Domingo IV da Páscoa – ano C – 2022

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Domingo IV da Páscoa – ano C – 2022

1 – “Aclamai o Senhor, terra inteira, servi o Senhor com alegria, vinde a Ele com cânticos de júbilo. / Sabei que o Senhor é Deus, Ele nos fez, a Ele pertencemos, somos o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. / O Senhor é bom, eterna é a sua misericórdia, a sua fidelidade estende-se de geração em geração”.

O quarto Domingo de Páscoa é o Domingo do Bom Pastor, Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Os textos propostos falam-nos de Deus como Pastor que apascenta o Seu rebanho através de mensageiros, juízes, profetas e reis, e, finalmente, através do Seu Filho Jesus, o Bom Pastor, por excelência. O salmo faz-nos reconhecer como parte integrante da vida de Deus, pertencemos-Lhe, Ele cuida de nós. Somos o Seu povo, as ovelhas do Seu rebanho.

A consciência desta pertença há de gerar em nós louvor e gratidão, que, por sua vez, ajudam a amadurecer a nossa fé e confiança no Senhor. Na mesma perspetiva, somos despertados para acolher a Palavra de Deus, procurando discernir a Sua vontade para nós, a vocação a que Ele nos chama, sendo que, originalmente, a vocação é à santidade. É a nossa condição de batizados, de discípulos missionários, procurando que a nossa identidade, na raiz, no batismo, se torne identidade no tempo da nossa vida. Dentro da vocação universal à santidade, há vocações específicas que nos comprometem, ainda mais, em fazer brilhar a luz de Deus, a Sua ternura e o Seu amor pela humanidade. Vocação ao sacerdócio ordenado, à vida consagrada, ao matrimónio. Opções que permitem concretizar e tornar visível, no mundo e na história, o amor de Deus.

2 – Uma das imagens presentes no Antigo Testamento e que o Novo herda, referida a Deus, é a do Bom Pastor. Jesus tem consciência que veio para apascentar este rebanho, o povo de Deus, vem para reunir, para congregar, para fazer com que todos sejam um, para que todos vivam como família, fraternalmente. Ele dá a vida por mim e por ti, por todos, para que nos sintamos o que somos, filhos amados de Deus, assumindo-nos e vivendo como irmãos.

Diz Jesus, convicta e claramente: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só».

O pastor conhece as suas ovelhas, sabe as que são mais frágeis, as que precisam de maior cuidado, protege-as, fazendo tudo para que nenhuma se perca, até porque é o seu ganha-pão. Em Israel, como em algumas das nossas terras, antigamente, eram designados pastores, sobretudo entre os mais jovens, para guardarem as ovelhas das várias famílias. Obviamente que era ponto de honra não perder nenhuma ovelha, protegendo-as também dos animais selvagens. De contrário teriam que justificar bem o que aconteceu. Jesus é o Bom Pastor, dá a vida pelas ovelhas, luta para que nenhuma se perca.

3 – “Deus todo-poderoso e eterno, conduzi-nos à posse das alegrias celestes, para que o pequenino rebanho dos vossos fiéis chegue um dia à glória do reino, onde já Se encontra o seu poderoso Pastor, Jesus Cristo, vosso Filho”.

A racionalização da vida e do tempo deixa pouco espaço à oração, à espiritualidade, ainda que a procura não tenha diminuído. As devoções populares, as peregrinações e/ou procissões, a festa de santos populares, as romarias, mas também a busca do sagrado, do milagre, o refúgio em superstições e/ou esoterismos, o recurso ao horóscopo ou procurar nas cartas o que o futuro nos reserva. Há uma clara intuição, noção, de que a vida é mais do que aquilo que se vê, do que aquilo que é controlável. Há uma vida maior que nos escapa ao olhar, por entre as mãos; há momentos que não merecemos e que não controlamos. Na história da Igreja, há muitos santos místicos que se tornaram uma mais-valia para aprofundamento do cristianismo, não como uma realidade do passado, mas como certeza que Deus continua a agir em nós e através de nós, e a enviar-nos sinais e a desafiar-nos ao bem.

