Domingo III do Advento – ano B – 2023

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Domingo III do Advento – ano B – 2023

1 – No domingo passado, a atitude predominante era ESPERAR, neste terceiro domingo é a ALEGRIA. Ambas as dimensões devem estar presentes na vida dos cristãos constantemente. A espera não é passiva, mas pró-ativa, comprometida com o bem, a verdade, com os outros, procurando nas boas obras antecipar a chegada d’Aquele que vem. Do mesmo modo, a alegria de quem se sente confortado pela presença de Deus na Sua vida, fazendo a experiência de salvação, aguardando a plenitude do encontro com Deus.

O Advento prepara a celebração festiva de Jesus, o Messias de Deus, o Emanuel, Deus connosco. Porém, faz-nos viver, liturgicamente, numa tensão entre o momento presente e o futuro de Deus que vem até nós. Isto vale para o advento, mas vale para a nossa vida toda. Caminhamos até à eternidade, com o olhar fito em Deus, mas sendo “instrumentos” ativos de salvação no mundo de hoje.

Esperamos a manifestação de Deus, em definitivo, no nosso encontro com Ele na eternidade e, ao mesmo tempo, vivemos na certeza que, em Jesus Cristo, a eternidade entrou na história e no tempo. Pela Sua vida, morte e ressurreição, Jesus Cristo salvou-nos, colocou-nos na comunhão com Deus.

Como preparação para o Natal, a tensão é comparável à da mulher que está para ser mãe. Ainda tem um caminho a percorrer, ainda tem etapas para cumprir, experimentará ainda o incómodo, o desconforto, o sacrifício, o sofrimento, mas nada a desvia do que vai acontecer, dar à vida um filho. É uma consolação para as suas dores. Ela antecipa a criança no colo, as brincadeiras futuras, as reações do seu bebé, o seu desenvolvimento, imagina como será, esperando que seja saudável e que as condições para a sua vida sejam favoráveis.

Como Jesus Cristo que em gérmen está em nós, para que O demos à luz, no nosso quotidiano, em palavras e gestos.

2 – A este propósito é muito expressiva a Palavra de Deus.

Isaías convoca todo o povo para a alegria, para a paz, para o júbilo, já está perto o reino de Deus, a chegada do Ungido do Senhor, um tempo de salvação e de graça, de esperança e consolo. Já repousa o Espírito do Senhor sobre Aquele que vai chegar. “O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor”.

Os novos céus e a nova terra que se anunciam são motivo suficiente para a alegria. “Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações”.

A certeza da chegada iminente de Deus envolve-nos a todos no júbilo.

No “salmo responsorial”, por sua vez, o cântico do MAGNIFICAT, de são Lucas, Maria está para ser Mãe e exulta de alegria em Deus, Seu salvador, porque olhou para Ela, serva humilde, e porque através d’Ela Deus continua a operar maravilhas no seu povo, a favor de todas as nações.

Também o Apóstolo são Paulo é categórico na convocação à Igreja: “Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas”.

3 – Note-se, nos vários textos, como a alegria não significa uma satisfação momentânea e passageira, superficial e acessória. Há de ser uma atitude permanente do crente, brota da certeza de que em Cristo fomos/somos salvos. E, importa não esquecer, a alegria vive-se e expressa-se no compromisso com a justiça, com a verdade e com o bem.

Alegramo-nos porque Deus vem e preparamos em nós e no mundo que nos rodeia a Sua chegada, pela oração e pela caridade, ao jeito de João Batista. Ele não é Luz, mas por ele entrevemos a LUZ que está a chegar. Quando nos aproximamos da meta, somos impulsionados, movidos, adquirimos as forças que já estavam a minguar. Ao olharmos em frente, ao olharmos para Deus, experimentamos a alegria desse encontro e como que damos passadas mais firmes, assentes na certeza desse encontro.

Sempre me lembro das palavras da raposa ao Principezinho: “Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, eu, a partir das três, já começo a ser feliz. Quanto mais se aproximar a hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já estarei agitada e inquieta; descobrirei o preço da felicidade!” É esta alegria que hoje evocamos, a alegria de sabermos que o Senhor está a chegar e que nos traz a salvação de Deus. Alegria que nos faz agir, aplanar os caminhos da nossa vida para que o Senhor possa passear-Se entre nós e viver connosco.

Escutemos as palavras do Evangelho: “Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João: «Eu não sou o Messias… Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías… Eu batizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias»”.

Se estamos na escuridão e vislumbramos um fiozinho de luz que seja é o suficiente para nos encaminharmos para a luz, resolutos e felizes. Na voz de João Batista, não cessemos de procurar o Senhor, na alegria de quem já o experimenta presente, procuremo-l’O, Ele está no meio de nós.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 61, 1-2a.10-11; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8.19-28.