Domingo VI da Páscoa – ano A – 2023

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Domingo VI da Páscoa – ano A – 2023

– Dizes que gostas de mim e fazes o que eu te digo?

– Sim, mas eu procuro escutar-te com atenção e fazer tudo o que me pedes, mas por vezes dá-me a preguiça, outras vezes esqueço-me, outras vezes procuro fazer o que acho que te vai fazer feliz.

– Mas se realmente me amas, faz o que te peço! Não peço mais nada. Agora, dizes que és meu amigo, mas parece que fazes as coisas para me arreliar, fazes o contrário do que te peço para fazer.

– Olha que não. Quando isso acontece não é por mal. Eu gosto muito de ti. Tu és a minha vida, a minha a alegria, o brilho dos meus olhos, o palpitar do meu coração. Deves compreender, nem sempre é fácil fazer o que me pedes. Como te disse umas vezes por preguiça outras por esquecimento e outras porque nem sei se o que me pedes é o queres mesmo!

– Caramba. Não é preciso explicar tim-tim por tim-tim. Há tanto tempo que me conheces como podes desconhecer o que eu quero? Nem preciso de to explicar, basta que prestes atenção. É o mínimo que te posso pedir…

1 – «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos… . Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele».

Jesus vai partir. Antes da partida, o Seu testamento. Amar, servir, dar a vida, permanecer. Ele não nos deixará órfãos. Permanecerá connosco, se permanecermos n’Ele. Vai partir, vai ser morto, mas ao terceiro dia ressuscitará. Irá para a Casa do Pai, para onde nos levará também. Vai preparar-nos um lugar, pois na Casa do Pai há muitas moradas. Precede-nos no tempo, preceder-nos-á na eternidade. Mas enquanto não vamos para a casa paterna, enquanto caminhamos como peregrinos, como discípulos missionários, temos em nós o Espírito Santo Paráclito que o Pai nos envia em nome de Jesus. Ele estará connosco até ao fim dos tempos.

O que há de mais importante na vida não se vê. A inteligência, os afetos, o amor, o que nos liga aos outros. É algo de intangível. Sabemos que amamos e somos amados, mas não vemos e, na maioria das vezes, não conseguimos explicar porquê, por que amamos esta pessoa e odiamos aqueloutra, por que alguém nos ama e aqueloutra nos odeia.

O Espírito que o Pai nos dá, através de Jesus Cristo, é Espírito de verdade. O mundo não O conhece, nem O vê. Mas nós, discípulos do Senhor, já O conhecemos. Como? Porquê? Porque Ele nos habita. Voltamos à dinâmica do amor: podemos não saber explicar, mas sabemos que esta pessoa nos ama, sabemos que amamos aquela pessoa!

Por outro lado, a separação física de alguém não implica de todo o fim da ligação! Também o sabemos por experiência. Quando alguém se ausenta para trabalhar, quando os filhos vão para a universidade, quando o pai vai para o outro lado do mundo, a ligação acentua-se e a necessidade de comunicar é mais premente, utilizando-se hoje as redes sociais que permitem um contacto diário, pela voz e pela imagem. Jesus não Se serve das tecnologias de comunicação, mas do Espírito Santo. Jesus permanecerá e ve-l’O-emos, porque Ele vive, pois estando no Pai está com todo aquele que O acolher, pelo Espírito Santo.

2 – A pessoa não é divisível. É corpo, alma e espírito. Dizemos que a pessoa é mais do que aquilo que come ou que veste, é mais do que aquilo que diz ou que faz. Por certo. Mas o que veste e sobretudo o que diz e o que faz revelam o seu carácter e, por maioria de razão, se o que diz e o que faz são uma constante. Claro que não podemos julgar a pessoa por uma palavra ou por um gesto, pois a pessoa está (sempre) a crescer, a amadurecer, a progredir, a peregrinar. Vai limando as imperfeições, procurando superar as limitações, com a consciência que pode falhar, mas com a coragem de prosseguir, porque só dessa forma realiza a vida.

A consistência da vida Jesus visualiza-se e concretiza-se no Seu dizer e no Seu fazer. O que diz e o que faz revelam-n’O como pessoa dócil e bondosa, preocupada com todos, empenhada em curar os que andam abatidos pelo cansaço, pela doença e pelo pecado. Há, como víamos na semana passada, continuidade entre o Filho e o Pai. Jesus, em tudo e em todos os momentos, procura transparecer, mostrar e realizar a vontade do Pai. Os discípulos devem agir da mesma forma. A ligação é possível pelo cumprimento dos mandamentos, pela vivência das obras da misericórdia. Se fizerdes o que vos mando, permanecereis em Mim e Eu em vós, como Eu permaneço no Pai e o Pai em Mim. É também esse o melhor testemunho. As palavras que proferimos, as obras que realizamos, confirmam se amamos ou não amamos Jesus. Ainda que falhemos. Não podemos, contudo, dizer que amamos e nem nos preocupamos em sintonizar com a Sua santíssima vontade.

3 – Jesus morreu e ressuscitou. Ele vive e está no meio de nós, está connosco. Continua a agir na história, de um modo novo, através do Espírito Santo e com a nossa cooperação. Os discípulos completam a sua identidade ao tornarem-se também missionários, transparecendo a presença de Jesus.

A primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, continua a mostrar-nos como os discípulos da primeira hora e as primeiras comunidades acolhem e vivem Jesus e como O dão aos outros. Filipe, um dos Doze, em terras da Samaria, prega a Palavra de Deus e realiza prodígios em nome de Jesus Cristo. «De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve muita alegria naquela cidade». As palavras de Filipe são sancionadas pelos milagres que Deus continua a operar através dele, como Jesus lhes tinha prometido, «fareis obras maiores do que estas».

4 – Nem o Evangelho nem a Fé são de uso privado, como se cada um a seu gosto fizesse o que lhe dá na real gana, isso não é fé, é fanatismo, mesmo que com muita tolerância. A Fé não é minha, não é tua, não é nossa, é dom de Deus que nos desafia, nos envia, nos congrega. A fé faz-nos pertença. É como o amor, não amamos para nos isolarmos e escondermos, amamos para nos darmos. Ou, dito de outra forma, o amor impele-nos para aqueles que amamos. A fé no Pai compromete-nos com os irmãos, com todos os Seus filhos. Pedro e João são enviados pela comunidade de Jerusalém para confirmarem na fé os samaritanos que aderiram ao Evangelho. “Quando chegaram lá, rezaram pelos samaritanos, para que recebessem o Espírito Santo, que ainda não tinha descido sobre eles: só estavam batizados em nome do Senhor Jesus. Então impunham-lhes as mãos e eles recebiam o Espírito Santo”.

É visível a sacramentalidade da Igreja, dispensadora dos bens de Deus. Filipe pregou. Os que acreditaram foram batizados e, depois, Pedro e João, confirmam/crismam, rezando e impondo-lhes as mãos, para que recebam o Espírito Santo.

5 – São Pedro serve-nos a sua epístola e recorda-nos como Jesus, o Justo, dá a vida por nós, os pecadores, para nos conduzir a Deus. Por conseguinte, como discípulos, devemos proceder do mesmo modo, dando testemunho d’Ele em toda a parte e em todas as situações, com brandura e respeito, dando razões da nossa esperança.

Sabendo as provações a que estamos sujeitos, o Apóstolo anima-nos a não vacilar, a manter-nos fiéis à vontade Deus. Mesmo padecendo, mais vale fazer o bem que o mal.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Atos 8, 5-8. 14-17; Sl 65 (66); 1 Pedro 3, 15-18; Jo 14, 15-21.

(reposição)