Domingo de Páscoa – 2021

Sepulcro aberto

Watch Now

Download

Domingo de Páscoa – 2021

1 – Eis o Dia do Senhor, Domingo da Ressurreição, alegremo-nos e exultemos de alegria. É Páscoa, vida nova, ressuscitada, novos céus e nova terra, humanidade redimida pela oferenda de Jesus até à Cruz, abaixando-Se para nos encontrar no sofrimento, no mal e na morte, fazendo-Se pecado, por amor, por nós, para nos elevar/ressuscitar e nos colocar, com Ele à direita do Pai.

Eis o Dia e a Luz, a madrugada, tempos novos, de graça, de salvação e bênção. Despertemos da noite, do sono, levantemo-nos, vamos. Corramos ao túmulo, se quisermos ver, como Maria Madalena, como Pedro e João, se quisermos ver os sinais que nos enviam para a Galileia, para Emaús, ao encontro dos outros discípulos, que nos reúnem como comunidade, como família.

Cristo morreu! É o lamento de sexta-feira santa. Tudo está consumado.

Cristo voltou à vida, por dom maravilhoso do amor de Deus. O Amor de Deus em Jesus Cristo é mais forte que as espadas, mais forte que a morte. Esta é a passagem, a Páscoa, da morte à vida, das trevas à luz, do medo à confiança, da dispersão à comunhão, da desolação ao encontro. É o anúncio prazeroso e feliz de Domingo!

2 – Maria Madalena guia-nos ao sepulcro e anuncia a Ressurreição, a Pedro e João, a mim e a ti. Ainda não encontrou palavras para nos explicar o que viu. O sepulcro vazio? O corpo roubado? Uma conspiração para eliminar as expetativas depositadas no Messias?

O texto de São João mostra-nos a Apóstola da Ressurreição, como gosta de dizer o Papa Francisco, a ir ao encontro de Pedro e do discípulo amado. Com eles, corramos ao túmulo. Com eles, adentremo-nos no lugar da morte. Com eles, verifiquemos que o corpo já não está ali, mas existem ali sinais que nos falam de vida, de ressurreição, de saída do túmulo. Não foi um assalto, feito pela calada da morte, à pressa, como tinha sido o julgamento, a condenação e a crucifixão; tudo está bem arrumado, com o sudário, que tinha estado na cabeça de Jesus, enrolado. Pedro viu e acreditou. O discípulo amado viu e acreditou. “Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”.

A ressurreição não é um acontecimento banal, usual, é um acontecimento inaudito, novo, não é uma conquista humana, científica, é intervenção de Deus. Ainda procuramos palavras para descrever a ressurreição, o voltar à vida, não biológica, mas gloriosa. O importante mesmo é a alegre e boa notícia: Jesus está vivo, no meio de nós, e, a partir do meio, nos atrai para constituirmos família.

3 – O Evangelho de São Marcos, proposto na Vigília Pascal, tem denominadores comuns com o evangelho joanino: Maria Madalena, a madrugada e a pressa em ir ao túmulo para ungir, para honrar o corpo de Jesus, demonstrando afeto, proximidade e delicadeza. Como o sepultamento foi feito à pressa para viver a páscoa (judaica), para não contaminar, com a morte, o sábado dedicado ao Senhor. As mulheres regressam na manhã do Primeiro Dia; ainda antes do sol se levantar já estão a caminho. Ao nascer do sol, já se encontram junto ao túmulo de Jesus. Com Maria Madalena vão outras mulheres, Maria, mãe de Tiago, e Salomé.

Um propósito e uma preocupação. O propósito é ungir o Corpo de Jesus, embalsamá-lo, conforme as tradições judaicas, tornando visível quanta afeição as liga ao Mestre da Vida. A preocupação é revolver a pesada pedra da entrada do sepulcro. Como é que três mulheres poderão arredar a pesada pedra que tapa a entrada do sepulcro? Se não conseguirem, se não aparecer ninguém para ajudar, o propósito que levam ficará por cumprir.

Chegadas ao sepulcro, são surpreendidas, a pedra já foi revolvida. Entram e encontram, no interior, “um jovem sentado do lado direito, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas”. A palavra de Deus faz-se ouvir através desse jovem ou desse anjo: «Não vos assusteis. Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui. Vede o lugar onde O tinham depositado».

Sinais! O túmulo não está vazio, está cheio de sinais. O lugar do corpo está ali, mas não Jesus. Há um enviado de Deus que lhes fala, que nos fala. Não se impõe. Anuncia e propõe, desafia a nossa fé e o acolhimento do mistério da nossa parte. Cabe-nos perceber os sinais que Deus nos dá em cada tempo. Os lugares e os tempos, os encontros e desencontros, a natureza e, sobretudo, as pessoas, falam-nos de Deus, falam-nos da vida e da fraternidade. Cabe-nos discernir esses sinais, abrindo o coração e a vida à boa notícia que Deus, sempre, nos traz.

