Domingo IV da Quaresma – ano B – 2024
1 – «Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, esquecida fique a minha mão direita / Apegue-se-me a língua ao paladar, se não me lembrar de ti, se não fizer de Jerusalém a maior das minhas alegrias».
Neste domingo, a liturgia propõe a alegria do Evangelho da Salvação que é manifesta em Jesus Cristo. Já se vislumbra a Páscoa. A Paixão de Jesus é prova maior do amor de Deus para connosco. Desde sempre. No pensamento de Deus existimos desde o início. Deus pensou-nos e chamou-nos, pelos nossos pais, à vida e quer-nos dar a vida abundante e feliz.
Hoje como ontem, na Igreja como no povo eleito, os tempos são de provação, com dias de sol e dias de chuva. O importante é que de cada situação possamos descobrir e integrar o que nos enlace nos outros, aprender e amadurecer caminhos, aperfeiçoar e corrigir escolhas, discernir o que nos engrandece e nos faz mais humanos, capacitando-nos para enfrentar obstáculos com paciência e misericórdia, iluminando as oportunidades que temos pela frente, fortalecendo o nosso espírito para não nos deixarmos abater nas tempestades nem nos deixarmos endeusar nos momentos de conquista, de vitória e de bonança. A humildade será sempre a força dos que querem avançar e ficar na história como promotores da justiça, da paz e da solidariedade, a alegria daqueles que querem ver os seus nomes inscritos no coração de Deus.
2 – «Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». A linguagem bíblica da primeira leitura fala-nos daquele SÁBADO contínuo em que DEUS Se coloca em atitude de ESPERA paciente e benevolente.
O autor sagrado sublinha a iniciativa de Deus que envia mensageiros para poupar o povo e a sua morada. No entanto, o acolhimento das Suas palavras e dos Profetas surte poucos efeitos. Deus não desiste e continua a preparar o seu povo. Passaram-se 70 anos, isto é, um longo tempo de preparação e de gestação para um tempo novo. «Sobre os rios de Babilónia nos sentámos a chorar, com saudades de Sião. Nos salgueiros das suas margens, dependurámos nossas harpas». O tempo de provação aproxima-se do fim. Quem se sentir povo de Deus deverá agora pôr-se a caminho. Esta é a condição do crente: estar a caminho, em processo de conversão contínua, fazendo-Se acompanhar por Deus.
3 – A história da salvação chega ao seu termo com a chegada de Jesus Cristo. «O Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna». No deserto, tempo de provação do povo de Israel, Moisés levantou uma serpente de bronze. Quem olhasse para a serpente seria salvo. Era uma situação provisória e pontual. O filho do Homem, Jesus, será levantado da terra, e todos os que contemplarem a Sua Cruz, deixando-se trespassar e transformar pelo Seu olhar, serão salvos. É um acontecimento pleno e definitivo.
«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele». Como prometido e anunciado, Deus continua a dar-nos oportunidades, a última das quais nos é dada com Cristo. Deus dá-nos o melhor que tem para nós: o Seu filho muito amado.
E o que é necessário para termos direito à vida eterna? Nada. A vida eterna é-nos dada por Jesus Cristo, com a Sua vida, com a Sua morte e ressurreição. Só precisamos de nos dispor a acolher a Luz que d’Ele vem, a acreditar que Ele é a nossa vida, deixando-nos envolver e comprometer pelo amor que nos traz da eternidade, para que, pouco a pouco, nos possamos identificar com Ele.
A salvação é dom de Deus, como nos diz o apóstolo São Paulo: «Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida com Cristo – é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e com Ele nos fez sentar nos Céus… é pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de Deus».
A condenação é o inverso. É condenado quem não acredita n’Ele, quem ama mais as trevas que a Luz que Deus nos dá por Jesus Cristo. Quem pratica o mal, anda nas trevas. Quem pratica o bem não se esconde da luz que nos envolve.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (ano B): 2 Cr 36, 14-16. 19-23; Sl 136 (137); Ef 2, 4-10; Jo 3, 14-21.