compromete-nos com o que rezamos ou com o que pedimos, num compromisso, não apenas pessoal, mas extensível a todas as pessoas que Deus coloca na nossa vida.

Maria louva o Senhor e deixa que Deus mostre a Sua grandeza e o Seu amor, manifestando-Se n’Ela e através d’Ela. Com efeito, logo depois da Anunciação, Maria põe-se a caminho, vai comunicar a Alegria que a habita e ajudar Isabel no que necessitar. Maria tem pressa em comunicar a vida, a Alegria que chega do Céu, em anunciar Jesus, em atrair outros para esta Presença!

5 – A alegria que nos vem de Cristo, Deus connosco, no tempo como da eternidade, é uma alegria que permanece como origem, como sustentáculo e como meta da nossa vida, é chão e céu, é interior e exteriorizável, é vida acolhida e agradecida, é dom que se deve converter, constantemente, em bênção. Esta nunca é individualista. Quem acolhe a bênção de Deus e se sente abençoado vai fazer com que essa bênção se espalhe e se multiplique, através das palavras e das obras.

A alegria visita-nos, invade-nos, nasce e amadurece em nós, transforma-nos e converte-nos, envia-nos como missionários da Boa Nova da redenção, a alegria de nos sabermos dom, de nos sabermos amados e eleitos por Deus. Em Cristo, Deus traz-nos a alegria do Céu, a certeza da vida que é salva pelo amor.

O Apóstolo relembra-nos os motivos da nossa alegria maior e desafia-nos a permanecermos contagiados pelo amor de Deus para contagiarmos os outros com a nossa alegria e com a nossa paz. “Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas”.

Podemos esperar em Deus, alegres e vigilantes, pois sabemos que Ele cumpre as promessas que nos faz. Ele vem, veio e virá, em cada homem e em cada tempo, através de mim e de ti. Não apaguemos a chama da vida que fumega em nós, mas cuidemos para que aqueça o coração de todos os que se aproximarem de nós e de quem nós nos vamos aproximar, ao jeito de Jesus, que Se faz próximo de todos, gastando-se por inteiro, sem guardar nada para Si, sem reservas nem condições, até ao último fôlego, até à última gota de sangue. Tudo por amor, tudo para transparecer a bênção de Deus e gerar a todos nesta vida nova e abundante.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Is 61, 1-2a. 10-11; Sl: Lc 1, 46b-48. 49-50. 53-54; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8. 19-28.