4 – A boa notícia, a informação acerca de Jesus, não é para autocomprazimento, para regozijo pessoal ou para aumentar a cultura geral, mas é saber que se torna anúncio. Não há discípulos que não sejam apóstolos, que não sejam missionários. É como os dons, são dons enquanto estão ao serviço dos outros, de contrário serão teoria, hipóteses, possibilidades, mas não dons, não realidade. Não há tempo a perder. É AGORA!

Diz o Anjo às mulheres: «Agora ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia.  Lá O vereis, como vos disse».

Eis alegria do Evangelho, a Boa Notícia: Cristo, Filho de Deus, está vivo, está no meio de nós. As trevas foram vencidas pela luz. O medo deu lugar à confiança. Da morte ressurgiu a vida. O Crucificado ressuscitou. O amor venceu o pecado e a desolação. Não podemos calar; não podemos esconder; não podemos abafar o grito de júbilo, não podemos encerrar tão intensa luz. O sepulcro fica para trás. É tempo de partir. É tempo de apregoar a Boa Notícia. Ele não está na morte, não está no túmulo. Ele está onde há vida. Ele é vida, nova, ressuscitada, gloriosa. Ele encontra-nos, ponhamo-nos a caminho. Ele precede-nos. Sigamo-l’O.

5 – Uma grande alegria tende a espalhar-se, extravasa, não é possível guardar só para nós.

A Boa Notícia espalha-se, e os Apóstolos são surpreendidos por Jesus Ressuscitado. É agora que se tornam verdadeiramente apóstolos, missionários. Não deixam de ser discípulos – correriam o risco da dispersão e do engodo – mas vem ao de cima a missão evangelizadora.

O titubeante Pedro, agora anuncia Jesus com alegria e convicção. «Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele».

Como Jesus Se revelou e como agiu. E Pedro continua: «Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos». As aparições de Jesus sancionam tudo quanto os discípulos presenciaram durante a Sua vida pública.

Agora é tempo de partir, de ir, de anunciar em toda a parte, de testemunhar. «Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».

6 – Com o salmista, rezemos em jeito de louvor e ação de graças por tudo quanto o Senhor fez por nós. “Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria. / Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia. Diga a casa de Israel: é eterna a Sua misericórdia. / A mão do Senhor fez prodígios, a mão do Senhor foi magnífica. Não morrerei, mas hei de viver, para anunciar as obras do Senhor. / A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: e é admirável aos nossos olhos”.

7 – São Pedro, na primeira Leitura, diz-nos que Jesus passou fazendo o bem. É a marca de Jesus Cristo. Deu-nos o exemplo. Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Como Eu vos fiz, fazei vós também uns aos outros. O que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis.

O desafio é que o nosso coração bata ao ritmo do coração de Jesus. Ele que era de condição divina, assumiu-nos na nossa fragilidade humana, na nossa finitude, para nos ensinar a viver na intimidade do Pai e na certeza que a vida se cumpre pelo amor que é mais forte do que a morte. Depois da Sua ressurreição/ascensão, cabe-nos exercitar a nossa identidade e a nossa pertença. “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória”.

O convite do Apóstolo é claro: afeiçoar-nos às coisas do alto, tomar as feições de Jesus, procurando imitá-l’O no amor e no serviço a cada pessoa que encontrarmos no nosso caminho, especialmente aos mais pequeninos.

Podemos não mudar o mundo, mas demos os passos necessários, primeiro, um, depois, outro. Deixemo-nos preencher e transformar por Jesus, pelo Seu Espírito de Amor. “Não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa? Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma nova massa, visto que sois pães ázimos. Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado. Celebremos a festa, não com fermento velho, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com os pães ázimos da pureza e da verdade”.

Se o fermento for Cristo, for a fé que nos liga ao Ressuscitado, tornar-nos-emos bênção e luz uns para os outros, transformando os propósitos em vida que se gasta para que todos tenhamos vida e vida em abundância.

Com o auxílio da Virgem Santíssima não cessemos de comungar a vontade de Deus e transparecer Jesus!

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia: At 10, 34a. 37-43; Sl 117 (118); Col 3, 1-4 ou 1 Cor 5, 6b-8; Jo 20, 1-9.

Textos para a Vigília Pascal: Gen 1, 1 – 2, 2; Gen 22, 1-18; Ex 14, 15 – 15, 1; Is 54, 5-14; Is 55, 1-11; Bar 3, 9-15. 32 – 4, 4; Ez 36, 16-17a. 18-28; Rom 6, 3-11; Mc 16, 1-8