Solenidade da Epifania do Senhor – 2022

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Solenidade da Epifania do Senhor – 2022

1 – «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor».

A abrir a liturgia da palavra da Epifania do Senhor, que apresenta a vinda dos Magos a Belém e adoração do Deus Menino, surge este convite à alegria confiante, à exuberância diante da Luz que irradia por toda a terra, quebrando e destruindo as trevas. É uma promessa que nos enche de esperança, pois assenta na fidelidade de Deus e da(s) Aliança(s) que estabeleceu com o Povo eleito e, nesta eleição, com as nações da terra inteira.

Isaías prossegue num tom de abundância: «Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos… sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações».

A concluir este desafio, a referência, mais ou menos evidente, aos Magos que virão do Oriente: «Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor».

2 – «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O».

Chegados a Jerusalém, uns Magos, vindos do Oriente, colocam a cidade em alvoroço. O rei Herodes, ao ouvir tais palavras ficou perturbado e com ele os que viviam à sombra e sob a dependência do palácio real e das suas decisões. Reunidos os príncipes dos sacerdotes e os escrivas do povo, Herodes obtém a resposta sobre o local onde deveria nascer o Messias: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’».

A preocupação de Herodes reveste-se, imediatamente, de artimanha. Manda chamar, em segredo, os Magos para colher deles informações precisas acerca do tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois envia-os para Belém, ficando descansado no Palácio, certo que eles lhe trarão as informações necessárias: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O».

Como antes, os Magos seguem na sua busca pelo Messias. Logo que deixam a azáfama de Jerusalém voltam a encontrar a estrela e deixam-se guiar por ela, até Belém (= casa do pão), Jesus é o Pão da vida! A estrela para no lugar onde está o Menino.

3 – Os Magos são buscadores de Deus. Há quem se afaste de Deus através dos estudos. Há quem, pela ciência, se encontra com o Criador, o Senhor que faz belas todas as coisas. Os magos deixam-se surpreender por aquela estrela. Sabem que é diferente. Diferente de todas as que já tinham visto até ali. O Rui Veloso, numa magnífica canção, diz que já não há estrelas! Mas a verdade é que continua a haver estrelas. Algumas guiam-nos para Belém outras guiam-nos para ninguém. A luminosidade das estrelas torna o Céu mais claro para vislumbrarmos o que nos vem do alto.

Há quem tenha a graça de encontrar Deus, através da família e/ou do ambiente em que nasceu e cresceu, por meio de algum acontecimento impactante, na oração intensa, na sinceridade da procura. Há quem já tenha ouvido falar d’Ele, mas nem sempre guiado pelas estrelas que conduzem a Jesus. Aquela estrela despertou os Magos e fez com que eles se pusessem a caminho. Esta é a atitude que deveremos imitar: estar atentos aos sinais que vêm de Deus; discernir sobre as estrelas para seguirmos as que nos levam a Jesus; coloquemo-nos a caminho. Talvez muitos tenham visto a estrela, mas só os magos se puseram a caminho.

Vivemos num mundo, hoje mais do que no passado, em que os desafios são vários e as propostas são milhentas, algumas revestidas a ouro, mas que escondem egoísmo, maldade e jogos de poder. Há que saber discernir e para tal o primeiro passo é a oração, a invocação do Espírito Santo.

4 – A alegria dos Magos redobra quando veem a estrela a fixar-se onde se encontra o Menino. Entram em casa e veem o Menino, com Maria, Sua Mãe. Prostram-se diante d’Ele e adoram-n’O, abrem os seus tesouros e dão-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.

Deus não nos pede o impossível, pede-nos o melhor de nós. Os Magos dão o melhor que têm, os seus tesouros. Não guardam para si o que pertence ao Senhor. Os presentes têm também um simbolismo que fazem reconhecer a realeza, a divindade e a humanidade (mortalidade) d’Aquele Menino.

“Olhai com bondade, Senhor, para os dons da vossa Igreja, que não Vos oferece ouro, incenso e mirra, mas Aquele que por estes dons é manifestado, imolado e oferecido em alimento, Jesus Cristo, vosso Filho, Nosso Senhor”.

O encontro com Jesus faz-nos regressar à vida com outra alma. Como os Pastores, também os Magos voltam para os seus afazeres, mas regressam por outro caminho. Intuem as trevas de Herodes. Deus continua a revelar-Se, agora através dos sonhos e eles escolhem seguir por outro caminho. Nada será como antes. Isto diz-nos respeito. A alegria já é imensa quando as estrelas nos falam, apontam, nos mostram Jesus! A alegria há de preencher-nos por inteiro no encontro com Jesus. Este encontro há gerar vida nova na vida de todos os dias, na opção firme pela verdade, pelo bem, pelo serviço, pelo amor ao nosso semelhante.

Predisponhamo-nos a acolher a vontade de Deus: “Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o vosso Filho Unigénito aos gentios guiados por uma estrela, a nós que já Vos conhecemos pela fé levai-nos a contemplar face a face a vossa glória”.

5 – Os Magos são originários do Oriente, isto é, vêm dos confins da terra. Representam, dessa forma, a humanidade que se reúne de todas as nações para adorar o Senhor. Vêm de toda a parte para adorarem Aquele Menino, o Messias de Deus, que vem para todos, para os pobres, os pastores, para os eruditos, os magos, os que estão perto e os que estão longe, para as pessoas daquele tempo e para nós.

Diante do Senhor prostrar-se-ão “todos os reis, todos os povos o hão de servir. Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos” (Salmo)

Na segunda Leitura, o Apóstolo sublinha: “Nas gerações passadas, o mistério de Cristo não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho”.

O exclusivismo de alguns esbate com a universalidade da salvação. Deus é Criador e Pai de todos. Jesus revela-nos a bondade de Deus, a Sua misericórdia infinita. As promessas alcançam a sua plenitude com a vinda e a vida de Jesus.

O salmo, em tom orante, sincroniza-nos com a justiça e a soberania de Deus: “Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade. Florescerá a justiça nos seus dias e uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra”.

6 – O Cardeal Tolentino Mendonça ajuda-nos a rezar e meditar a Epifania do Senhor. Deixemo-nos guiar pela estrela que nos leva a Jesus e, com Jesus, aos nossos irmãos.

“Que a Tua estrela nos encontre disponíveis para a viagem

mesmo sem que percebamos tudo

Que o seu brilho nos torne pacientes

com as coisas não resolvidas do nosso coração

e nos ajude a amar as difíceis questões

que por vezes a noite, por vezes o dia segredam pelo tempo fora

Que a Tua estrela nos faça reconhecer

que nunca é tarde

para que se tornem de novo ágeis e sonhadores

os nossos passos cansados

pois nós próprios nos tornamos em estrelas

quando arriscamos perpetuar a Tua luz multiplicada”.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia (ano C): Is 60, 1-6; Sl 71 (72); Ef 3, 2-3a. 5-6; Mt 2, 1-12.