Domingo II do Advento – ano C – 2021

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Domingo II do Advento – ano C – 2021

1 – Antes do Natal, o Advento! A preparar a chegada do Emanuel, Deus connosco, Príncipe da Paz, os profetas e particularmente o Percursor, São João Batista! Neste Domingo e no próximo, o Evangelho faz-nos ver e escutar São João Batista. O propósito é que mudemos de vida, preparando o coração, adaptando a atitude e os comportamentos, para percebermos a chegada o Messias, o Eleito de Deus e para nos deixarmos transformar por Ele.

O caminho reveste-se de alegria, esperança, expectativa, ilumina-se de festa. Estamos à espera, mas confiantes, pois Aquele que promete é fiável e fiel às Suas promessas. Não se trata de otimismo, uma atitude positiva face ao futuro, mas de esperança, balançada para o futuro, mas enraizada no amor e na misericórdia de Deus. Podemos não saber com exatidão onde ou quando Se vai manifestar ou de que forma Se apresentará a nós, mas, pela fé, há a certeza absoluta de que Ele vem, vem com todo o poder, com todo o amor até nós.

O profeta Baruc dá corpo a esta esperança, desafiando a cidade e aos seus habitantes. «Jerusalém, deixa a tua veste de luto e aflição e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus… Levanta-te, Jerusalém: vê os teus filhos reunidos desde o Poente ao Nascente, por ordem do Deus Santo… é Deus que os reconduz a ti, trazidos em triunfo, como filhos de reis».

Ao prosseguir, o profeta utiliza uma imagem muito real para quem caminha. O caminho pode ser difícil de percorrer, ter vários obstáculos. Podemos contornar os obstáculos ou pôr mãos à obra e limpar o caminho, desviar os pedregulhos, cortar o silvado. E se queremos que outros passem, então maior o compromisso de limpeza e cuidado. Se um trilho está ao abandono, chegará o tempo em que nem se percebe por onde se passar. É assim a nossa vida espiritual! Se deixamos os silvados ocupar o nosso coração, teremos dificuldade em encontrar Deus e deixarmo-nos interpelar pelas Suas palavras.

Deus, através dos Seus enviados, prepara-nos o caminho: «Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares e encher os vales, para se aplanar a terra, a fim de que Israel possa caminhar em segurança, na glória de Deus. Também os bosques e todas as árvores aromáticas darão sombra a Israel, por ordem de Deus, porque Deus conduzirá Israel na alegria, à luz da sua glória, com a misericórdia e a justiça que d’Ele procedem».

2 – A salvação não é aérea, não se faz por telepatia, ainda que não haja formas rígidas para Deus Se manifestar e para nos salvar, sendo que existem pessoas, como se tem visto ao longo da história, cujos dons e graças vão além do enquadramento temporal, cronológico e científico. No que diz respeito aos místicos, ainda assim, situam-se também eles num contexto histórico, cultural e religioso, não estão fora do tempo, mesmo que prevaleça a dimensão espiritual. O contacto com o divino é feito a partir de um corpo/pessoa, com a sua idiossincrasia, com as suas limitações e fragilidades.

Deus manifesta-Se no concreto do tempo e da história. O Evangelho não é jornalismo, não é uma narrativa histórica, mas também não é um conto ou uma fábula. Não é uma história da carochinha: era uma vez… há muito tempo… num mundo diferente deste… Vinda do alto, a revelação enquadra-se e imerge na história humana. Deus vem à nossa vida, não sobre as nuvens, mas pelos acontecimentos, pelas pessoas, através de sinais mais sensíveis ou mais espirituais. E virá em carne e osso! Nascerá, em Jesus, como um de nós.

Diz-nos São Lucas que “no décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide e Lisânias tetrarca de Abilene, no pontificado de Anás e Caifás, foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto”.

João Batista está inserido na história, num contexto e com uma família conhecida. Não é um estranho ou desconhecido! É o profeta que prepara o caminho para a chegada do Senhor, conforme o vislumbre de Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus’».

3 – A preparação faz-nos já viver. Não é uma espera passiva, vazia, temporal, mas uma espera vivencial, ativa, que nos enche e preenche de alegria, pois sabemos que o Senhor vem. Como a manhã se intui e desponta a partir da aurora, clareando, assim também nós vislumbramos a presença de Deus, que sempre Se faz ver e Se faz escutar, que sempre nos chama e nos envia, Se manifesta. De forma sensível e humana, Deus assume-nos em Jesus Cristo.

O salmista reza connosco a esperança e a reconciliação que nos é dada por Deus. Ao longo da história da salvação, Deus socorre o Seu povo, não o abandona. Uma e outra vez, Deus inspira líderes para libertarem o povo das diversas escravidões em que vai caindo. A nossa esperança radica nas maravilhas que Deus realiza em favor do Seu povo.

“Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião, parecia-nos viver um sonho. Da nossa boca brotavam expressões de alegria e de nossos lábios cânticos de júbilo. / Diziam então os pagãos: «O Senhor fez por eles grandes coisas». Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor, estamos exultantes de alegria. / Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos, como as torrentes do deserto. Os que semeiam em lágrimas recolhem com alegria. / À ida, vão a chorar, levando as sementes; à volta, vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas”.

Reconhecermos a intervenção de Deus, torna-nos gratos e enforma-nos de alegria. Por conseguinte, abramos o nosso coração à Sua vontade. “Concedei, Deus omnipotente e misericordioso, que os cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo, mas que a sabedoria do alto nos leve a participar no esplendor da sua glória”.

4 – Na segunda da leitura, São Paulo faz-se portador, uma vez mais, da alegria do Evangelho recebido e anunciado, comunicando a redenção que nos vem do mistério pascal. A alegria é extensível àqueles que partilham a missão evangelizadora do Apóstolo. Tudo para que Cristo seja tudo em todos.

Diz São Paulo aos filipenses: “Tenho plena confiança de que Aquele que começou em vós tão boa obra há de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus”.

O Apóstolo concretiza a alegria com o amor, com a amizade que o une aos cristãos de cada comunidade. Essa amizade e essa comunhão manifestam-se e aprofundam-se também na oração: “Por isso Lhe peço que a vossa caridade cresça cada vez mais em ciência e discernimento, para que possais distinguir o que é melhor e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, na plenitude dos frutos de justiça que se obtêm por Jesus Cristo, para louvor e glória de Deus”.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia (ano C): Bar 5, 1-9; Sl 125 (126); Filip 1, 4-6. 8-11; Lc 3, 1-6.