Domingo XIV do Tempo Comum – ano C – 2022

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Domingo XIV do Tempo Comum – ano C – 2022

1 – Seguir Jesus é a vocação primeira do cristão. Sem pausas nem descanso. Segui-l’O em todas as circunstâncias, a todo o momento. Para sempre. Até à eternidade. Para O seguir e para O imitar, para O viver e O anunciar é necessário estar perto d’Ele, ou melhor, abrir-Lhe o coração e a vida para que Ele nos habite e nos transforme, nos converta e nos redima, pelo Seu Espírito de Amor.

Não é possível amar o que não se conhece. O conhecimento é um primeiro passo para amar. Quanto mais se amar mais se quer conhecer e quanto mais se conhecer maior a possibilidade de amar a pessoa e não uma imagem da mesma. Precisamos de estar e permanecer perto de Jesus e deixar que Ele se aproxime de nós. Como Maria em casa de Marta. Aos pés de Jesus. Para sentir o pulsar do Seu coração. A oração é o ambiente natural para saber quem é Jesus para nós. Não se trata de saber muitas coisas acerca d’Ele. Também é importante. Mas essencial é saber quem é Jesus para nós. Recordemos as duas questões da semana passada: “Quem dizem as multidões que é o Filho do Homem?” e “Quem dizeis vós que Eu sou?”.

A missão começa na oração: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara».

A oração, a escuta, a meditação da palavra de Deus. O cristão, como a Igreja, deve ter a consciência da sua identidade lunar. Jesus Cristo é o nosso Sol. Cada um de nós, e a Igreja no seu conjunto, como a Lua, reflete a Luz que vem de Jesus. É iluminado por Jesus e reflete-O para os outros serem iluminados. Somos embaixadores e não chefes de estado. Comunicamos a Palavra de Deus, o Seu Evangelho. O embaixador não se comunica, mas comunica o seu povo, o seu governo, o que lhe disseram para dizer. Somos de Cristo. Somos cristãos. Sermos embaixadores de Jesus, como nos recorda São Paulo, é um privilégio e não uma humilhação. É um compromisso, para que Cristo viva em nós e através de nós chegue a todo o mundo.

2 – Somos discípulos missionários. Esta expressão ganhou corpo nas Assembleias Gerais do Episcopado da América Latina e Caribe, sobretudo em 2007, em Aparecida, no Brasil, na 5.ª edição, sob o tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”.

Bento XVI usa a expressão na Oração elaborada para esta Conferência: “Discípulos e missionários vossos, nós queremos remar mar adentro, para que os nossos povos tenham em Vós vida abundante e construam com solidariedade a fraternidade e a paz”. E no discurso inaugural clarifica a estreita ligação: “O discípulo, fundamentado assim na rocha da Palavra de Deus, sente-se impelido a anunciar a Boa Nova da salvação aos seus irmãos. Discipulado e missão são como os dois lados de uma mesma medalha: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que somente Ele nos salva (cf. Atos 4, 12). Efetivamente, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não existe esperança, não há amor e não existe futuro”.

O Papa Francisco, utiliza esta expressão, habitualmente, sem a conjunção aditiva “e”. No Documento Final de Aparecida, da qual foi relator-presidente, ainda Arcebispo de Buenos Aires, ou na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (A Alegria do Evangelho), acentua o perigo da autorreferencialidade do cristão e da Igreja. O centro, o SOL, é Jesus Cristo. Devemos d’Ele aprender a vida e o amor, a verdade e o serviço. Discípulos: para O darmos aos outros, levando a todos os Evangelho de Jesus. Missionários: não em separado, mas concomitantemente. Não podemos ser missionários se não formos verdadeiros discípulos do Senhor. Sendo discípulos autênticos procuraremos imitá-l’O e como Ele anunciar a Boa Nova a todos. A luz que nos habita não se pode esconder.

3 – “Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho”. Para seguir Jesus é necessário deixarmos de lado todos os acessórios que nos pesam. Ele envia-nos. A leveza depende se seguimos nas asas de Deus ou nos arrastamos com as nossas coisas. A missão evangelizadora urge. Ele não nos chama para ficarmos instalados à sombra da bananeira, mas para agirmos, para falarmos, para passarmos palavra, para irmos ao encontro dos outros. De aldeia em aldeia. De cidade em cidade. De coração a coração. Não há desculpas nem justificações. “Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus”. Podemos sempre adiar, arranjar outras coisas que fazer, mas serão sempre passatempos, porque a missão é seguir Jesus e dá-l’O aos outros.

“Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’. E se lá houver gente de paz, a vossa paz repousará sobre eles; senão, ficará convosco. Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa”.

Não é uma mensagem qualquer que levamos, mas o próprio Jesus e a paz que Ele nos dá. Não é pouca coisa. É tudo. Só Ele conta. Vamos para levar a paz e a bênção e a salvação de Jesus. E se vamos, comprometemo-nos com as pessoas. Não é para andar a saltar, é para permanecer e deixar marcas positivas, semeando a Palavra de Deus.

“Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem, comei do que vos servirem, curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino de Deus’. Mas quando entrardes nalguma cidade e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: ‘Até o pó da vossa cidade que se pegou aos nossos pés sacudimos para vós. No entanto, ficai sabendo: Está perto o reino de Deus’”.

A fé não se impõe, propõe-se. Se alguém recusar Jesus, não percamos tempo a forçar. É Deus que age. Deixemos que Deus atue, através do tempo. Façamos o que nos compete: anunciar o Reino de Deus e a Sua proximidade. Se não nos escutarem, é a Cristo que não escutam. Avancemos para outras cidades e aldeias, para outros corações que estejam sedentos da Palavra de Deus.

4 – Quando levamos Deus às pessoas, levamos-lhe a alegria, a bênção e a paz. Aqueles setenta e dois discípulos que Jesus envia, ainda em estágio, levam uma mensagem específica, a paz e a proximidade do Reino de Deus, como proposta e desafio.

O profeta Isaías, na primeira leitura, convida à alegria e à festa. O luto e as trevas serão absorvidas pela presença e misericórdia de Deus. «Farei correr para Jerusalém a paz como um rio e a riqueza das nações como torrente transbordante. Os seus meninos de peito serão levados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados. Quando o virdes, alegrar-se-á o vosso coração e, como a verdura, retomarão vigor os vossos membros. A mão do Senhor manifestar-se-á aos seus servos».

O salmista faz eco deste júbilo e do convite ao louvor: “Aclamai a Deus, terra inteira, cantai a glória do seu nome, celebrai os seus louvores, dizei a Deus: «Maravilhosas são as vossas obras». A terra inteira Vos adore e celebre, entoe hinos ao vosso nome. Vinde contemplar as obras de Deus, admirável na sua ação pelos homens”.

5 – Para nós cristãos, Jesus é a vinha do Senhor, o Reino de Deus entre nós, o Rosto e a presença da Misericórdia do Pai. Desce para nos elevar, faz-Se pecado para nos santificar, morre para nos ressuscitar, humilha-Se para nos exaltar. “Deus de bondade infinita, que, pela humilhação do vosso Filho, levantastes o mundo decaído, dai aos vossos fiéis uma santa alegria, para que, livres da escravidão do pecado, possam chegar à felicidade eterna” (oração de coleta).

Jesus torna-nos novas criaturas com a Sua paixão redentora. Ele liberta-nos do pecado e da morte, para vivermos ressuscitados. Uma vez ressuscitados, pelo batismo, seguimo-l’O como discípulos missionários. Procuremos identificar-nos cada vez mais com Ele para O transparecermos pela voz e pela vida, atraindo outros.

São Paulo, na humildade da fé, aponta para Jesus: “Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo… Doravante ninguém me importune, porque eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus. Irmãos, a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito”.

Ao dirigir-se aos Gálatas, Paulo alerta para os perigos da divisão e de lideranças que afastem de Jesus Cristo e do Seu evangelho de verdade e de serviço, reavivando a boa semente neles semeada, lembrando-lhes a necessidade da firmeza da fé e da fidelidade a Jesus. Paulo não se anuncia, mas a Cristo Jesus. Também ele é embaixador de Jesus. E nós? Queremos ser o centro do mundo ou colocamos Deus no centro? Prosseguimos comos discípulos missionários ou preferimos anunciar-nos a nós mesmos?

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Is 66, 10-14c; Sl 65 (66); Gal 6, 14-18; Lc 10, 1-12. 17-20.