Domingo IV do Advento – ano C – 2021

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Domingo IV do Advento – ano C – 2021

1 – O Evangelho de São Lucas abre praticamente com visitação do Anjo Gabriel a Zacarias e a Maria, uma virgem desposada com um homem chamado José. Cada uma das visitações traz um anúncio. Zacarias e Isabel vão ser pais, apesar da idade avançada. Para eles, a idade de serem pais já tinha passado, já se tinham conformado com essa “maldição”. Apesar disso, são tementes a Deus, justos e cumpridores da Lei, procedendo irrepreensivelmente segundo os mandamentos e preceitos do Senhor. A Deus nada é impossível. Deus opera para além dos nossos limites racionais e torna viável o que é inalcançável, favorecendo-nos com a Sua benevolência. É inacreditável. Zacarias fica sem palavras. Não há palavras que possam expressar o inaudito que nos chega de Deus. Estamos longe de nos apercebermos de quanto bem Deus faz por nós ou coloca ao nosso alcance!

2 – A visitação do Anjo a Maria tem um propósito que alterará para sempre a história da humanidade. Mesmo para os que não acreditam, contestam ou se manifestam indiferentes, Aquele que está para vir ao mundo deixará marcas na pequena cidade de Nazaré, em Belém, em Jerusalém e no mundo inteiro. Nada, nunca será como antes. “Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo… conceberás e darás à luz um filho, e chamá-lo-ás Jesus. Ele será grande e será chamado Filho de Deus Altíssimo”. Sim, como é possível! Deus a nascer de uma jovem, humilde, campónia, como será isso? Diante de tão grande assombro, Maria confia no anúncio que lhe é feito e predispõe-se a ser parte do mistério salvífico: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Deus chama, desafia, espera por nós, confiando no nosso discernimento! Maria responde e confia na fé que A liga a Deus. O seu “sim” assenta na intimidade com o Senhor. Ela alimenta-se de oração, é cheia de graça!

3 – A palavra de Deus desinstala-nos, inquieta-nos, põe-nos em movimento. Mau será quando a Palavra de Deus já não nos inquietar, quando nos deixar ficar como antes e/ou sentadinhos à espera que a vida aconteça. A palavra de Deus é viva e eficaz! Mas a sua eficácia também depende do nosso sim, da nossa vontade em Lhe respondermos. Esta resposta tem duas direções: Deus e próximo.

A Virgem Maria mostra-nos como se faz!

Depois de tão grandes novas, Ela podia fazer-se grande, orgulhar-se de ter sido a escolhida, mas continua ser serva, disposta, em tudo, a ser prestável. Não reserva tempo para refletir, para festejar, para medir as consequências, as dificuldades que possam vir pela frente. Não pensa no futuro. Sabe que pode confiar. Confia absolutamente em Deus. Maria levantou-se, diz-nos o Evangelho, e foi apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá (Ein-Karim, seis quilómetros a oeste de Jerusalém), e entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

Maria levanta-se e parte apressadamente, como mulher da caridade, vai ajudar Isabel nos últimos tempos de gravidez, e como mulher missionária, transportando a Alegria que contagia aqueles que encontra. Isabel fica cheia do Espírito Santo: “Eis que quando a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança soltou de júbilo no meu ventre”.

Como Maria, levantemo-nos e vamos apressadamente anunciar o Evangelho, com a voz e com a vida.

4 – O que nos faz correr é a fé revelada, vivida e comunicada em Jesus Cristo, que vem da eternidade para entranhar no mundo o amor do Pai e nos fazer participantes da vida divina. Deus sempre está perto de quantos o invocam de coração sincero. Não está apenas nos bons momentos como uma ideia vaga de Alguém que cuida de nós e nos protege, mas está em todo o tempo, também ou sobretudo nos momentos de aflição, cuidando de nós. É, com efeito, nesses momentos que a nossa oração terá que ser mais intensa, mais amadurecida, mais confiante e mais despojada.

A vinda do Messias, o Emanuel, Deus connosco, insere-se nas promessas de Deus e na certeza que Ele não abandona a obra das Suas mãos, do Seu amor. «De ti, diz o Senhor, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel… Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».

Entenda-se, Deus não Se afasta, o povo é que O coloca à margem, procurando, como Adão e Eva, e Caim, viver como se Ele não existisse ou como se fosse um adversário da nossa afirmação e da nossa felicidade. Temos que caminhar, rezar, para fazermos, novamente, a experiência da Sua presença entre nós.

5 – Não havendo muitos dados sobre Nossa Senhora, nos Evangelhos, como em todo o Novo Testamento, há os suficientes para nos dizerem que Maria é uma mulher de fé, simples, dócil, atenta aos sinais de Deus, talvez mística, a viver num ambiente pacífico, orante, numa família fiel aos preceitos da Lei de Moisés.

Só num ambiente orante é possível ser-se místico, escutar a voz de Deus, perceber a Sua presença e reconhecer a Sua vontade. Por conseguinte, neste tempo de Advento, que nos prepara para o Natal e nos faz viver, sempre, inseridos no mistério pascal, a oração há de ser o combustível que alimenta a nossa fé, clarifica a nossa esperança e fortalece o nosso cuidado pelos irmãos.

A abrir a celebração, suplicamos: “Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela anunciação do Anjo conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição”. A glória da ressurreição está reservada, não apenas para a eternidade, para o momento da nossa morte, mas para o presente histórico, aqui e agora, concretizável em todo o bem que façamos em nome de Jesus Cristo.

Com o salmista, pedimos que o Senhor venha em nosso auxílio. Por outras palavras, que deixemos que o Senhor Deus aja em nossos corações, na nossa vida e no mundo, tornando-nos seus mensageiros e ativando o Seu amor em nós e na terra que habitamos. “Pastor de Israel, escutai… Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio… Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós… Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes”.

A nossa prece é acompanhada de um compromisso: “Nunca mais nos apartaremos de Vós, fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome”.

6 – Há oito dias, a multidão, os soldados, os publicanos perguntavam a João Batista o que deveriam fazer para mudar de vida, para efetivarem a conversão. São João Batista responde com recomendações concretas e realizáveis, como a opção pela justiça, pela verdade e pela não violência, o usar a profissão, não para explorar, mas para ajudar, vivendo honestamente.

Hoje visualizamos a postura de Nossa Senhora: levanta-se e vai apressadamente, a anunciar a Boa Nova e a assegurar-se que a sua prima Isabel tem a ajuda que precisa. Para isso, Maria deixa a comodidade da casa e da terra e parte sem calcular perigos nem dificuldades.

Na segunda leitura, Jesus é-nos apontado como modelo de filho e de “discípulo” do Pai. Jesus vem para nos redimir e para nos ensinar a viver segundo a vontade do Pai, que nos quer bem e a viver harmoniosamente, sendo auxiliares uns dos outros.

«Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».

A verdadeira transformação opera-se a partir do interior, mesmo que os sinais e situações exteriores possam despertar-nos para essa conversão interior. No mistério pascal, “fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre”. Cabe-nos colocar a render os dons e os talentos e ativar a vida nova que recebemos do Senhor.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia (ano C): Miq 5, 1-4a; Sl 79 (80); Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45.