Domingo XVI do Tempo Comum – B – 18 de julho de 2021

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Domingo XVI do Tempo Comum – B – 18 de julho de 2021

1 – Na primeira vez que Madre Teresa de Calcutá foi ao Vaticano ficou admirada com a pobreza espiritual dos ocidentais. Em Calcutá, a pobreza material; em Roma, a pobreza de sentido, o vazio espiritual. Na Índia, a necessidade de alimentar os corpos e tratar-lhes das feridas; no Ocidente, a urgência de dar sentido à vida, de preencher anseios e responder a angústias.

O fio condutor da vida de Jesus é o anúncio do Reino de Deus, que passa pela pregação, pela proximidade e acolhimento aos mais humildes, aos últimos, e pelos prodígios realizados, provocando ou amadurecendo a fé, sinalizando a vontade de Deus. A devolução da dignidade, da saúde e da vida e a inclusão social mostram-nos que não há impedimentos ao amor de Deus por nós, que nos quer protegidos pelo Seu olhar misericordioso.

Neste Domingo vê-se, com clarividência, a urgência da pregação de Jesus, mas igualmente a Sua sensibilidade para com os discípulos como para com as multidões. Conforme as situações e os momentos, assim o agir de Jesus. Ele é o Bom Pastor que cuida, protege e alimenta o rebanho, ou o conduz às melhores pastagens e a águas refrescantes.

“O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança!”

Sob o cajado de Deus, caminhamos em segurança, apesar dos perigos que espreitam lá.

2 – Os discípulos aprendem com o Mestre dos Mestres. Também eles são portadores do Evangelho. Ainda lhes falta percorrer um longo caminho, mas Jesus puxa por eles. Envia-os para que anunciem o Reino de Deus, curem os doentes, expulsem demónios, comuniquem a paz, interpelem pessoas, famílias e povoações. É tempo de pregar e de convidar à escuta. É tempo de anunciar a chegada do Messias de Deus e desafiar à conversão.

A primazia do ensino não descura a atenção às necessidades básicas das pessoas. Hoje vemos que a primeira preocupação de Jesus, ao receber os discípulos no regresso da missão, é que eles se alimentem e descansem, que bem precisam! «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». Eles contam o que fizeram e ensinaram, Jesus vê além do entusiamos, vê a fadiga deles. Não há um espírito fora do corpo. Há pessoas que têm necessidade de alimentar a alma e o corpo.

Mas logo volta a multidão sedenta da Palavra, de sentido, de vida nova. O descanso é necessário, para retemperar forças e regular o organismo, contudo, as pessoas buscam Jesus e acercam-se d’Ele para O escutar. Havia sempre muitas pessoas a chegar e a partir, o que dificultava até mesmo uma simples refeição. Jesus parte com os discípulos, de barco, para um lugar isolado, mas logo a multidão, a pé, se desloca para o mesmo sítio. “Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”.

A dimensão do ensino, do anúncio do Reino volta a ocupar um lugar central e imprescindível, e inadiável.

3 – Na primeira leitura, através do Profeta Isaías, Deus faz saber que irá Ele mesmo ocupar-se do Seu povo, em contraponto com os pastores que perdem e dispersam as ovelhas do rebanho. A imagem do Bom Pastor, que se concretiza em Jesus, é visível em diversas páginas do Antigo Testamento, para vincar a proximidade, a atenção e a escuta de Deus aos clamores do Seu povo. A garantia e a promessa estão sublinhadas, Deus não abandona o Seu povo, não Se vingará, melhor, a única vingança será o amor, a docilidade, a misericórdia.

Àqueles que dispersaram as ovelhas e as escorraçaram, o Senhor pedirá contas. Pedir-nos-á contas também a nós, a mim e a ti, se, em vez de congregarmos, dispersamos; se em vez de sermos ponte, formos muro e divisão; se em vez de paz e harmonia, semearmos ódio e conflito; se em vez de colocarmos os nossos talentos ao serviço dos outros, nos servimos deles em proveito próprio; se em vez da generosidade, promovermos o egoísmo. Somos responsáveis uns pelos outros. Não mais Caim! Somos de Cristo, e com Cristo irmãos uns dos outros.

