Festa do Batismo do Senhor – ano B – 10 de janeiro de 2021

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Festa do Batismo do Senhor – ano B – 10 de janeiro de 2021

1 – Somos cristãos. Filhos amados de Deus. Assumidos e reconhecidos por um Deus que é Pai, que nos entrega o Seu Filho, de Quem nos tornamos irmãos por ação do Espírito Santo. O Batismo, fazendo-nos mergulhar na água e no Espírito Santo, insere-nos na vida trinitária, na vida divina, tornámo-nos novas criaturas, enxertados no Corpo de Cristo que é a Igreja.

O Batismo transforma-nos, identifica-nos na pertença a Cristo, integrando um Corpo, um projeto de vida, o sonho de Deus, uma comunidade de irmãos (fraternidade), para acolhermos, em conjunto, as bênçãos de Deus na busca incessante da salvação, da harmonia entre todos, de entreajuda e de comunhão solidária.

Na vida de Jesus, o batismo, ainda que preparatório, mais simbólico do que efetivo, mais prelúdio do que mudança de estado, marca uma alteração profunda na Sua vida. Jesus, sendo filho de Deus, homem como nós, e Deus com o Pai, não precisava de ser batizado, não precisava de conversão, de mudança de vida. A realidade do batismo joanino também não é essa, é, sobretudo, um alerta, uma preparação, uma dinâmica que nos interpela a acolher Jesus, a chegada do Messias, a predispor-nos para reconhecermos e seguirmos o Enviado de Deus. João di-lo de forma clarividente: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».

Por aqueles dias, João Batista, o Precursor, eleva a voz, a partir do deserto, desafiando à conversão, anunciando a chegada de Alguém maior que vem para remir e congregar, para resgatar às trevas e iluminar os corações, para ser caminho seguro em direção ao Pai, para iniciar um tempo novo e fazer novas todas as coisas, para inaugurar um Reino de justiça e de paz, de amor e verdade.

2 – São Marcos, o evangelista deste ano, ciclo de leituras do Ano B, dá-nos uma informação sucinta, mas clarificadora. “Sucedeu que Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão. Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele. E dos céus ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência»”.

Os outros evangelistas dão-nos outros pormenores, tornando mais explícito o acontecimento, sendo que o essencial está aqui: Jesus foi batizado; o batismo permite saber, através de uma voz vinda do Céu, que Ele é o Filho Amado, no Qual o Pai coloca toda a atenção, amor e ternura.

Ouvindo a voz, vendo o Espírito descer sobre Ele em forma de pomba, a certeza que os Céus se rasgaram e Deus chegou até nós. Se Deus está no meio de nós, a postura da nossa vida terá de ser, obviamente, diferente. Quando recebemos uma visita em nossa casa que consideramos importante, preparamos a casa, os espaços, tudo no lugar certo, limpo e arrumado, bem perfumado, para que a visita se sinta verdadeiramente como se estivesse em sua própria casa. Se estiver tudo desarrumado, rapidamente a visita vai querer ir embora pois percebe que está a mais, está fora do sítio, foi um contratempo, não estávamos à sua espera, não nos preparámos e não cuidámos do espaço.

Saber que Jesus é Deus implica-nos, interpela-nos, compromete-nos. Se olhamos para Jesus como um homem importante, uma personagem histórica com relevo na transformação cultural e social do mundo, isso em nada altera a nossa vida, quando muito pode levar-nos a querer ser reconhecidos pelo que fazemos e pelas marcas que queremos deixar no mundo e nada mais. Porém, reconhecer que Deus vem até nós, habita em nós, vive no meio do nós, altera o compromisso, a pertença, a responsabilidade, pois, como refere Bento XVI, espera que Lhe respondamos, que respondamos ao Seu amor. Qual a resposta que Lhe queremos dar?

3 – “Deus eterno e omnipotente, que proclamastes solenemente a Cristo como vosso amado Filho quando era batizado nas águas do rio Jordão e o Espírito Santo descia sobre Ele, concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos pela água e pelo Espírito Santo, a graça de permanecerem sempre no vosso amor”.

A oração, com que iniciamos a Eucaristia deste Domingo, liga a profissão de fé ao compromisso com a fraternidade, a proclamação da Trindade com o empenho transformador do amor que nos irmana com os outros. Em Jesus, descobrimo-nos como irmãos, somos verdadeiramente guardas dos nossos irmãos. Se alguém sofre, sofremos conjuntamente, pois é uma ferida que nos toca, que nos diz respeito. Uma ofensa que façam a um irmão, é como se a mim a tivessem feito. O que fizerdes ao mais pequeno dos irmãos é a Mim que o fazeis. É a identidade de Jesus. Se n’Ele somos batizados, essa é também a nossa identidade.

A identidade de Jesus revelada, explicitada, no Batismo mostra que com Ele chegou até nós a salvação e a paz, a bênção e o amor pleno. «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações».

Ele não vem porque sim, como um rei que visita os seus súbditos para se fazer respeitar, para ser aplaudido, vem, pelo contrário, para ser um de nós, para caminhar connosco, mas nos congregar, para nos reunir como um Pastor reúne o seu rebanho, para que aprendamos, em definitivo, o caminho do bem e da fraternidade. Ele «não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças… proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra… Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».

O que diz o Profeta, comunicando a vontade de Deus, poderá referir-se ao Povo eleito, a um qualquer mensageiro que venha em Seu nome, mas é visível e pleno em Jesus Cristo.

4 – São Pedro, na segunda leitura, dos Atos dos Apóstolos, que hoje nos é servida, cinzela o retrato de Jesus: «Reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».

Está aqui o modelo, o paradigma. Jesus é Ungido pelo Espírito Santo e faz com que a Sua vida seja bênção e salvação para todos, sem exceções, trazendo e transparecendo Deus, nas palavras e nas obras, na vida e na morte, sem pausas nem bemóis, sem reservas nem condições.

Fomos batizados na morte e ressurreição de Jesus Cristo, por ação do Espírito Santo, tornámo-nos novas criaturas, irmãos de Cristo e, n’Ele, irmãos uns dos outros, fomos enxertados em Cristo, somos membros do Seu Corpo que é a Igreja. Ungido por Deus, Jesus passou fazendo o bem, curando e trazendo-nos a Paz que vem das alturas, que vem do Pai. E nós? Fomos batizados, somos cristãos, somos de Cristo, como é que nos identificamos com Ele? Como passaremos pela vida? Como queremos ser lembrados quando o nosso tempo se concluir?

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia (ano B): 1 Is 42, 1-4. 6-7; Sl 28 (29): At 10, 34-38; Mc 1, 7-11.