Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

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Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

1 – Celebramos, no 34.º Domingo do Tempo Comum, a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo como Rei do Universo, coroando, desta forma, o ano litúrgico: tudo se inicia em Deus e em Deus tudo termina. A Sua Realeza visualiza-se no presépio e na cruz, como fragilidade, proximidade, dependência, sujeição aos outros, finitude, humanidade.

Temos um REI cujo poder está no amor, na compaixão, no perdão, na entrega. Quem diria que o nosso Rei nasceu num estábulo e morreu numa cruz? Como é possível um Rei assim?

Um Rei que se confunde com o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas, não Se poupando a esforços para que todas as ovelhas possam alimentar-se em verdes pastagens e descansar seguras no aprisco: «Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei de encontrá-las. Como o pastor vigia o seu rebanho, quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas, assim Eu guardarei as minhas ovelhas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Eu apascentarei as minhas ovelhas, Eu as levarei a repousar, diz o Senhor Deus. Hei de procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa. Hei de apascentá-las com justiça».

É, além disso, um reinado que não se esgota no presente, ainda que seja no presente, aqui e agora, que experimentamos o amor de Deus e sejamos chamados a concretizar o Seu Reino de amor e de paz, de justiça e de bem. Como nos lembra são Paulo, na segunda leitura, se a morte veio por meio de um homem, também por meio de um homem – Jesus Cristo – nos vem a salvação. Ele ressuscitou e nós seguir-Lhe-emos no encalço contando que procuremos “gastar” a vida como Ele. Com efeito, na passagem deste mundo para a eternidade de Deus, o crivo é o amor que desenvolvemos a favor dos outros.

2 – O Evangelho de São Mateus, que nos acompanhou no ciclo de leituras do Ano A, remete-nos hoje para o momento em que a nossa vida estará em definitivo nas mãos de Deus. Na primeira leitura, o profeta Ezequiel previne-nos: «quanto a vós, meu rebanho, assim fala o Senhor Deus: Hei de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e cabritos». A justiça de Deus, iniciada neste mundo, terá a plena desenvoltura na eternidade.

«Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda».

Se temos a pretensão de pensar que a vida nos pertence, e em certo sentido é verdade, na medida em que somos responsáveis pelos nossos atos e uns pelos outros, agora, colocados diante de Deus, ficamos a saber que a vida Lhe pertence por inteiro. Ele confiou-nos o mundo, confiou-nos os nossos irmãos, para cuidarmos, protegermos, amarmos.

A justiça de Deus é, antes de mais, a evidência da nossa própria justiça em relação aos outros. Com efeito, Jesus veio para salvar e não para condenar o mundo. A salvação consiste em acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e agir em conformidade, amando a Deus no amor e no serviço aos irmãos. Aqui está resumida toda a Lei, os Profetas, os Mandamentos. E em que consiste a condenação? Em não acolher, não acreditar, não viver a Palavra de Deus, que para nós tem um rosto, um Corpo, uma Vida, Jesus de Nazaré. Somos nós que traçamos a nossa história. Deus entrega-nos os talentos para que os façamos render.

3 – Diz-nos Jesus que nem um copo de água dado em Seu nome ficará sem recompensa. Então o Juízo definitivo está nas nossas mãos, reafirmando o conhecido ditado popular: quem vai para mar prepara-se em terra. Deus julgar-nos-á na abundância da Sua misericórdia, do Seu Amor de Pai.

Quando alguém vai à presença de um Juiz, prepara a sua defesa, leva um advogado e procura mostrar provas daquilo que se propõe demonstrar. Também nós temos um advogado, o próprio Jesus Cristo, através do Seu Espírito de Amor. Como comprovar o nosso amor a Deus?

Jesus é clarividente e taxativo. «Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me».

Na homilia, durante a celebração da Eucaristia, com a administração do Crisma, a 11 jovens da nossa comunidade paroquial, me tarde de sábado, 25 de novembro (2023), o nosso Bispo sublinhava que a vida de Jesus é um constante sim à humanidade, a cada um de nós. Também nós devemos corresponder a esse “sim” com o “sim” aos irmãos. Quem diz “não” a Jesus, diz não aos irmãos. «Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar».

Seremos julgados pelo bem que fizemos ao nosso semelhante. Nessa hora não vai importar se fomos muito importantes, tivemos cargos de relevo, se amealhamos fortunas e títulos. Importará, sim, o bem que fizemos aos outros.

Justos e ímpios perguntarão como e quando cumpriram ou deixaram de cumprir. E Jesus responde-lhes através das palavras do Rei: «Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes… Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer».

4 – O encontro com o Deus da Vida e do Amor não deve gerar temor, antes a vontade de sermos acolhidos na Sua glória. São Paulo, numa das suas cartas, manifesta o desejo ardente de quanto antes se encontrar com Jesus na eternidade de Deus, ainda que reconheça a utilidade presente para os irmãos e para as comunidades no anúncio do Evangelho. Quantos santos, quantos mártires, nos mostraram a mesma vontade firme de ascenderem rapidamente para Deus!

Para nós, simples mortais, chamados à santidade, o que nos deve ocupar e preocupar é viver bem, aqui e agora, não deixando para os outros ou para amanhã todo o bem que podemos dizer e fazer hoje. Quanto mais sentirmos o apelo de Deus, mais nos sentiremos impelidos para os irmãos, nos quais Deus Se esconde (e Se revela) e nos quais Se deixa descobrir e encontrar.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Ez 34, 11-12. 15-17; Sl 22 (23); 1 Cor 15, 20-26. 28; Mt 25, 31-46.