Festa de São Vicente Ferrer – 600 anos do seu falecimento

São Vicente Ferrer (Valência, Espanha, 23 de janeiro de 1350 – Vannes, Bretanha, 5 de abril de 1419) foi um pregador de multidões, em alguns casos, multidões com cerca de 15 mil ouvintes!
Em Tolosa, Espanha, dizia quem o ouvia: “Até aqui podíamos dizer que não tínhamos quem nos ensinasse bem o que somos obrigados a fazer. Agora já não podemos dizer isso”.
Com uma oratória brilhante e cheia de fogo, palavras carregadas de amor de Deus, os seus sermões não só atraíam multidões, mas obtinham incontáveis conversões. Os historiadores afirmam que foram 25.000 judeus e 8.000 maometanos que ele converteu com o seu exemplo e palavras.
Na imagem da Capela de São Vicente Ferrer de Tabuaço, belíssima por sinal, São Vicente tem a seus pés uma mulher.
Consta-se que, no ano de 1407, em Domingo de Ramos, enquanto pregava numa igreja de Ecija, em Espanha, uma mulher judia, cheia de riquezas e poder, ia assistir os sermões de São Vicente por mera curiosidade. Ela fazia questão de manifestar sarcasmos e desprezo pelas palavras de São Vicente Ferrer. Por fim, ela atravessou no meio do povo para ir embora. Estava claramente cheia de raiva e não se continha, mas o povo indignado com a atitude não a queria deixar passar, então o Santo disse-lhes: “Deixai-a sair, porém, afastai-vos do pórtico”… Quando ia a passar debaixo do pórtico, este desmoronou em cima dela e matou-a. São Vicente, em alto e bom som, ordenou: “Mulher, em nome de Cristo, volta à vida!” A mulher ressuscitou! Depois disso, a senhora converteu-se ao cristianismo. Todos os anos, em Ecija, uma procissão comemora o extraordinário facto da morte, ressurreição e conversão da mulher judia.
São Vicente foi canonizado pelo Papa Calisto III, em 1455.
A vila de Tabuaço nasceu e cresceu em volta da Capela de São Vicente, onde inicialmente existia erigida uma ermida em sua honra, e venera-o ano após ano, desde o séc. XV ou XVI, com a celebração da Santa Missa nessa mesma Capela.
Este ano, 600 anos após a sua morte, a população quis honrar o seu Santo com uma celebração jubilar presidida pelo nosso Bispo D. António Couto.
A festa começou com a Procissão da Capela até à Igreja Matriz, onde foi celebrada a Santa Missa, com a presença da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Tabuaço.
D. António centrou a sua homília no ‘maná’, descrito no Livro de Josué. Nesta passagem bíblica, trata-se de um alimento produzido, milagrosamente, e fornecido por Deus ao povo liderado por Moisés durante a travessia no deserto. O “maná” da tamargueira é encontrado no Sinai e a sua composição é glicose.
O nosso Bispo descreveu a palavra de Deus como sendo essa glicose, esse alimento essencial, imprescindível e básico à nossa vida. Fazendo o paralelismo com as pregações de São Vicente também as suas palavras tinham essa glicose, que alimentava e tornava as multidões dependentes e necessitadas da sua palavra, da Palavra de Deus Nosso Senhor.
Para finalizar a parte religiosa da festividade, estava prevista a Procissão de regresso à Capela onde iria continuar a festa da população, mas São Pedro agraciou-nos com a chuva há tanto tempo desejada para a agricultura.

Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 89/19, n.º 4505, 9 de abril de 2019