Solenidade da Epifania do Senhor – 5 de janeiro de 2020

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Solenidade da Epifania do Senhor – 5 de janeiro de 2020

1 – Vocação, decisão e caminho. Escuta e atenção. Busca, abertura e comunhão. Encontro, alegria e despojamento. Divindade, realeza e humanidade (fragilidade e finitude). E fazer-se presente, além dos presentes como expressão de amizade, de gratidão e de louvor). Adoração, conversão e testemunho.

Nestas expressões somos desafiados a deixar-nos envolver pela visitação e adoração dos Magos. O episódio que nos é narrado por Mateus é paradigmático para a nossa vida como cristãos, chamados e enviados em missão, discípulos missionários. O encontro com Jesus, se for autêntico, há de provocar uma felicidade tal que transbordará em testemunho.

Deus toma a dianteira. Chama-nos. Vem ao nosso encontro, à nossa vida, aos nossos caminhos e preocupações. Os Magos dizem-nos também que a salvação é destinada a todos. Eles vêm do Oriente, isto é, dos confins da terra, do mundo inteiro. Se no Natal o encontro é com a pobreza e simplicidade, com os pastores, num ambiente mais familiar, neste dia os pobres são outros, os sábios, famintos de sabedoria e de ciência, procurando o sublime, o extraordinário, numa palavra, em busca do divino, do definitivo, daquilo, melhor, d’Aquele que não pode enganar, que não é passageiro, que não é ilusão (nem devocional nem científica), e “divulgá-l’O” como acontecimento inaudito ao mundo inteiro.

Os Magos veem a estrela, sentem o apelo do Céu e põem-se a caminho. Não um, talvez nem dois, talvez três, talvez uma dúzia de sábios, astrónomos-magos… caminham juntos, com o mesmo propósito de encontrar Aquele que a estrela anuncia.

2 – O caminho, o deles como o nosso, tem os seus riscos, momentos de treva, de dúvida e de hesitação. Caminharem juntos ajuda. Em caminho e comunhão. Em Igreja e na vida! Em Lamego e no Oriente, em Penude e a caminho de Belém!

Se é um rei que a estrela anuncia, há que procurá-lo no palácio real. É nos palácios que estão os Reis! Mas logo os Magos verificam que aquele rei, Herodes, não possui a luz que viram na estrela, é demasiado velho no porte e na atitude, na sobranceria e na altivez, no distanciamento e no cinismo. Não, não pode ser assim um rei que ilumina a terra inteira com a sua luz! Ali veem apenas uma ténue e desfocada imagem do que deve ser um rei que serve, salva, que dá vida em abundância. Demasiado adornado para se preocupar com os outros!

Perceber-se-á que o interesse de Herodes pelo Menino tem o fito (apenas) de O destruir para eliminar possíveis adversários! Herodes não vê a luz que Aquele Menino vem trazer à humanidade! Nem a paz nem a alegria que poderá suscitar!

Os Magos saem da confusão da cidade, do ruído e das distrações, das pressas em que cada um mergulha, ocupando-se (apenas) das suas coisas e dos seus interesses, sem olhar para o brilho da estrela e para o brilho que há nos olhos dos irmãos.

Ao saírem da cidade, reencontram-se, reencontram a Estrela que os conduz a Jesus, o verdadeiro, o único Rei dos judeus, o meu e o teu Rei, Aquele que mostrará que a realeza não se reveste de adornos e de poder, mas de despojamento, de pobreza e de amor. Nada nos separa de tão grande amor. Nada nos distrai do Seu olhar!

3 – “A estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino”. Não basta ver, é necessário caminhar. A estrela guia-nos se nos deixarmos guiar pela sua luz. É uma luz que faz ver o caminho, mas ainda não é a Luz que dá sentido à vida, que ilumina a partir do interior.

