Domingo II do Tempo Comum – ano B – 2024

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Domingo II do Tempo Comum – ano B – 2024

1 – Depois do batismo de Jesus (no rio Jordão, por João Batista), iniciamos mais um ciclo, o do Tempo Comum. Sublinhe-se, desde logo, que o tempo comum é lugar de salvação, de manifestação da graça de Deus em nossas vidas. Liturgicamente são dois os ciclos fundamentais para a vida cristã: Natal e Páscoa, com os tempos de preparação (Advento e Quaresma) e com o tempo que se lhe segue. Com efeito, a Encarnação do Verbo tem como fim a Sua Manifestação plena no dar a vida pela humanidade. É no dar a vida que Jesus nos mostra o caminho de retorno a Deus. Com a Ressurreição percebemos o DOM da vida nova. É à luz da Páscoa que havemos de encarar toda a nossa vida de fé.

O tempo comum celebra a Páscoa, em cada domingo, em cada Eucaristia. Com efeito, a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição de Jesus, que Ele antecipou na Última Ceia, de forma a permanecer em nós e no meio de nós depois da Sua ascensão para Deus, faz-nos participantes da vida divina, alimentando-nos até à eternidade. Por esta razão, a Eucaristia é a oração mais completa da Igreja. Encaminhamo-nos para a comunhão com Deus, alimentamo-nos da presença de Deus entre nós. Na palavra proclamada, refletida e acolhida e pela condivisão do Corpo de Cristo, tornamo-nos com Ele um só Corpo.

Por outro lado, ao celebrarmos o tempo comum somos desafiados a deixar-nos surpreender por Deus em todos os momentos da nossa vida, também no silêncio e na aridez dos nossos dias, também na rotina e na azáfama, também nos vazios e nas dúvidas, nas contrariedades e nas nossas realizações humanas.

2 – O Evangelho situa-nos na passagem de testemunho de João Batista para Jesus. O batismo marca um ponto de viragem, ainda que o evangelista deixe entrever a simultaneidade da pregação. João está na fase final da sua missão, apontando claramente para Jesus; Jesus, por sua vez, começa a pregar abertamente, sobretudo, a partir da prisão do Predecessor.

João diz a dois dos seus discípulos: «Eis o Cordeiro de Deus». Sem mais demoras, os dois discípulos seguem Jesus. “Eis o Cordeiro de Deus” , é como que uma senha que João dá aos seus discípulos. Ide, que é Ele o Messias esperado, é Ele que vem para tirar o pecado do mundo, substituindo o cordeiro que cada ano era levado ao deserto com os pecados de todo o povo. Ele será o Cordeiro que leva/lava o pecado de toda a humanidade.

Ao ver que O seguiam, Jesus questiona-os: «Que procurais?» E imediatamente os dois discípulos respondem com outra questão: «Rabi – que quer dizer ‘Mestre’ – onde moras?»

É curioso acompanhar os primeiros discípulos e como reagem à interpelação de João, primeiro, e, depois, de Jesus Cristo. Que quereis? Que procurais? Pergunta o Mestre dos Mestres. E se a pergunta nos fosse colocada? O que procuramos da vida? O que procuramos na religião, na vivência de fé? Que é que responderíamos a Jesus? Queremos saber onde mora Jesus? Desde já a certeza de que nãos e trata de um lugar físico, mas de vida e de encontros.

Jesus não usa um texto pré-elaborado, ou argumentativo, para explicar onde mora. Vinde ver. Por vezes as palavras, ainda que multiplicadas, nada dizem. Ou já não nos dizem nada. Palavras leva-as o vento. Mais palavras, mais discursos. É fácil falar. E por que não responder ao desafio de Jesus?! Vamos ver. Acolhamo-l’O, vamos até à Sua morada, ou melhor, sejamos a Sua morada.

A Ir. Maria Amélia Costa, num dos seus cânticos, clarifica a resposta: “Minha casa pode ser a tua casa, / Minha casa tem o nome do Irmão. / Minha casa é tão perto podes ver, / Minha casa pode ser teu coração. / Minha casa é o templo é o mundo / Minha casa é também a tua rua / Minha casa não tem número nem lugar / Minha casa fica ao lado da tua. / Minha casa não tem número nem lugar / Tu me encontras onde há libertação / Minha casa tem o nome do amor / Minha casa tem o rosto do irmão. / Minha casa se descobre ao caminhar / Minha casa é um caminho a seguir / Minha casa pode ser qualquer lugar / Minha casa é uma casa a construir”.

3 – O seguimento de Jesus visa precisamente tornarmo-nos morada do Senhor. Ele vem até nós, para fazer em nós a Sua morada. Na volta, e se queremos seguir verdadeiramente Jesus, tornamo-nos nós a morada de Jesus. Como nos lembra São Paulo: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós e vos foi dado por Deus? Não pertenceis a vós mesmos, porque fostes resgatados por grande preço: glorificai a Deus no vosso corpo”.

Pela água e sobretudo pelo Espírito Santo tornamo-nos novas criaturas, somos enxertados em Jesus Cristo, tornamo-nos parte do Seu corpo, que é a Igreja, tornamo-nos templo do Espírito Santo. Fomos resgatados por Jesus Cristo e neste resgate ganhamos outro corpo, outra vida, o Corpo e a Vida de Jesus. A nossa identidade coloca-nos na rota de Deus. D’Ele vimos, para Ele caminhamos.

4 – Deus continua a chamar e a chamar-nos na nossa situação concreta.

Por vezes, não percebemos a Sua voz. Outras preocupações nos desviam. Outras tarefas nos ocupam.

O Senhor veio, aproximou-Se e chamou como das outras vezes: «Samuel! Samuel!» E Samuel respondeu: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». Samuel foi crescendo; o Senhor estava com ele e nenhuma das suas palavras deixou de cumprir-se.

São tantas as oportunidades em que Deus Se deixa ver e tantas as formas de nos chamar. Há pessoas e situações em que Deus grita por nós. Nem sempre estamos disponíveis, nem sempre percebemos que é Ele que nos interpela.

Heli, homem justo e vigilante, ajuda Samuel a perceber que é Deus quem o chama. João Batista mostra aos seus discípulos que Jesus é o Messias esperado. No nosso tempo continua a ver pessoas/vozes/situações que nos falam de Deus, que nos mostram o Seu rosto.

De que forma podemos ser como Heli e como João Batista, facilitando que outros se acerquem de Jesus?

Por outro lado, como Samuel e como os discípulos de João predisponhamo-nos a escutar aqueles que nos falam de Deus, disponíveis, como eles, a seguir a voz de Deus e a fazer a sua vontade. É esta a nossa resposta à Palavra de Deus e que sobressai no salmo: «De mim está escrito no livro da Lei que faça a vossa vontade. Assim o quero, ó meu Deus, a vossa lei está no meu coração».

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): 1 Sam 3, 3b-10; 1 Cor 6,13c-15a.17-20; Jo 1,35-42.