Domingo III do Advento – ano A – 15 de dezembro de 2019

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Domingo III do Advento – ano A – 15 de dezembro de 2019

1 – No lendário livro de Antoine Saint-Exupéry, o “Principezinho”, a raposa sublinha a alegria a crescer com o aproximar do encontro com o Principezinho. “Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, eu, a partir das três, já começo a ser feliz. Quanto mais se aproximar a hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já estarei agitada e inquieta; descobrirei o preço da felicidade! Mas se vieres a qualquer hora, ficarei sem saber a que horas hei de vestir o meu coração…”

Já se vislumbra a celebração festiva do nascimento de Jesus. 10 dias, 240 horas, 14400 minutos, 864000 segundos. Vistamo-nos de festa e de alegria, a começar pelo coração.

Ainda falta tempo. Mas o tempo que falta é cada vez menor. Vivemos nesta tensão entre a proximidade, como que antecipando a festa, o encontro, o momento, e a ansiedade que nos faz preparar tudo, uma e outra vez, para não deixar nada fora do lugar, nada por limpar, tudo cuidado. Assim se espera um amigo, um pai ou os pais, assim se espera o filho. Vão-se descontando os dias, mas se há certeza do encontro, o coração já se dilata em festa, num antegozo imparável que será pleno quando se der o desfecho, o encontro!

2 – O Advento já vai adiantado. O terceiro domingo tem o cognome de Gaudete, alegria, e a liturgia da Palavra faz-lhe jus, mormente na primeira leitura.

O Profeta Isaías é, sem dúvida, uma das vozes do Advento. Anuncia o reino de justiça e de paz, de harmonia que está para vir. Diz-nos claramente que a Virgem dará à luz um filho, o qual há de ser chamado Emanuel, Deus connosco, Príncipe da Paz. Para Isaías, o tempo estava muito distante, mas o profeta não se fixa na distância, mas na promessa da Deus, confiando, e, por conseguinte, é como se já estivesse a acontecer. Já se vislumbra, como os raios do sol que despontam no horizonte anunciando o dia a nascer, a chegada do Senhor!

É uma enxurrada de confiança, desafiando à alegria. Toda a criação faz parte desta promessa. “Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus”.

A todos atingirá, todos serão envolvidos. “Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes… Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa”. Mas o motivo maior para o júbilo é que «Ele próprio vem salvar-vos». Então, prossegue Isaías, “se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos”.

No mesmo sentido, o salmo pré-anuncia os tempos que estão para vir: “O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos. O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores. O Senhor reina eternamente. o teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações”.

3 – Mais próximo, João Batista, o Precursor, que, sem o saber, já no seio materno tinha exultado de alegria pela proximidade física, temporal e espiritual a Jesus, e cuja memória intrauterina já se apagara, pode testemunhar a chegada do Messias, sendo a ponte da Antiga para a Nova Aliança.

João Batista é também uma das vozes do Advento. O próprio Jesus fala dele abertamente. «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta. É dele que está escrito: ‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para te preparar o caminho’. Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».

É possível que João Batista, o último dos Profetas, tivesse certezas, contudo, por vezes, é preciso falar um pouco mais alto para que os outros ouçam, se apercebam da voz e se ponham à escuta. «És Tu Aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?».

As suspeitas para a alegria passam a certezas, a promessa efetiva-se e os sinais são visíveis para os que querem ver e ouvir e caminhar: «Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo».

O que em Isaías era uma promessa, que ele vislumbra, em Cristo realiza-se, tornando-se visível. A resposta que os emissários levam a João Batista não é argumentativa, mas realista, factual, transparecendo nas obras realizadas por Jesus.

4 – Como síntese será importante mastigar as palavras do Apóstolo São Tiago, na segunda leitura, que nos desafia a uma espera paciente, vigilante e ativa. A vinda do Senhor está próxima e isso é motivo de alegria. Mas quem espera desespera e pode distrair-se. Ora o Apóstolo faz-nos ver que esta espera é oportunidade para praticarmos o bem, certos que Deus virá.

“Esperai com paciência a vinda do Senhor”. É sugestiva a imagem que São Tiago utiliza: “Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia”. Para quem trabalha no campo, para quem tem vinha e olival, é fácil perceber esta metáfora. Há sempre trabalho a fazer, mas há condicionantes que são imprevisíveis, como a chuva ou a falta dela, o sol em excesso ou escasso.

No que depende de nós, cabe-nos fortalecer o nosso coração e tornar-nos dóceis uns para com os outros. Da parte de Deus, o Seu reino vem em Jesus Cristo, está ebulição, e manifestar-se-á em plenitude no fim dos tempos. “Sede pacientes e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, a fim de não serdes julgados. Tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor”.

A caridade faz-nos solidificar a fé. A fé e a esperança fazem-nos caminhar apesar de todas as contrariedades que possamos encontrar pelo caminho. A alegria é fruto da fé, da certeza que Deus veio, vem e virá para morar em nós, para habitar connosco, para ser o nosso Caminho e a nossa Vida.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 35, 1-6a. 10; Sl 145 (146); Tg 5, 7-10; Mt 11, 2-11.