A ansiedade dá lugar à alegria! Agora sim, estão diante do Rei dos Reis: um Menino! Quase que me apetecia a relembrar uma série de desenhos animados, Naruto, em que o Rei, a servir e a proteger, são as crianças. Aquele Menino não é de papel, não é desenho animado, é bem real, é bênção e luz, é paz e amor, é inocência que desafia a cuidar, a amar e a embalar. Um Menino, com a Maria, Sua Mãe.

Aquele Menino não assusta. Dois anos. É ainda uma criancinha! Diante de Herodes, a distância; diante do Menino a proximidade, não há etiquetas que afastem, nem protocolos a cumprir. Este Menino irradia Luz, Paz e Bênção que só pode vir das alturas. Prostram-se, em adoração! E, já o sabemos, adorar só a Deus. É o primeiro dos mandamentos: adorar a Deus e amá-l’O acima e antes de tudo e de todos! Os sábios vindos do Oriente testemunham, com a prostração, com a adoração, que Aquele Menino, anunciado pela estrela, e pelas profecias, é verdadeiramente Deus connosco.

4 – “Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor”. A noite que cobria a terra, dá lugar à luz. Não é uma luz provisória, passageira, mas a luz que vem de Deus, da eternidade. “Sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora… os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor”.

Toda a cidade há de rejubilar com a presença de Deus, com a vinda do Senhor. Toda a cidade e o mundo inteiro. Eu e tu vamos também! Acompanhemos os Magos, deixemos que a luz da estrela nos guie, para nos encontrarmos com a Luz verdadeira, Dia sem ocaso.

5 – O maior dos presentes é cada um de nós, eu e tu! O melhor presente que podemos receber é a presença e a amizade do outro, a sua proximidade e os seus gestos de afeição. Os Magos oferecem o melhor, os seus tesouros, a sua vida e o reconhecimento: este Menino é verdadeiramente Deus, Rei e Homem, “abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra”.

Os presentes valem pelo que significam: a consideração pela pessoa que se presenteia! A prenda reconhece o mérito, o esforço ou o trabalho realizado. Dá-se uma prenda ao filho porque tirou boas notas. É uma recompensa. O presente foca-se no carinho, na atenção, no reconhecimento do outro como pessoa, é símbolo da nossa presença, reconhecimento, prova de amor.

Os Magos reconhecem Aquele Menino como Deus (ouro), como Rei (incenso), como Homem (mirra). Vieram de longe, estão rendidos, prostrados, em adoração.

6 – Aqueles que se encontram com Jesus e se deixam encontrar por Ele, regressam, sempre, por outro caminho. Não necessariamente por outro lugar, mas outro caminho, guiados pela Luz de Jesus. Já não uma luz exterior, mas dentro, a encher o coração.

Por um lado, os Magos dão-se conta da maquinação de Herodes e, avisados em sonho, “regressaram à sua terra por outro caminho”. Por outro, o encontro com o Menino transforma-os para sempre, encontraram o Definitivo e isso fará com que a busca seja iluminada por este encontro.

7 – A promessa cumpriu-se, a profecia tornou-se concreta e real, a eternidade apequenou-se para caber no tempo e na história. “O mistério de Cristo! Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho”.

Deus, em Jesus Cristo, vem para todos, para judeus e gentios, para os chineses, os brasileiros, os irlandeses e para os portugueses. E já que O conhecemos pela fé, não O afastemos na vida, não nos tornemos estranhos ao Seu amor e à Sua bondade. Se Ele se fez tempo, partilhemos da Sua vida divina, iniciando o caminho da eternidade. “Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o vosso Filho Unigénito aos gentios guiados por uma estrela, a nós que já Vos conhecemos pela fé levai-nos a contemplar face a face a vossa glória”.

O que seremos, já começámos a ser pelo Batismo, ressuscitados em Cristo como novas criaturas!

Pe. Manuel Gonçalves

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Textos para a Eucaristia (ano A)Is 60, 1-6; Sl 71 (72); Ef 3, 2-3a. 5-6; Mt 2, 1-12