Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus – 2022

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Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus – 2022

1 – Os pastores são os primeiros, depois de Maria e de José, a saberem do nascimento do Salvador. Escutam as palavras do Anjo, são envolvidos pela luz e pelos cânticos celestiais, e logo se encaminham para Belém, onde encontram Maria, José e o Menino deitado numa manjedoura. Quase podemos ver como se atropelam nas palavras para testemunhar tudo que sabem acerca deste Menino.

Os que ouvem os pastores ficam maravilhados com a sabedoria com que caracterizam o Menino. Maria guarda e medita todos os acontecimentos, acolhendo-os como mistério da bondade de Deus. Os pastores, depois da adoração, regressam ao trabalho, felizes, louvando e agradecendo a Deus por tudo o que lhes foi comunicado. O encontro com Jesus há de deixar-nos, também a nós, diferentes. Regressamos à vida do dia a dia, aos mesmos afazeres e preocupações, mas com o coração cheio, iluminado por uma presença nova, pela bênção que nos preenche a alma. O trabalho terá as mesmas exigências, mas a atitude transforma-se e transforma-nos, porque, mesmo nas pequenas coisas, descobrimos a ação amorosa de Deus e fortalecermo-nos para as lutas quotidianas.

Oito dias passados, o Menino, como judeu, é circuncidado e recebe o nome de Jesus (= Aquele que salva), indicado pelo Anjo. O Deus feito homem é o Salvador do mundo, fonte inesgotável de misericórdia e luz.

2 – “Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação. / Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra. / Os povos Vos louvem, ó Deus, todos os povos Vos louvem. Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu temor aos confins da terra”.

O salmo faz-nos acolher a palavra de Deus em jeito de oração, suplicando, glorificando, agradecendo a Deus pelas maravilhas que realizou, confiantes que continuará a velar pela humanidade e a vir em nosso auxílio, socorrendo-nos nas adversidades, caminhando connosco.

Este é o primeiro dia de um novo ano civil e, como todos os começos, reveste-se de expetativa e de esperança. A expetativa de que o ano que se inicia seja melhor do que o que fica para trás e se realizem os projetos e sonhos individuais, familiares, profissionais e o país se reforce na justiça, no desenvolvimento e prosperidade. Um desejo bem patente é que a pandemia que nos assola, há quase dois anos deixe, finalmente, de ser tão controladora e déspota!

A esperança enraíza-nos na bondade e fidelidade de Deus. Não adivinhamos o futuro, mas sabemos que Deus é fiel às Suas promessas, ao Seu amor e à Sua presença. Esta presença amorosa é constante, no tempo da abundância e na carestia, nos momentos de paz e na adversidade. Quando a luz do Seu rosto resplandece sobre nós, ainda que no meio das trevas, então a vida tem outro colorido e a esperança faz-nos caminhar, sabendo que Ele nos salva.

É o que também pedimos na oração inicial da Eucaristia. situando-nos já nas maravilhas que Deus realizou através de Nossa Senhora: “Senhor nosso Deus, que, pela virgindade fecunda de Maria Santíssima, destes aos homens a salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da vida, Jesus Cristo, vosso filho. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo”.

3 – Através de Moisés, Deus faz saber o Seu nome: «O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz».

É o próprio Deus que nos ensina a rezar desta forma, invocando a Sua bênção e a Sua paz, a deixar que a Sua luz brilhe em nós, na nossa face e na nossa vida. «Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei». Deus é bênção, proteção e paz.

A oração faz-nos tomar consciência do amor de Deus. A súplica é acompanhada de propósitos. Quem reza com sinceridade abre-se às possibilidades de Deus e aos desígnios que tem para nós. A bênção que pedimos há de converter-se em fonte de bênção para os outros. Não há bênção que nos isole, como não existe oração que nos ensoberba. A oração, como a bênção, coloca-nos em comunhão com a vontade de Deus e consequentemente comprometem-nos com os irmãos. A vontade de Deus é que todos, sem exceção, sejam salvos, se sintam família, vivam harmoniosamente e se entreajudem como irmãos.

4 – Deus é Pai. É a grande notícia que Jesus nos revela. O que se intuía no Antigo Testamento torna-se evidente em Jesus Cristo. Ele é o Deus que Se faz história e tempo, Se faz humano, um de nós, Deus connosco. Vem para viver entre nós, assumindo a nossa condição mortal, finita e limitada, para caminhar connosco, humanizando-Se e humanizando a vida, tornando-Se um nós para que nós façamos parte da Sua vida divina.

Chegada a plenitude dos Tempos, “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus”.

Que a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam connosco todos os dias da nossa vida. Gratos a acolher a Sua bênção, céleres a comunicar e partilhar as Suas graças!

5 – Neste primeiro do novo ano, em que a Igreja se coloca sob a proteção materna da Virgem Mãe, é também Dia Mundial da Paz, instituído pelo Papa Paulo VI, no ano de 1968, desafiando-nos a todos a sermos construtores da paz. Afinal a bênção de Deus visa criar comunhão e paz, numa sadia convivência fraterna e no compromisso solidário pelo desenvolvimento dos povos.

Na Sua mensagem para este dia, o Papa Francisco interpela-nos: “Quero propor, aqui, três caminhos para a construção duma paz duradoura. Primeiro, o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. Depois, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar «possível a criação dum pacto social», sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz”.

A concluir, o desejo do Santo Padre: “Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho. Com coragem e criatividade. Oxalá sejam cada vez mais numerosas as pessoas que, sem fazer rumor, com humildade e tenacidade, se tornam dia a dia artesãs de paz. E que sempre as preceda e acompanhe a bênção do Deus da paz!”

O Deus de toda a paz nos conceda todo o bem.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia (ano C): Num 6, 22-27; Sl 66 (67); Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.