Solenidade de Cristo Rei do Universo – ano B – 2024

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Solenidade de Cristo Rei do Universo – ano B – 2024

1 – O fim e o início têm em comum a soberania de Deus. Terminamos o ano litúrgico com a solenidade de Cristo Rei do Universo, iniciando, no próximo domingo, um novo ciclo, um novo ano litúrgico, com o primeiro domingo do Advento. Tudo se orienta para Deus. De Deus tudo parte, tudo nasce, tudo existe, e a Deus tudo se confia, tudo se Lhe entrega.

Cristo faz visível a soberania de Deus assente na criação, no amor, na reconciliação e no serviço.

Olhando à nossa volta, o mundo que habitamos e que nos habita por dentro, muitas vezes, assoma o egoísmo, a prepotência, a vontade de submeter os outros às nossas quimeras e vontades. O caminho de Jesus é o do serviço. A sua coroa é de espinhos. O Seu trono é o patíbulo da Cruz. Os Seus soldados são os Anjos no Céu e os Seus discípulos na terra, chamados a imitá-l’O no serviço constante ao outro, enviados a todos mas especialmente aos mais desfavorecidos. O seu reino é o mundo inteiro, melhor, são as pessoas do mundo inteiro. Não há fronteiras: nem políticas, nem religiosas, nem raciais. Não é um reino delimitado, físico, geográfico. Se assim fosse necessitaria de fronteiras, de exércitos, de uma força dissuasora para evitar roubos, ataques e a ocupação de algum espaço!

Ao aproximar-se a Sua coroação definitiva, a da morte na Cruz, Jesus é questionado por Pilatos: «Tu és o Rei dos Judeus?». A resposta não poderia ser mais clara: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui».

No seguimento do questionário – «Então, Tu és Rei?» – Jesus traça outras fronteiras para o Seu reino: «Sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz». O Seu reino é interior, funda-se na verdade, e torna-se visível no amor que se faz serviço ao próximo.

2 – “Onde Deus reina como Pai, os homens já não podem reinar uns sobre os outros” (José Antonio Pagola). Quando, num grupo, duas pessoas estão em igualdade de circunstâncias, pela idade, pela competência, pelas habilitações, pela experiência de vida, é delicado uma delas assumir um papel “superior”. Numa família, as disputas entres irmãos são serenadas pela autoridade do Pai e/ou da Mãe. Quando estes estão, os filhos têm de obedecer, pois não se colocam acima dos outros, mas acatam a orientação dos pais. O lugar está preenchido! Em grupos eclesiais, quando são todos da mesma idade é sempre um risco um deles assumir a liderança, não que não tenha qualidades, aptidões, bom senso, mas pela dificuldade dos outros em “receber” ordens de alguém que consideram estar no mesmo patamar.

Iniciamos a Eucaristia com uma oração que já se assume como compromisso: «Deus eterno e omnipotente, que no vosso amado Filho, Rei do universo, quisestes instaurar todas as coisas, concedei propício que todas as criaturas, libertas da escravidão, sirvam a vossa majestade e Vos glorifiquem eternamente».

Em Jesus, Deus instaura todas as coisas, logo é Ele o Rei a Quem devemos prestar obediência, mas uma obediência que nos liberta de disputas entre nós. «Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviram. O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído».

O conceito de realeza remete-nos para alguém todo-poderoso que se impõe, se necessário, pela força, pelo medo e pelo controlo da informação. Um manda, os outros obedecem. Nem mais. O reino que se instaura com Jesus ordena-se a outra dimensão, não é deste mundo, Deus não é concorrente do Homem e dos seus poderes e disputas. É um reino proposto como caminho, como opção de vida, como orientação.

3 – A realeza de Jesus é intemporal, mas vulnerável e acessível!

«Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Ámen. Ei-l’O que vem entre as nuvens, e todos os olhos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram; e por sua causa hão de lamentar-se todas as tribos da terra. Sim. Ámen. ‘Eu sou o Alfa e o Ómega’, diz o Senhor Deus, ‘Aquele que é, que era e que há de vir, o Senhor do Universo’».

Mas, como facilmente se vê, a soberania de Jesus é uma soberania, uma realeza que nos integra, que nos congrega e nos compromete. Deus, amando-nos, dá-nos Jesus, que, morrendo, nos redime e nos salva, associando-nos ao Seu sacerdócio. O louvor e a glória que lhe devemos e devotamos, faz-nos irmãos, fazendo-nos tomar consciência que estamos no mesmo barco!

O início e o fim. Alfa e o Ómega. A origem de tudo e em Quem tudo terá um fim. E se para Ele caminhamos, pois é o nosso Fim, não faz sentido que nos guerreemos pelo caminho ou nos façamos indiferentes. Quando mais nos aproximarmos entre nós, mais perto vamos ficando de Jesus, Senhor nosso!

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): Dan 7, 13-14; Sl 92 (93); Ap 1, 5-8; Jo 18, 33b-37.