Domingo IV da Quaresma – ano A – 2023
1 – Jesus é a ÁGUA VIVA, Aquele que definitiva e plenamente responde aos nossos anseios mais profundos, saciando a nossa busca de sentido (3.º Domingo da Quaresma). É a LUZ que ilumina o nosso peregrinar, o bom PASTOR que nos conduz às águas calmas, a pastagens verdejantes (Salmo); destrói a nossa cegueira (Evangelho), desperta o nosso coração para reconhecermos os outros como irmãos. É a RESSURREIÇÃO e a VIDA. Faz-nos passar da morte à vida, ressuscitando-nos com o Seu amor e com a Sua entrega (próximos Domingos).
2 – A palavra de Deus proposta para este 4.º Domingo da Quaresma – Laetare – incentiva a ver além das aparências (1.ª Leitura), a iluminar a nossa visão com a luz da fé, para dessa forma abandonarmos as trevas e as obras do mal (2.ª Leitura), vendo a vida e os outros com o olhar de Jesus, Ele ajuda-nos a ver com amor e bondade (Evangelho), levando-nos pela mão, como o Pastor (Salmo).
3 – Samuel é enviado a Belém, para ungir um descendente de Jessé. Ele será o novo Rei de Israel. O profeta deixa-se levar pelas aparências e de cada vez que um dos filhos de Jessé lhe é apresentado ele tem a certeza que será o escolhido de Deus. Samuel repara na beleza, na estatura, na robustez, ou seja, nos aspetos que são visíveis ao primeiro olhar. O escolhido de Deus não está visível, é aquele que não faz parte da contagem, um simples pastor, insignificante, criança ainda, franzino, no qual não se divisa futuro. «Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração».
Chegada a plenitude dos tempos, Jesus será o novo David, o verdadeiro Pastor de Israel, cuja fragilidade será a salvação da humanidade inteira. Julgar-nos-á pelo amor!
4 – Com a Sua morte e ressurreição, Jesus introduz-nos numa nova criação. Pela água e pelo Espírito Santo passamos da morte à vida, das trevas à luz. Se somos filhos da luz e do dia, pratiquemos o que é justo e agradável ao Senhor do dia e da noite. O nosso compromisso com os outros tem a sua origem na gratuidade do amor de Deus para connosco. Sugestivas palavras de Bento XVI: «O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade – Caritas in Veritate –, do qual procede o desenvolvimento autêntico, não o produzimos nós, mas é-nos dado». Ajudar os outros não primeiramente por eles, ou por nós, mas respondendo, antes de mais, ao próprio amor de Deus e Sua predileção pelos mais pobres.
“Outrora vós éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz, porque o fruto da luz é a bondade, a justiça e a verdade. Procurai sempre o que mais agrada ao Senhor. Não tomeis parte nas obras das trevas, que nada trazem de bom… «Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e Cristo brilhará sobre ti».
5 – No encontro de hoje, Jesus faz-Se caminho e luz para aquele cego de nascença. Jesus adentra-se na sua vida. A Sua mensagem, e a Sua vida, não é um discurso genérico à humanidade, é um encontro com pessoas concretas, de carne e osso, materializa-se em gestos de bondade e misericórdia. A própria Encarnação é já esta marca de “localizar” o amor de Deus.
Para lá da cura do cego de nascença, Jesus sinaliza, simbólica e espiritualmente, a Sua missão de nos devolver a vista, libertando-nos das cadeias injustas, das trevas que dificultam a nossa relação com os outros.
Pelo caminho, exige-se a nossa cooperação. Não somos marionetas nas mãos de Deus. Ele cria-nos livres para amar. Liberta-nos pela verdade e pela doação da Sua própria vida. O Seu amor desafia sem forçar. Será sempre uma proposta de vida nova.
É no mundo que encontramos, pelo Espírito Santo, a redenção de Cristo. Ele utiliza ferramentas que estão no mundo. Com efeito, Jesus “cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego”. Vem depois a proposta para ficar curado: «Vai lavar-te à piscina de Siloé». Ele fez como Jesus lhe ordenou, lavou-se e ficou a ver. Purificados na água e no Espírito também nós ficamos a ver…
Mais cego é quem não quer ver. Neste ditado popular encontrámos a resistência à Palavra de Deus por parte dos fariseus de ontem e de hoje. A salvação é colocada ao nosso alcance por Jesus, mas por vezes ainda arranjamos umas desculpas para não ver, para não fazer, para não nos comprometermos.
Tocados pela misericórdia de Deus, a missão de anunciarmos o Seu amor ao mundo inteiro, como o faz o cego de nascença: «… a verdade é que Ele me deu a vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer».
6 – A fé, como certos iluminados quiseram fazer crer, não é obscurantismo, é LUZ que nos desperta para o que de melhor há em nós, permitindo-nos ver além das aparências, ver a partir do coração, ver com o olhar de Jesus Cristo. Diante da Samaritana e do Cego de Nascença, Jesus não Se esconde, revela-Se pelas palavras e pelos gestos. (Serás tu o Messias?) «Sou Eu, que estou a falar contigo», «Já O viste: é quem está a falar contigo».
E agora? Que fazer com esta revelação? Também nós estamos diante do Senhor? Vemo-l’O, ouvimo-l’O? Como a Samaritana e como o Cego de nascença, damos testemunha acerca d’Ele?
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (A): 1 Sam 16, 1-13; Sl 22 (23); Ef 5, 8-14; Jo 9, 1-41.