Domingo V da Páscoa – ano B – 2024

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Domingo V da Páscoa – ano B – 2024

1 – «Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer». Aí está a belíssima página do Evangelho que nos recorda a nossa ligação imprescindível a Jesus, sob pena de nos tornarmos ramos secos, incapazes de dar o devido fruto.

É Deus quem opera em nós. «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto». Quando nos faltar a humildade e presunçosamente concluirmos que somos o centro do mundo e que a sua transformação depende de nós, das nossas qualidades e da nossa ação, estaremos a meio passo de destruirmos o bem que Deus planta em nós. Na história há muitos exemplos de homens que se tornaram o centro do mundo, como Hitler, Saddan Hussein, César Augusto…

«Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará». Deus quer precisar de nós. Dá-nos os talentos, não para uso exclusivo e egoísta, mas para que os possamos desenvolver a favor dos outros, a favor de todos, à imagem do que Cristo fez, procurando transparecer, em tudo e sempre, a vontade, o amor de Deus, realizando as Suas obras.

A imagem utilizada por Jesus é por demais significativa. Facilmente conseguimos imaginar e/ou verificar que os ramos cortados da videira acabarão por secar e não mais darão fruto. Se cortados e enxertados na vide hão de por certo produzir, assim como nós, enxertados em Jesus Cristo pelo Batismo, poderemos dar muito fruto, deixando que Deus realize as Suas obras em nós e através de nós. «A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos».

Queremos tornar-nos adultos. A autonomia ou a independência é um sonho e um desejo adolescente. À medida que amadurecemos saberemos compreender a diferença: a independência isola-nos; a autonomia mantém-nos ligados e necessitados uns dos outros. Assim o amadurecimento da nossa fé: não somos marionetas de Deus, mas quanto mais dóceis à voz de Deus, tanto mais seremos plenamente aquilo que somos desde o início: filhos de Deus, discípulos de Jesus Cristo. «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim». A conclusão de são Paulo é um desafio para nós, se queremos que a nossa vida produza fruto abundante.

2 – Paulo percebe que para ser um ramo que dê fruto precisa de estar ligado a Jesus, a verdadeira vide, através da comunidade crente, Cristo vivo e atuante no mundo. Quando chega a Jerusalém procura juntar-se aos discípulos.

Sobrevém, contudo, o medo e a desconfiança. Antes, Saulo/Paulo tinha sido um perseguidor temido por aqueles que se converteram a Jesus Cristo. Após o encontro com Jesus, a caminho de Damasco, Paulo tornar-se-á o Apóstolo por excelência. Porém, aqueles que o conheceram antes ou dele ouviram falar pelos seus feitos persecutórios estão de pé atrás e não confiam numa conversão rápida. O mesmo nos sucede em relação a quem temos alguma razão de queixa. A mudança de uma pessoa leva tempo. Não acontece do pé para a mão e os velhos hábitos podem vir ao de cima. Mas também nós confiamos que Deus é Deus e que pode operar maravilhas.

Barnabé é crucial na mediação com a comunidade. É o padrinho de Paulo, levando-o aos Apóstolos e garantindo-o junto da comunidade, testemunhando a conversão e os frutos que, entretanto, se tornaram visíveis com a sua pregação. São Barnabé é um instrumento de inserção que nos provoca a sermos também nós instrumentos ao serviço do Evangelho, levando outros à comunidade e criando na comunidade as condições para acolher (bem) aqueles que chegam e/ou que voltam.

Paulo é introduzido na comunidade de Jerusalém e ali permanece pregando com firmeza o nome de Jesus. De qualquer forma, algumas resistências permanecem: «Conversava e discutia também com os helenistas, mas estes procuravam dar-lhe a morte». Mais uma vez a importância da comunidade como um todo, como um Corpo. Levam Paulo para Cesareia e dali para Tarso, poupando-o e fazendo que o centro não seja a discussão, mas o anúncio do Evangelho.

A leitura que hoje nos é proposta termina com uma informação importante: “A Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e vivendo no temor do Senhor e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo”. Sublinha-se a paz em que vive a Igreja, cujos membros vivem na fidelidade ao Senhor e sob a assistência do Espírito Santo. Podemos com facilidade ver aqui a imagem da Videira e dos ramos, que dão frutos quando ligados à cepa.

3 – O ponto de partida e de chegada, o ambiente e a rede da nossa identidade cristã é a fé. Não a minha fé, mas a fé de Cristo, a fé da Igreja, ou, a minha fé em diálogo de amadurecimento e inclusão na fé da comunidade que segue Cristo.

A fé, para que não seja um propósito vão, é acompanhada, concretizável e traduzível pelas obras. As intenções, boas, também contam, sobretudo se se prossegue em realizar o que se professa. Voltemos à imagem da árvore e dos frutos. Estes testam a qualidade da árvore. Como saber que estamos ligados, pela fé, à verdadeira vide? Se os nossos frutos, se a nossa vida, nos predispõe a construir com os outros a família de Deus.

Diz-nos o apóstolo são João, na segunda leitura retirada da sua primeira carta: «Meus filhos, não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade. Deste modo saberemos que somos da verdade e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus… É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele».

Novamente a evidência e a necessidade de permanecermos em Deus, como ramos ligados à verdadeira videira que é Jesus. Sintonizados com o mistério eucarístico rezemos confiantes: “Senhor nosso Deus, que, pela admirável permuta de dons neste sacrifício, nos fazeis participar na comunhão convosco, único e sumo bem, concedei-nos que, conhecendo a vossa verdade, demos testemunho dela na prática das boas obras” (oração sobre as oblatas).

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 9, 26-31; Sl 21 (22); 1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8.