Ascensão do Senhor – 2021

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Ascensão do Senhor – 2021

1 – «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados».

Nos últimos Domingos temos escutado Jesus a dizer aos Seus discípulos que se aproxima o tempo em que vai partir, não os deixando sós, mas passando a estar física/materialmente ausente. Jesus fala em duas perspetivas, uma temporal e outra teológica. No anúncio pré pascal, Jesus profetiza a Sua morte, consequência da Sua entrega por amor. Sabe que não faltará muito para ser arrastado para a morte! Tendo consciência do desenrolar da Sua vida, confrontada com os grupos instalados, prevendo o desfecho possível, Jesus previne e prepara aos discípulos, antecipa o cenário, para que não caiam no desespero e não se deixem iludir pelos contratempos que estão a chegar, ainda que seja a Sua morte.

Nesse mesmo anúncio, Jesus fala da morte como passagem, Páscoa, para a casa paterna. Vai partir, vai preparar uma morada para os Seus discípulos, daquele tempo e de todos os tempos e lugares. Não abandonará o barco, mas estará presente de outra forma, pelo Seu Espírito Santo.

Após a Páscoa, ressurreição e vida nova, as aparições de Jesus acentuam a necessidade de maturação da fé dos discípulos e a assunção de compromisso e de responsabilidade pelo anúncio do Evangelho. Visível nestas duas solenidades, Ascensão do Senhor e Pentecostes, a aparente preguiça dos apóstolos, hesitação ou indecisão quanto ao modo de viver agora sem a presença física de Jesus. Antes, era Ele quem estava ao leme, era o centro de tudo, o ponto de partida e de chagada. E agora? Agora, Jesus continua no MEIO a ajuntar, a reunir e a enviar. Mas não nos facilita a vida, não faz por nós, compromete-nos a ir: IDE, é hora de acordar, de levantar da cama, de pôr-se a caminho. Somos os Seus pés ao encontro dos outros, emprestamos-Lhe a voz e a vida para que o Seu amor chegue a toda a parte.

2 – Ao envio, Jesus junta uma garantia: as palavras serão acompanhadas por prodígios; o anúncio do Evangelho estará nos lábios dos discípulos missionários, mas também no coração e nas mãos para abençoar, curar e expulsar os espíritos impuros.

No contexto da Última Ceia, Jesus promete aos Seus discípulos que estará com eles até ao fim dos tempos; sempre que dois ou três se reunirem em Seu nome, Ele estará; não os deixará órfãos; enviar-lhes-á, com o Pai, o Espírito Santo que os assistirá em todas as circunstâncias, recordando-lhes tudo quanto Ele próprio lhes ensinou.

Essa presença será também visível, palpável, como os prodígios que verão realizar-se através das suas mãos. O Senhor Deus, no Seu Espírito de Amor, não cessará de realizar maravilhas no meio do Seu povo, a humanidade inteira, onde quer que seja invocado o Seu nome.

O Evangelho termina dando nota que, elevado ao Céu, Jesus Se senta à direta do Pai, e eles partem à pregar por toda a parte, acrescentando que o Senhor coopera com eles, confirmando com milagres as palavras que eles proferem. No terreno podem ver como Jesus é fiel às Suas promessas.

3 – Na primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, São Lucas parte da Ascensão de Jesus ao Céu e da ação evangelizadora dos apóstolos a partir desse momento. A ascensão coloca em evidência a missão dos apóstolos. É tempo de arregaçar as mangas e deitar mãos à obra da evangelização. As últimas palavras de Jesus são de envio, sem tréguas nem calculismos, sem reservas nem ponderações, prevalecendo a confiança de que Ele continuará a velar e cuidar dos Seus amigos.

Durante quarenta dias, Jesus aparece aos Seus discípulos, recordando-lhes tudo o que viveram juntos, solidificando e amadurecendo a sua fé, para serem verdadeiramente testemunhas da ressurreição. Jesus cumpriu o tempo, levando-o à plenitude. Até ao fim, a preocupação dos discípulos assenta muito no poder, nos lugares, na espetacularidade com que Deus poderia convencer todos os povos do seu poderio.

«Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Perguntam-Lhe esperançados que o messianismo se refira a uma posição de poder declarado. Jesus, até ao final, mostra-lhes que no Reino de Deus há lugar para o serviço, para o amor, para a delicadeza, não para o poder, o egoísmo ou a prepotência. E logo lhes assenta o estômago: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra».

Não importa que seja neste ou naquele tempo, amanhã ou depois! A mim e a ti compete-nos viver e testemunhar o amor de Deus, em toda a parte, em todas as situações.

4 – Depois desta clarificação, Jesus “elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu»”.

Hoje continuamos a olhar para o Céu ou à espera que outros façam alguma coisa para que o mundo fique melhor! Porém, há uma parte de responsabilidade que nos diz respeito a nós, a mim e a ti. Olhamos para o Céu na certeza que Deus caminha connosco e ampara-nos nas quedas, dá-nos ânimo nas lutas, fortalece a nossa fé e a nossa esperança, mostra-nos o caminho, age em nós e através de nós. Simultaneamente temos os pés assentes na terra procurando contruir fraternidade, anunciando a Boa Nova da Salvação, praticando a misericórdia, agindo com ternura e bondade, indo em auxílio dos mais frágeis, levantando-os, ajudando-os, partilhando o pão e o sorriso. O movimento ascende de Jesus, não implica afastamento, mas implica o nosso movimento em relação aos outros. Doravante cabe-nos agir como Jesus, mostrando como o amor de Deus se concretiza no serviço e no cuidado aos mais desfavorecidos, seja de pão seja de afeto.

5 – Na segunda leitura, com a opção de duas leituras alternativas, da Epístola de São Paulo aos Efésios, as recomendações do Apóstolo, em jeito de oração, de bênção e de conselhos.

“O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes”.

A recomendação em forma de súplica, integra-nos num ambiente orante que tem como referência e certeza de tudo quanto Deus realizou em Jesus Cristo e através d’Ele no mundo. Deus Pai O ressuscitou dos mortos colocando-O à Sua direita e “tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos”.

Com efeito, só em Jesus nós conhecemos o caminho para o Pai. É Ele que nos congrega, assumindo-nos como irmãos. “Há um só Corpo e um só Espírito, como há uma só esperança na vida a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos Se encontra. A cada um de nós foi concedida a graça, na medida em que recebeu o dom de Cristo”.

Neste sentido, “recomendo-vos que vos comporteis segundo a maneira de viver a que fostes chamados: procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; empenhai-vos em manter a unidade do espírito pelo vínculo da paz”.

A proximidade com Cristo, com efeito, levar-nos-á à proximidade com os irmãos. É esse o mandato de Jesus, que nos amemos como irmãos. O envio missionário prevê que se façam discípulos de todos os povos, para que haja um só rebanho, uma só família. Os dons que nos vêm de Jesus, pelo Seu Espírito, visam ser bênção ao serviço de todos. “Foi Ele também que a uns constituiu apóstolos, a outros evangelistas e a outros pastores e mestres, para o aperfeiçoamento dos cristãos, em ordem ao trabalho do ministério e à edificação do Corpo de Cristo, até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude”.

Quem zelosamente guarda os dons para si ou espiritualiza e individualiza a fé, desperdiça todo o bem que lhe vem de Deus e trai tudo quando aprendeu de Jesus Cristo.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia: Atos 1, 1-11; Sl 46 (47); Ef 4, 1-13; Mc 16, 15-20.