Diante da fuga, da traição e do desmazelo, Deus fará surgir um rebento de Jessé, um descendente de David, que será verdadeiramente Pastor, descentrado de si e centrado nas ovelhas do rebanho. “Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria; há de exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança”. Na verdade, o seu nome será: “O Senhor é a nossa justiça”.

Jesus é o rebento que floresce no meio do povo e lhe traz, nos traz, justiça, paz e amor!

4 – Na segunda leitura, o Apóstolo São Paulo expressa bem a convicção dos seguidores de Jesus Cristo. Jesus cumpre a promessa de Deus visível em Isaías. Na verdade, diz-nos São Paulo, “foi em Cristo Jesus que vós, outrora longe de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de facto, a nossa paz”.

Ele traz a segurança e a paz, a justiça e uma pátria definitiva, mostrando que nem o tempo, nem a espada, nem a morte, têm poder algum sobre a vida dada, oferecida, ressuscitada, eternizável. N’Ele se mostra que o amor é mais forte do que a morte e que o sonho de Deus não tem limites na limitação da morte biológica nem na finitude humana e histórica.

Por outro lado, não precisamos de esperar pelo dia seguinte, é hoje, aqui e agora, eu e tu, uns e outros, que podemos e devemos construir um mundo novo, feito de paz e de ternura, onde sejamos casa uns dos outros, porque Ele Se faz casa, Se faz um de nós, connosco caminha, a nós nos faz irmãos, connosco projeta a eternidade. Caminho, verdade e vida. Os sinais estão aí. Ele veio, vem e virá. “Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava… de uns e outros, Ele fez em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz reconciliou com Deus uns e outros, reunidos num só Corpo, levando em Si próprio a morte à inimizade. Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito”.

5 – Eu sem ti, e tu sem mim, uns sem os outros, somos pouco, somos pontos minúsculos perdidos no Universo, sem princípio nem fim, sem origem e sem destino, sem chão e sem céu, sem ponto de partida nem ponto onde chegar, sem raízes e sem ramos, sem sonhos nem projetos. Somos pouco. Somos pouco mais que pó que à terra há de voltar. Inevitavelmente. Somos nada. Insignificantes!

Eu sem ti, e tu sem mim, e nós sem Deus, ficaremos prisioneiros do tempo e da história e de todos os vazios que escondem a vida e a alegria, e nos impedem de partir e de chegar, pois não temos como partir, não sabemos onde chegar, não sabemos o apoio que está antes, não vislumbramos chão pelo qual possamos caminhar, nem nada que tenha uma durabilidade tal que valha a pena caminhar, prosseguir e lutar quando as adversidades se nos colocarem. Sem Deus pouco valemos. Somos nada. Caminhamos para a morte!

Por estas razões, e por todas as outras, rezemos a Deus confiando os nossos anseios e deixando-nos desafiar pela Sua vontade, procurando realizar, no tempo, os mandamentos que nos aproximam uns dos outros, tornando-O visível em todo o bem a partilhar. “Sede propício, Senhor, aos vossos servos e multiplicai neles os dons da vossa graça, para que, fervorosos na fé, esperança e caridade, perseverem na fiel observância dos vossos mandamentos”. Com Deus, o nada transforma-se em vida nova e durável!

Não queiras ser o que não és, pois mais à frente ficarás sozinho e morrerás. Sê, torna-te o que és, filho amado de Deus, e descobre quantos irmãos tens à tua volta que, embora te possam aborrecer, te ajudarão, ajudar-vos-eis, a caminhar e a chegar ao coração de Deus, até à eternidade. Em Deus não há impossíveis, nem para mim nem para ti; com Ele podemos chegar ao Infinito, pois sempre e para sempre Ele nos garante.

Pe. Manuel Gonçalves


Leituras para a Eucaristia: Jer 23, 1-6; Sl 22 (23); Ef 2, 13-18; Mc 6, 30-34.