Domingo XXX do Tempo Comum – C – 2022

Watch Now

Download

Domingo XXX do Tempo Comum – C – 2022

1 – Jesus fala aos seus discípulos sobre a necessidade de orar sem desanimar, contando a parábola do juiz iníquo, que faz justiça à viúva pobre, não por convicção, mas para não ser incomodado constantemente. Conta outra parábola, noutra passagem, como temos ouvido e refletido, do homem que vai pedir três pães a casa do amigo, para preparar uma refeição para hóspedes que chegaram de viagem. Este amigo, já noite, já a descansar, atendê-lo-á, não pela amizade, mas para não continuar a ser perturbado. Assim, diz-nos Jesus, o nosso Pai do Céu não havia de fazer-nos justiça quanto antes e conceder-nos o Espírito Santo?

No evangelho deste Domingo, Jesus ensina-nos a humildade que a oração deve assumir. Deus bem sabe o que precisamos. Não necessitamos de nos elogiarmos diante d’Ele, Ele conhece o nosso íntimo, as nossas fragilidades e as nossas qualidades, os dons que nos dá e que nós desenvolvemos ou que ignoramos. Há muitas formas de rezar e motivações diversas. O louvor, a glorificação das Suas maravilhas, a gratidão pelos dons, há de ser a primeira fórmula da nossa oração, mas as circunstâncias levam-nos a suplicar, a interceder. E não há mal nisso, pois revela a fé na bondade e no poder de Deus. Só pedimos algo a alguém em que confiamos ou a quem nos pode ajudar.

2 – Dois homens subiram ao Templo para rezar, um fariseu e um publicano. Têm atitudes diferentes e o conteúdo da oração é distinta.

O fariseu dá graças, não tanto que é, mas por aquilo que o torna superior, diferente, melhor em relação aos outros: «Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos».

Na verdade, o que diz até pode corresponder e, portanto, será honesto no conteúdo da sua oração. Esta, porém, não precisa de comparação, precisa apenas de agradecer os dons e os benefícios recebidos. O fariseu coloca o acento em si mesmo, nos seus méritos, nas suas capacidades e feitos e não tanto na graça de Deus.

O publicano fica à distância, envergonhado, não quer ser visto por ninguém, e tem imensa dificuldade em levantar os olhos para o Céu, para o Senhor. Sabe que a sua vida depende de Deus e que não tem sido bom filho, mas confia na misericórdia divina: «Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador».

Reconhecer-se pecador significa assumir-se dependente de Deus e da Sua graça, do Seu perdão e da Sua misericórdia. Não se trata de ser escrupuloso, adoecendo com os remorsos, mas o reconhecer que, mais do que os nossos méritos, importa a graça de Deus a agir em nós. A sobranceria afasta-nos de Deus, pois nos colocamos no Seu lugar, e afasta-nos dos outros, pois temo-los como fracos e não merecedores de confiança. Conclui Jesus, dizendo: «Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

3 – Na primeira leitura, o sábio de Israel utiliza a imagem de Deus como um juiz, um juiz bom que não faz aceção de pessoas, não favorece ninguém, muito menos em desfavor do pobre ou do oprimido.

Com efeito, continua Ben Sirá, Deus «não despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça».

Mais do que a multiplicação das palavras, importa que estas saiam do coração, sejam sinceras, procurem acolher a bondade do Senhor, realizar a sua vontade, procurar saber, acolher e transmitir os Seus desígnios de amor. Ele conhece o nosso íntimo. Faça-se a sua vontade em nós.

Deus é justo e santo, quer a misericórdia, mais do que sacrifícios, mais do que a morte do pecador. O nosso louvor apoia-se na certeza de que Deus nos escuta, mesmo quando já não houver mais ninguém que o faça. «A toda a hora bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor: escutem e alegrem-se os humildes. / A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal, para apagar da terra a sua memória. Os justos clamaram e o Senhor os ouviu, livrou-os de todas as angústias. / O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido. O Senhor defende a vida dos seus servos, não serão castigados os que n’Ele confiam».

A linguagem do salmista insere-nos na confiança em Deus. A oração faz-nos colocar o nosso coração e a nossa vida nas mãos de Deus, pois Ele não nos há de falhar.

4 – Neste Dia Mundial das Missões, penúltimo Domingo de outubro, o Papa Francisco escolheu como temática para a mensagem deste ano: “Sereis Minhas testemunhas” (Atos 1, 8). Bem se pode dizer, que o Apóstolo São Paulo, o maior missionário de todos os tempos, assumiu esse mandato de ser testemunha de Jesus em todo o tempo e em toda a parte, e perante todos.

«O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos».

São Paulo recorda a Timóteo como muitos lhe viraram as costas, quando perseguido e preso. Porém, o apóstolo sublinha que teve a ajuda, proximidade, a companhia de um ou outro discípulo, salientando que o Senhor Deus sempre esteve a seu lado.

O Apóstolo apresenta a sua vida como um testemunho, permanente, do Evangelho: «Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé». O testemunho que dá, em vida, acerca de Jesus, tem plena confiança, corresponderá ao testemunho que Jesus dará dele junto de Deus Pai. «Já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda».

Repare-se, em contraponto com o fariseu, que Paulo não se coloca acima, numa condição superior aos outros, mas procura mostrar que a sua vida tem sido um contínuo compromisso em viver e anunciar o Evangelho. Mais do que mérito seu, di-lo muitas vezes, é a graça de Deus que operou nele a conversão, inspirando-o a ser instrumento da evangelização, anunciando a Palavra de Deus em todas as circunstâncias, vivendo e levando a toda a parte da revelação do mistério pascal, oferenda de Jesus Cristo e redenção da humanidade.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Sir 35, 15b-17. 20-22a; Sl 33 (34); 2 Tim 4, 6-8. 16-18; Lc 18, 9-14.