Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus – 2023

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Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus – 2023

1 – O primeiro dia do novo ano civil é preenchido pela Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus. A tónica é a de bênção, que se deseja para nós e para os outros, e para o mundo. Desde 1968, por decisão do Papa São Paulo VI, que o ano começa como Dia Mundial da Paz, num mundo sempre em construção, a precisar de paz e de justiça, de solidariedade e amor.

O mesmo Papa, na Encíclica “Populorum Progressio” (O desenvolvimento dos Povos), sustenta que a paz só é possível com o desenvolvimento, ou melhor, o desenvolvimento é outro nome da paz. Com efeito, a pobreza, a corrupção, a prepotência, as desigualdades sociais e as injustiças geram conflito, revolta, guerra entre pessoas, grupos, povos, regiões.

Por sua vez, o santo padre, o Papa Francisco, na sua mensagem para este novo ano coloca o nosso foco numa certeza: “Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir de covid-19 para traçar sendas de paz”.

A pandemia e as guerras em diversas partes do mundo, fizeram regressar em cheio o medo, o luto, as trevas, a desesperança. Há sentimentos e atitudes bivalentes. A pandemia trouxe ao de cima desigualdades abissais, mas também uma onda de solidariedade nunca vista. Do mesmo modo, a guerra, que sepulta esperanças, forçou novos compromissos para defender o bem-estar e a segurança na Europa e no mundo, e, espontaneamente, mostrou a capacidade de compaixão de muitas pessoas que, apressadamente, se puseram em campo para ajudar.

Com efeito, diz-nos o Papa, “assim, embora apareçam tão trágicos os acontecimentos da nossa existência sentindo-nos impelidos para o túnel obscuro e difícil da injustiça e do sofrimento, somos chamados a manter o coração aberto à esperança, confiados em Deus que Se faz presente, nos acompanha com ternura, apoia os nossos esforços e sobretudo orienta o nosso caminho”.

2 – Os pastores engrossam o número dos pequenos deste mundo: pobres, refugiados, desvalidos, uma multidão de excluídos das “bênçãos” do bem-estar, dos cuidados de saúde, do conforto, da participação na vida pública e política. Fazem parte do grupo dos que obedecem, por não terem outra hipótese. Não têm nem vez nem voz, sem generalizarmos, já que, no caso concreto, alguns são pastores “provisórios”, apascentam “alternadamente” os rebanhos da comunidade ou são os mais novos da família que deixam de o ser quando os irmãos mais novos têm a idade suficiente para os substituir. David, que se transformará no grande Rei de Israel, era pastor, por ser o mais novo dos irmãos. Em todo o caso, ao tempo de David e ao tempo de Jesus, os pastores são pessoas simples. Jesus é conhecedor do trabalho atento e duro dos pastores, com mil cuidados para não perderem nenhuma ovelha, levando-as a pastagens verdejantes. Protegem e cuidam. É o seu sustento, o seu trabalho, a sua vida. Também Ele se apresentará como pastor, o Bom Pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas, guiando-as para as melhores pastagens, provendo a que nenhuma se perca do redil.

Escutam os Anjos e logo partem! Há pressas que é preciso seguir. Em Belém (= A Casa do Pão e, portanto, casa da paz e da bênção), os pastores encontram Maria, José e o Menino deitado numa manjedoura. Ah que alegria! «Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino». Conseguem contagiar, com as suas palavras e com o entusiasmo com que contam, todos os que estão por perto. Maria, como certamente José, guarda todos os acontecimentos no seu coração, meditando em tudo quando se diz deste seu Menino.

Ela é a cheia de graça, a Mãe do Filho de Deus, Jesus (Aquele que salva = Salvador), não apenas na anunciação, mas em todo o tempo. Vivemos o que nos preenche e transparecemos o que nos ocupa a alma e o coração. Maria enche-se de tudo o que diz respeito a Jesus e, por conseguinte, é Jesus que ela apresenta aos pastores, aos magos e a nós também.

3 – A palavra de Deus comunicada a Moisés expressa o sonho de Deus: «Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei». É o nome de Deus: bênção! É o nome de Jesus: salvação.

Os desígnios de Deus para nós e para o mundo não poderiam ser outros que não a harmonia, a verdade e o amor, a paz e a fraternidade. Deus é Pai. Em Jesus Cristo, assume-nos como filhos. Se somos filhos (do mesmo Pai), somos igualmente irmãos, em Jesus. Esta é uma verdade existencial. Não é mera informação que nos distraia da vida, é a realidade que envolve todos os poros do nosso corpo e da nossa alma. Quando esquecemos a nossa origem, quando desconhecemos a nossa identidade, quando abdicamos da nossa pertença, tornamo-nos apátridas e órfãos. Não temos casa, não temos chão, não temos pátria. A águia precisa de chão e da terra, precisa de poisar depois do voo, mas para que o voo seja possível precisa de um ponto de apoio, para o impulso, precisa da gravidade. A gravidade é essencial para o voo, a sua força e o movimento das asas capacitam-na para as alturas e para a longura, mas sem a gravidade, sem a terra, não conseguiria voar, quando muito conseguiria planar, sem controlo nem direção nem propósito, sem possibilidade de regressar à terra. O nosso chão são os irmãos, a fraternidade, a família. Essa é a maior das bênçãos. É isso que Jesus vem revelar-nos, vivendo connosco, como um de nós. Amar, cuidar, servir, dar a vida. É a opção de Jesus e será o nosso caminho para nos tornarmos verdadeiramente cristãos.

4 – A bênção plena é o próprio Deus que vem até nós, em Pessoa. Uma pessoa de bem espalha o bem. A bênção expressa-se em palavras e obras. Deus é o Bem por excelência e faz-nos saborear a Sua bênção na Palavra que Se faz carne, Jesus. Esta é também a obra perfeita de Deus Pai, o Seu filho amado, no Qual nos dá a mesma prerrogativa de sermos filhos amados.

Com efeito, «quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: ‘Abá! Pai!’. Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus».

Por Ele, Jesus, Deus connosco, chega até nós a salvação, que nos cabe acolher, entranhando-nos no Seu amor. Neste compromisso de amor, temos sempre o auxílio do Senhor Deus a quem suplicamos «que, pela virgindade fecunda de santa Maria, destes aos homens a salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da vida, nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho».

Nossa Senhora intercede por nós e ensina-nos a acolher a vontade de Deus, para que se realizem no mundo, no tempo e na história os Seus desígnios de amor, fazendo, de todas as nações da terra, um só povo, uma só família.

5 – Invocamos a bênção de Deus, para que também nos tornemos bênção uns para os outros.

«Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação. / Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra. / Os povos Vos louvem, ó Deus, todos os povos Vos louvem. Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu temor aos confins da terra».

Não esqueçamos a nossa origem, Deus, a nossa identidade, membros de Cristo, para nos lembrarmos que Ele nos deu o poder de caminharmos, confiantes, até à eternidade. Acolhamos o Seu amor, a Sua bênção, preenchamo-nos da Sua graça, vivamos em atitude de ternura, de serviço e cuidado uns para com os outros. Desta forma, como filhos, irmãos em Jesus cristo, somos herdeiros do Seu reino, partícipes da Sua casa, benificiários da Sua graça, somos da Sua família.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Is 60, 1-6; Sl 71 (72); Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.