Não há oração sem confiança, sem a confiança de que Deus pode transformar-nos e transformar aqueles por quem rezamos. Não sabemos como, não sabemos quando, mas entregamos a Deus as nossas preocupações, dúvidas e hesitações, Ele proverá. Obviamente, a oração confiante não nos demite de fazermos tudo o que está ao nosso alcance para transformarmos o mundo, aliás, vivemos com esse propósito e é isso que nos realiza como pessoas, como cristãos. Jesus há de dizê-lo claramente. Há momentos em que Deus, Jesus Cristo, transforma a água em vinho bom; há momentos em que as pedras continuam a ser pedras e nos cabe cavar a terra, lançar as sementes, cuidar para que os pássaros não as levem todas, aguardar que a semente amadureça e depois transformemos o grão em farinha, que amassaremos, temperaremos, e produziremos o pão. E nem por isso deixa de ser pão de cada dia que Deus nos dá. E, se partilhado, multiplica a vida. Há momentos em que o pão se transforma em Corpo de Cristo, por ação do Espírito Santo e que vem saciar a nossa fome e sede de sentido.

Pode acontecer que as tempestades sejam tão ferozes que não tenhamos ânimo para continuar a lutar, até por acharmos que não é possível fazer mais ou o que faremos será inútil… mas é sempre tempo para rezar para que Deus realize o que nos é impossível e nos dê ânimo para fazermos com que os obstáculos sejam oportunidades para continuarmos a resistir, a amar e a servir.

Rezemos para que Ele preencha o nosso coração de vida e de amor e que a oração nos permita este compromisso com os outros, este compromisso de sermos irmãos, constituindo um só rebanho, uma só família.

4 – As últimas palavras de Jesus aos Apóstolos são de envio. Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar será salvo. A missão faz parte integrante e essencial da identidade cristã. Não há discípulos de Jesus que não O testemunhem, em palavras e obras. Quem reconhece Jesus como filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que morreu e ressuscitou e vive na comunidade que se reúne em Seu nome, não tem como não extravasar a alegria deste encontro com Ele, o fundamento da nossa fé.

Os apóstolos partem, levam-n’O para todo o mundo. Timidamente, ao início, com o avançar dos dias, e com as circunstâncias que os obrigam a deixar Jerusalém, os discípulos fazem chegar a Boa Nova a outras povoações.

Paulo e Barnabé, ouvimos na segunda leitura, prosseguem a evangelização, dando prioridade, inicialmente, ao anúncio aos judeus, até pela facilidade de comunicar conceitos e de fazer a ligação entre a promessa e o cumprimento da mesma em Jesus Cristo. Com estes dois apóstolos dá-se uma nova rutura que faz avançar a missão, alargando a pregação aos gentios. Como alguns judeus sentissem ciúme e inveja, na presunção que a salvação fosse apenas para eles, ouvem o que não querem: «Era a vós que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus. Uma vez, porém, que a rejeitais e não vos julgais dignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios, pois assim nos mandou o Senhor: ‘Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’».

Estas palavras corajosas desencadeiam a expulsão dos apóstolos daquela cidade, passando à próxima cidade. Vão cheios de alegria e do Espírito Santo. Felizes por terem dado testemunho de Jesus, morto e ressuscitado, e do Seu Evangelho

5 – As visões de São João amparam-nos na fé e na esperança, na certeza que os tempos de desgraça, de perseguição, de tempestade, chegarão ao fim. O Senhor Deus garante a vitória sobre o mal, a violência, o sofrimento e a própria morte. Há que persistir e que rezar, uma e outra vez, confiando que Deus é Pai de bondade e de ternura. Um pai, diz Jesus, não deixará de escutar as súplicas dos seus filhos, quanto mais o nosso Pai do Céu.

Há uma multidão imensa, incontável, de todas as nações, tribos, povos e línguas! Todos são chamados, todos cabem no reino de Deus, todos podem ser rebanho do Senhor. Aqueles que ora São João vê «são os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, servindo-O dia e noite no seu templo. Aquele que está sentado no trono abrigá-los-á na sua tenda. Nunca mais terão fome nem sede, nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles. O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva. E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos».

É Ele, Jesus, Cristo, nosso Bom Pastor, que nos conduz a verdes prados, às águas refrescantes. É Ele que nos alimenta com a Sua graça e com o Seu perdão. Respondamos-Lhe com o coração, na oração, com a vida, na prática da caridade. Deixemos que as nossas palavras e ações transpareçam a compaixão de Jesus.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 13, 14. 43-52; Sl 99 (100); Ap 7, 9. 14b-17; Jo 10, 27-30.